3 de outubro de 2007
Amazon e Penguin abriram uma vaga de Paulo Coelho
AS MÃOS SUJAS DO SANGUE DAS MATÉRIAS
Se eu tivesse um mínimo de talento dramatúrgico, um dia faria uma peça pretensamente psicanalítica sobre o Ente Jornalístico.
O que é este Ente ?
É o sujeito que resolve exercer uma profissão que, bem ou mal, desperta no "público externo" uma discreta fascinação : jornalista seria aquele ser bípede que, rendido à formidável riqueza dos fatos e dos personagens, passa a vida tentando descrever da maneira mais atraente possível tudo o que viu e ouviu. Simples assim.
Parece, mas não é não.
Porque o Ente Jornalístico, quando desembarca numa redação, logo se transforma numa terrível MMM: Máquina de Matar Matérias.
Há um caminhão de exceções, claro, mas as redações estão povoadas por este ser estapafúrdio: o Jornalista especializado em matar o Jornalismo.
As mãos desses entes estão sujas do sangue das reportagens que eles trituraram.
Como eu ia dizendo quando fui interrompido por mim mesmo: se eu tivesse um mínimo de talento dramatúrgico, faria uma peça pretensamente psicanalítica sobre o tal Ente.
Mas não. Porque me falta o talento dramatúrgico. E jamais pus minhas patas num consultório de psicanálise.
Desisto da empreitada, a tempo.
Vou fazer algo um milhão de vezes mais útil: tomar uma Coca-Cola com limão e checar se a lua saiu hoje.
Arrudando
'Vamos estar a resolver o problema assim que for possível', declarou o governador.
A ARTE DE PEDIR DESCULPAS
Sou insuspeito para falar. Tenho simpatia pelos dois lados em guerra.
Eu me lembro de que desde os anos setenta lia Fausto Wolff nas páginas do Pasquim. Sempre gostei. Nem faz tanto tempo, fui surpreendido com uma referência super-generosa que o próprio Fausto Wolff fez ao locutor-que-vos-fala numa entrevista em que tratava de jornalismo. Descobri há pouco o formidável talento de Marconi Leal como autor de textos de humor. Não é um gênero nada fácil. Basta ver o resultado catastrófico de textos pretensamente engraçadinhos cometidos por jornalistas ( quem me chamou a atenção para o show de bola de Mr. Leal num recanto da Internet foi o co-tamanqueiro Toni Marques, desbravador atentíssimo dos mares virtuais).
A história toda da publicação de um texto de Marconi Leal numa coluna assinada por Fausto Wolff no Jornal do Brasil parece que chegou a um desfecho nesta quarta-feira. Fausto Wolff fez um pedido de desculpas público, no Caderno B.
Quero ser cem por cento sincero: acho que o pedido de desculpas ficou abaixo do tamanho da presepada cometida.
O pedido de desculpas deveria ter sido mais explícito, mais cristalino, mais indiscutível, mais irrevogável, mais direto, mais estrondoso, mais indubitável. Deveria estar logo na primeira linha do primeiro parágrafo, em negrito, com letras maiúsculas.
É difícil pedir desculpas. É dificílimo aceitar. É um gesto que transita entre ressentimentos, raiva e mágoa. Páro por aqui, para não soar como autor daqueles textos que a gente lê em revistas na sala de espera do dentista, enquanto ouve, ameaçador, o ruído da broca invadindo o esmalte do coitado que nos precedeu no cadafalso.
Justamente porque é tão difícil, o pedido de desculpas precisa ser claríssimo. Como diria Alex, o personagem genial de "A Laranja Mecânica", claro como um lago límpido num dia de verão, Sir.
Contribuições da imprensa carioca - MVTP
"Desculpas especialíssimas ao Marconi Leal, na esperança de não ter piorado muito a sua obra, mas, se o fiz, foi por crer que se tratasse de uma piada de domínio público ou de autoria de outrem."
Nasce mais um clássico da crônica policial de São Sebanistão: o Texto Perdido.
E, conseqüentemente, surge o Movimento das Vítimas do Texto Perdido.
- Soube da Marcinha não? Levou um texto perdido no meio dos cornos! Em plena luz do dia!
- Onde? Onde?
- Cinelândia. Saindo do Odeon, olha só que ironia...
- Ela tá bem?
- Os médicos não acharam nada, mas o que ela tomou foi um soneto pesado, inspirado no funk de favela, cheio de métrica quebrada, onomatopéias, palavrões, uma loucura.
- Tem certeza de que não foi aquele jovem poeta, o da ONG de literatura? Tal de ADA, né?, Amigos dos Artigos... Ele andou se engraçando com ela...
- Já chequei. O jovem poeta descolou um patrocínio da Petrobras pra levar poesia contemporânea brasileira às periferias de Caracas. Tá fora.
- Bom, então o culpado vai passar batido. Com a quantidade de gente sensível que freqüenta o Odeon... Como é que tá a cabeça dela?
- Tá abatida, vendo TV a cabo o tempo todo pra ver ser a cabeça desincha.
- Que coisa. Vítima da literatura marginal, logo a Marcinha...
- Assim que ela ficar boa, a gente vai armar um lance legal pra marcar posição contra essa violência literária toda. Tipo abraçar a Academia Brasileira de Letras ou a Biblioteca Nacional, não sei.