O blog de Nelson Vasconcelos (http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/nelson/) já iniciou os trabalhos para eleger o ator mais canastrão do Brasil. O vencedor será agraciado com o Troféu Alberto Roberto. O populacho já começou a se manifestar no espaço destinado aos comentários.
O Sopa de Tamanco abre o voto: José Wilker. É absolutamente improvável que, nos próximos decênios, surja em algum ponto do planeta terra um ator tão canastrão.
Deus do céu: o que são aqueles olhos que sempre ficam semicerrados em cena, como se estivessem tentando enxergar uma agulha no chão? Se tal movimento das pálpebras foi concebido para dar expressão e profundidade às falas, devo dizer que a tentativa não funcionou. Não poderia funcionar.
(Uma informação sísmica: a cada vez que tais trejeitos aparecem na tela, há um leve tremor de terra nos arredores da Abadia de Westminster, em Londres. É Lawrence Olivier se revirando no túmulo, abismado com a profundidade do poço em que a arte de representar foi jogada nestes confins da América. Tais abalos sísmicos se repetem com notável frequência a cada vez que sumidades como Victor Fasano, Humberto Martins, Vera Fischer ou José de Abreu - pateticamente embrulhado numa túnica branca na novela da oito - abrem a boca ou se movem em cena. O governo inglês já pensa em enviar uma carta formal de protesto à embaixada brasileira em Londres. De tão repetidos, os abalos já começam a comprometer as estruturas da portentosa edificação).
Quanto ao voto do Sopa de Tamanco para o ator JW: o que dizer da coleção de óculos? E o gestual ? E a entonação ? E a pretensão? O Canal Brasil exibiu o filme "O Maior Amor do Mundo". A atuação do rapaz é um monumento audiovisual completo, definitivo e insuperável à canastrice. Não há nada igual. Nunca houve. Jamais haverá.
PS: A bem da verdade, há, sim. Podem convocar uma junta formada por luminares agraciados com nobéis de Química, Física,Literatura e Medicina. Nenhum dos gênios seria capaz de decifrar o significado oculto da expressão de eterna catatonia que Vera Fischer exibe, há anos, nos vídeos e nas telas. Se ficassem confinados num quarto contemplando vídeos das atuações de VF, cedo ou tarde os luminares seriam obrigados a dar por encerrados os trabalhos, porque chegariam à conclusão de que a Ciência simplesmente ainda não dispõe de meios confiáveis para explicar o que se passa no espaço entre a testa e o queixo da atriz quando ela começa a representar. O mistério permaneceria intocado. Em compensação, as pedras de Westminster balançariam dia e noite.
7 de fevereiro de 2009
A TV FALA AO TELESPECTADOR COMO SE O TELESPECTADOR FOSSE UM BEBÊ DEITADO NUM CARRINHO: "GUGU-DADÁ-NANA-NENÉM"
Com a autoridade de quem nunca pôs os pés numa emissora de televisão, mas é um telespectador razoavelmente assíduo, um amigo fez uma observação certeira:
"Você por acaso já notou que, em noventa por cento dos casos, a TV, especialmente a aberta, se dirige ao telespectador como se ele fosse um débil mental ou, na melhor das hipóteses, uma criança de um ano e cinco meses incompletos ?".
Depois de treze segundos e meio de profunda reflexão, fui obrigado a concordar.
O amigo deu exemplos "a mancheias".
Arrematou:
"Pode ver que, na grandessíssima maioria dos casos, a TV fala ao telespectador como se o telespectador fosse um bebê deitado num carrinho. O adulto se debruça e começa a produzir sons absolutamente ridículos, sem qualquer sentido, para tentar uma comunicação com o pobre coitado. O bebê contempla a cena patética. Se pudesse falar, diria: "Que grandessíssimo idiota é esse?". Como não fala, acompanha, em silêncio, aquele espetáculo deprimente de frases capengas, caretas, trejeitos. É exatamente o que acontece com a TV! Já notou que, até na hora de dar boa-noite, a TV trata o telespectador como se o telespectador fosse um debilóide? São sempre aquelas frases tatibitates, pronunciadas em tom pretensamente simpático... Só faltam nos dizer: "Agora, o bebezinho vai memê o jantar pra depois ir mimi...". Em duas palavras: não dá".
