17 de outubro de 2007

POR QUE OS JORNAIS ESTÃO CAVANDO PACIENTEMENTE A PRÓPRIA SEPULTURA....

A seleção brasileira deu uma goleada no Equador. Noventa e oito vírgula cinco por cento dos leitores dos jornais impressos já sabem do resultado.

Se, amanhã pela manhã, os jornais trouxerem como destaque principal do título de esportes da primeira página a "informação" de que o Brasil ganhou de 5 a 0 do Equador, estará explicado - de novo! - por que a imprensa resolveu, "por livre e espontânea vontade", cavar a própria sepultura.

Faça-se o teste. É só passar o olhos nas primeiras páginas que daqui a algumas horas estarão colorindo as bancas.

Uma pergunta ficará flutuando no ar: Deus do céu, por que será que a esmagadora maioria dos jornais trata o leitor como se ele fosse um extra-terrestre surdo,mudo e cego -que acabou de desembarcar de um planeta remoto?

Não ocorre a nenhum editor a idéia de que noventa e oito vírgula cento dos leitores já obtiveram a primeira informação sobre o resultado do jogo pela TV, pelo rádio, pela miríade de sites ? Por que repetir nos títulos uma informação que, inevitavelmente, já é velha quando chega às bancas ?

Não seria tão fácil, tão simples, tão óbvio tentar olhar para a frente ? Com certeza, uma informação que não repetisse simplesmente o que todo mundo já sabe serviria para chamar a atenção do leitor, ao invés de despertar o habitual bocejo. Afinal, não é para "chamar a atenção" do leitor que os jornais existem ? Algo do tipo :"Depois da goleada no Maracanã, Dunga quer outros jogos no Rio"; "Seleção já promete repetir em São Paulo a goleada de ontem" ; "Ronaldinho, barrado por Dunga, pede vaga para jogo em São Paulo" ;"Seleção goleia mas Argentina lidera eliminatórias"; "Comportamento nota 10 do torcedor credencia o Maracanã como palco da Copa" etc.etc.etc. Qualquer estagiário faria uma lista de possíveis novas informações que poderiam merecer um título capaz de estimular minimamente a curiosidade do Senhor Leitor. Eis um bom exercício para as salas de aula dos cursos de Jornalismo.

Mas não: há noventa e nove vírgula nove por cento de chances de os jornais desta quinta anunciarem nos títulos de primeira página,como se fosse a novidade do século, a vitória do Brasil sobre o Equador.

Depois perguntam por que é que a imprensa de papel perde leitores.....

O caso me lembra o que vi uma vez em Londres,onde se fazem jornais de primeira qualidade:

um instituto tinha divulgado uma pesquisa de opinião que indicava a possível derrota dos conservadores nas eleições de 1997. A TV noticiara exaustivamente os números nos telejornais noturnos.

Se fosse no Brasil, os jornais dariam, no dia seguinte, na primeira página, um título como "Ibope dá vantagem ao PT". Ou algo assim. Ou seja :os jornais repetiriam algo que o leitor interessado em política com certeza já sabia.

O que fez o jornalaço Daily Telegraph ? Deu a informação da maneira mais criativa possível. Publicou na primeira página uma bela ( e enorme) foto do então primeiro-ministro John Major sozinho, na porta do número dez da Downing Street, a residência oficial do chefe do governo. O pesquisa indicava que o partido de Major estava cotadíssimo para perder a eleição, o que, afinal, viria a acontecer semanas depois.

A manchete do jornal: "Este homem pensa que vai vencer a eleição".

Não é por acaso que a imprensa inglesa de qualidade é o que é.

Também não é por acaso que nossa imprensa é o que Paulo Francis passou os últimos anos de vida dizendo: "Previsível, empolada, chata. Meu Deus, como é chata".

Não teria chegado a hora de uma autocrítica violenta, uma virada de mesa, uma aposta na criatividade ? Por que os jornais continuam com a cabeça enterrada na areia, sem olhar para a paisagem em volta ?

Ainda há tempo para tentar sacudir a poeira - nem que seja em sinal de respeito à paciência dos leitores....

Help!

Grandes evangelhos avacalhados

'NO PRINCÍPIO ERA O VERBO, E O VERBO ESTAVA JUNTO DA ASSESSORIA DE IMPRENSA DA OPUS DEI.'

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'Opus Dei inaugura Escritório de Comunicação em São Paulo
'A Prelazia conta, a partir de agora, com um canal direto e permanente com os jornalistas de todo o Brasil.
'Com o objetivo de informar a imprensa sobre a missão e as atividades da Prelazia, o Opus Dei inaugurou, em São Paulo, seu Escritório de Comunicação no Brasil.'

CURIOSIDADE MÉDICA

Observadores notaram que, desde que começou a trégua no circo de baixarias do Senado, a epidemia de vômito registrada entre telespectadores da TV Senado e dos telejornais sofreu uma redução.

Pitoresco.

