16 de junho de 2007

DA SÉRIE CONFISSÕES INCONFESSÁVEIS : O DIA EM QUE PEDI AUTÓGRAFO A UM ASSASSINO CÉLEBRE


Depois de negociações via fax com a direção do presídio de segurança máxima, consigo uma entrevista com um dos assassinos mais célebres da história dos Estados Unidos – o homem que matou o pastor Martin Luther King. Chama-se James Earl Ray.




Cumpria pena de prisão perpétua numa penitenciária em Memphis, Tennessee. Uma pequena odisséia precede o encontro. Somos obrigados a fazer uma lista minuciosa de todo o equipamento que estamos conduzindo (fios, microfones, baterias). O guarda nos ordena que deixemos numa caixa todas as cédulas, moedas e talões de cheque que tivermos nos bolsos. O dinheiro é trancafiado num cofre. Vai ser devolvido na saída. Motivo: evitar que se faça qualquer pagamento ao prisioneiro em troca da entrevista.





Depois, passamos por pelo menos cinco portões que isolam os detentos do resto do mundo. O próximo portão só se abre quando o anterior se fecha. Cercas eletrificadas completam o aparato. Penso comigo: é tecnicamente impossível escapar desse inferno.




James Earl Ray chega para a entrevista mascando chicletes. Os olhos azulíssimos são espertos. O homem é articulado: fala bem, concatena com clareza suas idéias.




Faço a pergunta que ele com certeza ouve há anos: você matou Martin Luther King? A resposta é sucinta: “Não”. Mas as provas são conclusivas: as impressões de James Earl Ray estavam no rifle usado para matar King em abril de 1968, na varanda de um hotel de Memphis.




Martin Luther King tinha um sonho: acabar com o preconceito racial. James Earl Ray tinha um rifle.




Termina a entrevista. Vacilo intimamente: devo ou não pedir um autógrafo ao assassino no livro que ele escreveu sobre o crime? Confesso que minha porção fútil venceu. Peço que ele autografe o exemplar. James Earl Ray me deseja, por escrito, “os melhores votos”. Ano: 1993.




Resisto, desde então, a vender o livro num desses leilões exóticos que povoam a Internet.




James Earl Ray morreu de câncer no fígado. O livro autografado permanece em meus arquivos implacáveis.