Concordei em silêncio, como se fosse o bebê. Mas não imaginei nenhum insulto ao meu amigo, pela simples razão de que ele estava certo, certíssimo, absolutamente certo no que dizia.
"Você por acaso já notou que, em noventa por cento dos casos, a TV, especialmente a aberta, se dirige ao telespectador como se ele fosse um débil mental ou, na melhor das hipóteses, uma criança de um ano e cinco meses incompletos ?".
Depois de treze segundos e meio de profunda reflexão, fui obrigado a concordar.
O amigo deu exemplos "a mancheias".
Arrematou:
"Pode ver que, na grandessíssima maioria dos casos, a TV fala ao telespectador como se o telespectador fosse um bebê deitado num carrinho. O adulto se debruça e começa a produzir sons absolutamente ridículos, sem qualquer sentido, para tentar uma comunicação com o pobre coitado. O bebê contempla a cena patética. Se pudesse falar, diria: "Que grandessíssimo idiota é esse?". Como não fala, acompanha, em silêncio, aquele espetáculo deprimente de frases capengas, caretas, trejeitos. É exatamente o que acontece com a TV! Já notou que, até na hora de dar boa-noite, a TV trata o telespectador como se o telespectador fosse um debilóide? São sempre aquelas frases tatibitates, pronunciadas em tom pretensamente simpático... Só faltam nos dizer: "Agora, o bebezinho vai memê o jantar pra depois ir mimi...". Em duas palavras: não dá".
Concordei em silêncio, como se fosse o bebê. Mas não imaginei nenhum insulto ao meu amigo, pela simples razão de que ele estava certo, certíssimo, absolutamente certo no que dizia.
O FIM DA CIVILIZAÇÃO: CHAMARAM IVETE SANGALO PARA FALAR DE MACHADO DE ASSIS NA TV!
Do blog de Marconi Leal: (http://www.marconileal.com) :
VISITANDO MACHADO DE ASSIS NO INFERNO
Já contei sobre o que me ocorreu no dia do centenário de morte de Machado de Assis? Se contei, repito, porque a memória de vocês é péssima. O que muito certamente decorre do hábito de lamber papel de seda. Segundo pesquisas recentes, o contato da saliva com o papel de seda é a segunda maior causa de perda de memória em todo o mundo. A primeira, claro, é eleger-se para cargo público.
Digo, portanto, o que me ocorreu. E é simples: nasci, como vocês, na República Federativa do Clichê. Ora, países erguem monumentos a seus artistas maiores ou constroem museus em sua homenagem. Já aglomerados de mestiços com certa tendência a batucar em caixas de fósforo e alguma propensão ao roubo, como o nosso, fazem algo mais cordial: para homenagear o único gênio que conseguiram produzir - certamente graças ao reumatismo de algum cegonha que evitava climas frios -, assassinam suas criações em minisséries ou põem especialistas em literatura como Ivete Sangalo em seu principal telejornal para falar sobre como Machado era jóia, meu nego, oxente, lindo, n’era não?
Vi aquilo e, meia hora depois, quando com a ajuda de minha mulher e de um pé-de-cabra consegui repor o queixo no lugar, resolvi fazer a única coisa que me restava, já que tenho terrível alergia a alojar balas nas têmporas: visitar o Velho e saber dele se tinha visto o que vi e o que achava de tudo aquilo.
Ora, vocês que além de desmemoriados são de uma ignorância de apresentadora de TV, não sabem. Mas o Aqueronte é um dos afluentes do Tietê e, como tal, leva ao inferno (não me refiro, óbvio, à Marginal). Logo, coloquei minha roupa de Teseu, que deixo preparada especialmente para essas ocasiões, peguei o ônibus 875M e, saltando, desci até o ponto exato em que o rio se abre para dar passagem a seres mitológicos e obras do metrô (não revelo a localização para que amanhã não apareça por ali uma série de sujeitos vendendo churrasquinho, tocando axé music e gritando: “Inferno é dez real! Tá acabando, bora! Inferno é dez real!”) e prossegui em minha peregrinação para o reino de Hades, eu e mais três cocôs que conheci no caminho.
