29 de fevereiro de 2008

Quando nos falta a piada falta tudo

A vida em Lisboa anda corrida Está cada dia mais difícil cuidar de tudo e garantir o uísque das crianças. Para não deixar o caro Marconi Leal falando sozinho vim aqui dar um alô.

Daí já era, digamos, difícil ler sobre a política de Terras de Vera Cruz. Do outro lado do Atlântico a coisa fica um tanto quanto nonsense, se é que vocês me entendem. E nem é a sensação que achei que fosse sentir: de que o país não existe. É de saber que existe e tem um presidente dessa envergadura e circunferência, se é que vocês me entendem.

Um dos graves sintomas de que algo não anda nada bem em Terras de Vera Cruz é que a política deixou de ser motivo para piada. Saímos da realidade eminentemente brasileira para adentrarmos numa desolação tão profunda quanto trágica.

A piada, mesmo nos piores momentos do país, nos serve como termômetro. Se falta a piada é porque está faltando algo maior e mais importante. O Brasil, também, pode acabar, não com uma explosão, mas com um lamento (copyright T. S. Eliot).

25 de fevereiro de 2008

ENFIM

"A VIDA, NO FIM DAS CONTAS, NÃO PASSA DE UMA GLORIOSA COLEÇÃO DE INUTILIDADES".

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CONGRESSO INTERGALÁCTICO

Ali, o nobre deputado Pacóvio dos Santos, de Cudomundópolis do Sul, após receber dinheiro de um lobista, apresentaria uma emenda, defendendo que o planeta não perdesse seu status. A bancada do cometa Harley, sustentada por grandes empreiteiros, logo se inflamaria, exigindo o mesmo tipo de tratamento para o corpo celeste de sua predileção.

Então, pensando na futura instalação de uma Assembléia Legislativa em Urano, um grupo de congressistas apoiaria todas as iniciativas acima, contanto que Júpiter passasse imediatamente à categoria de sol.

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NOJO

"Uma geração de cínicos. É isto que somos. Sentado na cama, assistindo a Juno, eu tive um pouco de nojo de mim. Minto. Não era exatamente um auto-nojo. Digamos que meu estômago estava embrulhado por causa de uma pizza e também por perceber que eu e minha geração havíamos sido talhados na profunda descrença no ser humano. Há quem se orgulhe disso. Algo humanamente compreensível, como se verá".

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14 de fevereiro de 2008

CONFISSÕES DE UM REPÓRTER BARBUDO

"Sou um projeto de ruína . Meu velocímetro profissional já registra três décadas de rodagem por redações. É um bocado. Quem mandou não estudar Medicina ? A hora de dizer “chega” vai se aproximando. Todo jornalista deveria mudar radicalmente de atividade depois de dez anos de exercício profissional. Somente assim não correria o risco de se habituar ao papel de figurante do espetáculo patético encenado em redações por gente que se considera cem vezes mais importante do que realmente é".

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CONFISSÕES DE UM DESOCUPADO GLABRO

Meu pacifismo tem um limite: a leitura de algumas páginas de Heródoto ou Plutarco. Bom, confesso que este último também me dá uma vontade irresistível de enrolar um lençol ao redor do corpo, colocar algumas folhas de louro no cabelo e descair a mão com um gritinho, dizendo:

— Afe, César! Que aqueduto grande você tem!

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13 de fevereiro de 2008

ALPINISTAS

“Não quero parecer ranzinza,mas alguém pode me dizer para que servem os alpinistas ? Por que aqueles idiotas não pegam um avião para olhar as montanhas do alto,em vez de tentar a subida ridiculamente amarrados em cordas ? . Eu jamais compraria um carro de um alpinista.Não se pode confiar em seres que não têm senso de ridículo”.

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TELEVISÃO

— Sr. Onofre, eu sou o agente Jonas e esse aqui o agente Nunes. Nós estamos entrevistando os moradores das redondezas, porque houve uma ironia hedionda no bairro ontem à noite e procuramos o culpado. O senhor reconhece esse homem aqui no retrato?
— Voltaire? Digo, vou teire que pensar um pouco... Essa peruca, esse bastão, esse nariz... Não, não, nunca vi mais nobre.
— O senhor pensava ontem à noite, entre as 20 e 22 horas?
— Ih, nada. Tenho evitado. A última vez que eu pensei deu uma dor de cabeça dos diabos. Troquei pela televisão.