CONSELHO BASEADO NA SIMPLES OBSERVAÇÃO DA PAISAGEM HUMANA

Nunca, jamais, sob hipótese alguma, receba um cheque de quem:

a) chama TV de "telinha"
b) desenha um sinal de aspas no ar com dois dedos de cada mão
c) acrescentou uma letra ao nome por sugestão de um numerólogo
d) chama o marido de "maridão", o filho de "filhão" ou, se for o caso, a mulher de "amorzão"
e) usa rabo-de-cavalo
f) alguma vez na vida já usou ou pensou em usar bandana
g) desfila de camiseta na rua para mostrar aos outros os músculos marombados
i) toma cafezinho com o dedo mindinho estirado

É pule de dez: o cheque é sem fundos.

CADÊ O CEGUINHO FOTÓGRAFO ?

Faz exatamente quatro meses que o Sopa de Tamanco perguntou: o ceguinho que vive dando entrevista à Tv sobre enquadramento fotográfico continua solto ?

(Dica para a Interpol: chama-se Evgen Bavcar. Vive em Paris. Já passou pelo Brasil)

Lastimavelmente, a Interpol não se manifestou até agora.

Resultado: o ceguinho fotógrafo continua pontificando sobre enquadramento.

O post original:

11 de Junho de 2007
OS POLITICAMENTE CORRETOS E NOSSA GRANDE COMÉDIA DE ERROS
Desde que a praga politicamente correta tomou de assalto as mentes simplistas, pega mal dizer que o feio é feio, a gorda é gorda, o negão é negão, o gay é gay, o branquelo é branquelo, o burro é burro, o bêbado é bêbado, o idiota é idiota.

Qual é o problema?"Pega mal" dizer que um cego não pode ser fotógrafo. Mas peço licença à patrulha para dizer: não pode! Vi outro dia um fotógrafo cego pontificando na TV sobre enquadramento. Falava francês, claro ( não há língua que se preste tanto a imposturas intelectuais).Cego falando de fotografia é algo tão grave e despropositado quanto este locutor participando de desfile de moda.

Fiz aos meus botões a pergunta que todos fazem na surdina : por que é que o fotógrafo ceguinho não arranja outra profissão? Por que não aprende música? Por quê? Por que precisa aparecer na televisão falando de enquadramento fotográfico? Por quê? Por quê?Os meus botões se quedaram silentes.

Diante da mudez de meus botões, desisto de lançar perguntas ao vento sobre o fotógrafo ceguinho e a miríade de personagens absurdos que compõem,com ele, o elenco desta nossa grande comédia de erros. Quem sabe, o melhor é deixar que o circo planetário siga adiante, sem ser importunado.Como diria Drummond no mais belo poema já escrito em território brasileiro, "A Máquina do Mundo":....."e a máquina do mundo, repelida,/se foi miudamente recompondo/ enquanto eu, avaliando o que perdera,/ seguia vagaroso/ de mãos pensas"

Boletim dos sarcófagos

O que o cantor D2 achou de "Tropa de Elite"? E Gabeira, com o seu estilo de flores artificiais, o que pensa da polêmica: o filme é ou não fascista? E os moradores do Complexo do Alemão? O problema das redações, esses cemitérios sem muro, é a inversão da Lei de Darwin: os mais fracos venceram a corrida. Às batatas!

Os porões imitam a sétima arte

Depois de "Tropa de Elite", o que não poderá faltar em qualquer delegacia de subúrbio do país? Ganhou um DVD pirata do Sopa de Tamanco quem respondeu: saco plástico. Pelo andar do tílburi da nação-chacina, brevemente o saco plástico será insumo obrigatório no pregão eletrônico das Secretarias de Segurança Pública. Resta saber se as famílias da vítimas serão obrigadas a pagar pelo saquinho.

Vigiar e punir, mas sem calcinha

Num dos filmes da série Rambo, o próprio, depois de matar uns vietcongues, descansa ao lado de outro mercenário, e comenta: "estou com saudade de uma lingerie". Em "Tropa de Elite", as mulheres são todas traidoras, inconfiáveis e coniventes com a bandidagem. Mulher de malandro, no melhor sambão carioca, é para apanhar. Mas, misoginia e tradição à parte, senti falta de uma lingerie. Quem explicaria melhor a ausência de uma calcinha no boletim da guerra civil carioca: o capitão Nascimento, o Antonio das Mortes pitbicha, ou Foucault, o novo inimigo da revista Veja? Imitar o cinema americano tem seu preço: Rambo manda a conta.

DOS LIMITES IMPOSTOS PELAS MULHERES

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— Eu aceito tudo num homem, Robertantônio, tudo! Traição, amantes, mentiras, falsidades de toda ordem. Pelada aos domingos, até, eu aceito. Idas à manicure. Ejaculação precoce. Agora, cortar o queijo com a serra do pão, não, hein! Aí já é demais pra mim! Isso é caso pra divórcio!
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(Texto completo, aqui)