Para encurtar: ao final de uma longo trajeto me vi diante de duas placas - à esquerda, Inferno Cristão; à direita, Hades. A entrada do inferno cristão era toda revestida de mármore italiano, contava com porteiros de libré e ar-condicionado central. A do Hades era uma picada coberta de sapos e até o Lasciate ogni speranza voi que entrate estava com as letras apagadas. Vejam vocês o que dois mil anos de cristianismo não fazem com a cultura.
Passei por Cérbero, que apenas miou, desdentado, e segui para a margem do rio, onde Caronte recolhia os mortos. Aproximei-me do velho barqueiro e lhe entreguei duas moedas de cruzados novos. Então percebi que o homem na verdade era Borges, o que me deixou alegre com a ironia, por um lado, e preocupado com a viagem, por outro, pois o barco seria obviamente guiado por um cego. Por via das dúvidas, roubei uma das moedas de volta.(CONTINUA)
VISITANDO MACHADO DE ASSIS NO INFERNO
Já contei sobre o que me ocorreu no dia do centenário de morte de Machado de Assis? Se contei, repito, porque a memória de vocês é péssima. O que muito certamente decorre do hábito de lamber papel de seda. Segundo pesquisas recentes, o contato da saliva com o papel de seda é a segunda maior causa de perda de memória em todo o mundo. A primeira, claro, é eleger-se para cargo público.
Digo, portanto, o que me ocorreu. E é simples: nasci, como vocês, na República Federativa do Clichê. Ora, países erguem monumentos a seus artistas maiores ou constroem museus em sua homenagem. Já aglomerados de mestiços com certa tendência a batucar em caixas de fósforo e alguma propensão ao roubo, como o nosso, fazem algo mais cordial: para homenagear o único gênio que conseguiram produzir - certamente graças ao reumatismo de algum cegonha que evitava climas frios -, assassinam suas criações em minisséries ou põem especialistas em literatura como Ivete Sangalo em seu principal telejornal para falar sobre como Machado era jóia, meu nego, oxente, lindo, n’era não?
Vi aquilo e, meia hora depois, quando com a ajuda de minha mulher e de um pé-de-cabra consegui repor o queixo no lugar, resolvi fazer a única coisa que me restava, já que tenho terrível alergia a alojar balas nas têmporas: visitar o Velho e saber dele se tinha visto o que vi e o que achava de tudo aquilo.
Ora, vocês que além de desmemoriados são de uma ignorância de apresentadora de TV, não sabem. Mas o Aqueronte é um dos afluentes do Tietê e, como tal, leva ao inferno (não me refiro, óbvio, à Marginal). Logo, coloquei minha roupa de Teseu, que deixo preparada especialmente para essas ocasiões, peguei o ônibus 875M e, saltando, desci até o ponto exato em que o rio se abre para dar passagem a seres mitológicos e obras do metrô (não revelo a localização para que amanhã não apareça por ali uma série de sujeitos vendendo churrasquinho, tocando axé music e gritando: “Inferno é dez real! Tá acabando, bora! Inferno é dez real!”) e prossegui em minha peregrinação para o reino de Hades, eu e mais três cocôs que conheci no caminho.
Para encurtar: ao final de uma longo trajeto me vi diante de duas placas - à esquerda, Inferno Cristão; à direita, Hades. A entrada do inferno cristão era toda revestida de mármore italiano, contava com porteiros de libré e ar-condicionado central. A do Hades era uma picada coberta de sapos e até o Lasciate ogni speranza voi que entrate estava com as letras apagadas. Vejam vocês o que dois mil anos de cristianismo não fazem com a cultura.
Passei por Cérbero, que apenas miou, desdentado, e segui para a margem do rio, onde Caronte recolhia os mortos. Aproximei-me do velho barqueiro e lhe entreguei duas moedas de cruzados novos. Então percebi que o homem na verdade era Borges, o que me deixou alegre com a ironia, por um lado, e preocupado com a viagem, por outro, pois o barco seria obviamente guiado por um cego. Por via das dúvidas, roubei uma das moedas de volta.(CONTINUA)
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