Junho de 1968. Quatro dias antes das eleições para a Assembléia Nacional convocadas pelo presidente francês Charles de Gaulle em conseqüência daquele mês de maio que chacoalhou a Quinta República, Jean-Paul Sartre publica na revista Le Nouvel Observateur um artigo intitulado "As Bastilhas de Raymond Aron".
Do lado dos contestadores barulhentos, o autor da Crítica da razão dialética se junta a manifestações que fustigam o poder. Já seu antigo amigo e agora alvo de ataque representa a "maioria silenciosa". Aron também toma a palavra nesse período de turbulência que ele descreveria mais tarde como uma semana de algazarra de estudantes seguida de greves que paralisaram a vida econômica do país. Período de apreensão. Para o autor de O ópio dos intelectuais, quando a crise política de maio de 68 chegou ao clímax, pensou-se que o regime não resistiria às pancadas de Cohn-Bendit. "Nesse dia, em última análise, eu fui gaullista", diz Aron.
De volta ao ringue, ou melhor, ao artigo da revista. Nele, Sartre diz que, por nunca ter aceitado qualquer contestação de alunos, Aron é indigno de ser professor. E acusa o ex-professor da Sorbonne de exercer "um poder real" que "certamente não se baseia em um saber digno desse nome". Não satisfeito, sentencia ser necessário, "agora que a França inteira viu De Gaulle todo nu, que os estudantes possam encarar Raymond Aron todo nu".
"Não lhe serão devolvidas as roupas se ele não aceitar a contestação", conclui Sartre.
(Nota: Charles de Gaulle triunfou naquelas eleições. Mais do que isso: apurados os votos, seu partido tornou-se o primeiro na história da república francesa a obter maioria absoluta. Conquistou 358 das 485 cadeiras.)
16 de dezembro de 2007
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