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PROBLEMA DE CLASSE

"De onde vem este ódio à classe-média? Lembro-me agora daqueles burgueses da Semana de 22 escrevendo poemas de ódio à pequena-burguesia. Ou ainda de Luis Fernando Veríssimo, o escritor preferido da classe-média, espinafrando a dita-cuja. Isto sem falar nos autores jovens, que já nasceram com esta raiva entranhada.

"Uma boa amiga me diz que classe-média nada tem a ver com dinheiro ou falta dele. É um estado de espírito. É aquela coisa de comprar o mesmo carro, de ter o mesmo cachorro, de comer nos mesmos restaurantes e de ver os mesmos filmes e sobre eles falar a mesma coisa. Não discordo. É uma das facetas, sim. Mas, ainda, vale a pergunta: por que tanto ódio à classe-média?"

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12 de fevereiro de 2008

MÁRIO DE ANDRADE

"Era insuportável,um viadão, vivia cercado de garotos, todo pachola.Uma vez,escreveu uma crítica sobre um livro.Disse : “Este realmente é um bom contista,não é um Joel Silveira qualquer”.Aliás,devo ser a única pessoal do Brasil que nunca recebeu uma carta de Mário de Andrade.Todo mundo recebeu.Não me empolga.A poesia de Mário de Andrade é muito ruim, os contos são uma coisa tradicional, aquele negócio de folclore.Detesto folclore !"

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UMA THURMAN

Não sei vocês, rapazes. Quanto a mim, se o Senhor me propusesse que minha salvação dependeria de uma circuncisão com uma pedra afiada, ligaria para o diabo na mesma hora, oferecendo minha alma:

— Uma noite de sexo selvagem com a Uma Thurman e duas caixas de bourbon. E não se fala mais nisso.

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11 de fevereiro de 2008

CONTÍCULO RUSSO

"Ele era um respeitável militar de patente graduada e descendente de uma família nobre. Ela uma camponesa simplória e lindíssima! Ivanovitch, apesar de ter idade suficiente para as núpcias já algum tempo, era solteiro. A moça viçava em sua juventude e nas palavras do próprio Ivanovitch, 'Era uma flor do campo!'.

O interesse por Katuska, este era o apelido dela, causou escândalo. Mas como pode? Um nobre?! Katuska era filha de Vanka e Vania, antigos moradores na propriedade de Ivanovitch. Os pais, naturalmente, temeram as intenções do senhor. A mãe iniciou rezas por Santa Anastácia. Mas o senhor Ivanovitch, de fato tomado pela alma de um sátiro, quisera revestir sua licenciosidade das mais puras e castas formalidades, ocultando com palavras e ações suas reais pretensões."

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CPI

— Eu não fiz nada não, eu juro!
— Ah, não? Toma de novo! E essa, e mais essa. E então, refrescou a memória agora?
— Ai! Mas o que você tá fazendo? Quem são vocês, afinal?
— CPI.
— Ué? Mas eu nem sou filiado ao PT!
— CPI. Central de Patrulhamento Ideológico, canalha! Toma, toma!
— Ai! Isso dói. Cadê os meus direitos?
— Os seus direitos tão por aqui. Mas se continuar negando, vai perder os dois: o pé e a mão. Vai falar ou não vai, engraçadinho?
— Tudo bem, eu confesso: eu queria comprar aquela calcinha de renda.

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CLARICE LISPECTOR

"As the translator Gregory Rabassa famously put it: 'I was flabbergasted to meet that rare person who looked like Marlene Dietrich and wrote like Virginia Woolf'.”

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VARGAS

“Notei que as mãos do presidente eram macias,fofas.Getúlio só me cumprimentou na entrada.Terminou me dando as costas na saída.Simplesmente foi embora.Quando eu lhe passei um questionário - e ele viu que o que eu queria era uma entrevista - Getúlio se transfigurou.Aquela cara risonha despareceu.O homem virou uma fera.Jogou o papel assim,na mesa : “O senhor entrega isso ao doutor Lourival”. Em seguida,levantou-se daquela cadeirona pesada - e sumiu”.

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8 de fevereiro de 2008

O FUTURO DO BRASIL EM NOSSAS PATAS

Acabei por descobrir um artifício engenhoso para detonar a revolução educacional de que tanto o país necessita: o desmatamento de crianças e o aquecimento de analfabetos. Pensem bem: se brasileiros abnegados iniciassem a invadir escolas caindo aos pedaços para dar machadadas em crianças ou a entrar clandestinamente em asilos de velhinhos analfabetos para tocar fogo em suas dependências, dentro em pouco, no máximo cinco anos, o governo afinal perceberia a existência de um problema na Educação e, quiçá, na Previdência brasileiras.

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SPOILERS

"Pois aqui vale a pergunta: uma crítica pode conter spoilers? Ela tem permissão para estragar, no leitor, o prazer da descoberta?
Minha resposta é: sim."

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MORAES NETO, FRANCIS E A SOCIAL-DEMOCRACIA

"Você confessa hoje que tem simpatias pela social-democracia.O caminho para o Brasil pode ser esse ?

Francis - Certamente. A social-democracia é imperfeita - sem dúvida- mas é a coisa mais justa que há.Porque garante o mínimo necessário a quem não pode lutar pela sobrevivência e, ao mesmo tempo, permite que quem pode se expanda sem ditadura sem nada.Veja os países mais avançados do mundo : são os escandinavos. A própria Alemanha é uma social-democracia,a França ... E os Estados Unidos são uma social democracia - desorganizada,mas,se você falar assim nos Estados Unidos,eles acham que você é comunista.O que tem de auxílio às pessoas necessitadas é igual a qualquer social-democracia européia."

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7 de fevereiro de 2008

HITLER

"Estou confuso. Sou um adorador da liberdade total e irrestrita de expressão. Mas, de algum modo, meu instinto dizia que aquela decisão autoritária estava certa. Mas como?!, eu me perguntava. Como uma decisão autoritária pode estar certa? Por princípios meus, nenhuma decisão autoritária é certa. Mas aquela…"

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CONSELHO

“Um bom amigo me sugeria: ponha por escrito o que pretende dizer. Pus. Assim todos vocês terão a oportunidade de verificar que pronuncio mediocridades tanto de improviso quanto por escrito”

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CENTRO

Eu era um feliz morador de Moema, dos poucos bairros paulistanos onde ainda é possível ver flora e fauna: passarinhos que acordam você pela manhã, árvores que se espalham pelas ruas e jumentos que compram pão ao cair da tarde, chamando Lula de ladrão e, coerentemente, votando de quatro em quatro anos em Maluf.

Ao contrário dos torneios medievais, no entanto, a vida não é justa. E os credores, seres sem coração, levam tudo ao pé da letra de câmbio. De maneira que tive de me mudar recentemente para Santa Cecília, localidade perto do centro. Pelo menos é o que me dizem, e eu, cujo senso de localização se assemelha ao de um hebreu no deserto, acredito. Deve se situar, ao menos, ali pelo segundo ou terceiro círculo.

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NHONHONGA

— Como assim? Separou por quê, cara? Vocês pareciam se dar tão bem...
— A Marly, ela...
— Quer um filho? Toca a bola, toca a bola!
— Que nada! Você não vai acreditar.
— Te traiu?
— Pior. Muito pior. Chuta! Pra fora... A Marly... A Marly me chamou de “Nhonhonga”, cara. Pronto, disse.
— Nononga?
— Antes fosse! “Nhonhonga” mesmo. Com “h” e tudo.
— Peraí, bicho, tu tá me dizendo que separou porque a Marly te colocou um apelido? Ih, lá vem o contra-ataque!
— Desarmou. Apelido? “Nhonhonga”? Isso é apelido que se me apresente? Se ainda fosse “Xurungo” ou “Pitoca”... “Nhonhonga” não dá! Não tem volta.

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SINDICATO

— Alô? É o senhor Adroaldo?
— Infelizmente.
— Senhor Adroaldo, nós estamos com sua sogra, sua mulher e seus três filhos. Isso aqui é um seqüestro, tá me entendendo?
— Que absurdo! Deve tá havendo algum engano.
— Como assim? O senhor não tem mulher e filhos?
— Ter, tenho. Mas eu já fui seqüestrado semana passada, companheiro. Duas semanas atrás, foi a minha mãe. Isso já é abuso. Vou ligar pro sindicato de vocês!

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