10 de dezembro de 2007

SÓCRATES, JESUS E O PREPÚCIO

Chegando à praia, Sócrates tirou a túnica e se jogou na areia, resfolegando. O Filho do homem juntou-se a ele pouco depois, algo irritado:

— Por que vocês gregos têm essa mania de tirar a roupa o tempo todo, hein? Será possível que vou ser obrigado a ficar vendo o teu não-circuncidado aí?

— Grande coisa!

— Grande? É fácil dizer isso quando se tem prepúcio. Queria ver você diante de São Serapião.

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CAUSA MORTIS: PIOLHOS

Qualquer criança remelenta matava a charada. Mas não o grande Homero, a quem alguns fedelhos teriam ludibriado — logo a ele, tido como o mais sábio dos gregos.

O que é, o que é? Tudo o que vemos e pegamos nós deixamos para trás; tudo o que não vemos nem pegamos carregamos conosco.

Interpelado, o maior dos poetas, educador dos helenos, calou. E não porque quisesse, pode-se especular. Teria tentado, até não mais poder, decifrar o enigma. Mas, se quebrou a cabeça, a história não registrou que de sua cachola tenha saído qualquer deusa da sabedoria. Se ficou com uma pulga atrás da orelha, não se sabe. Mas dizem que a incapacidade de descobrir o que era claro para qualquer garoto desencadeou no Poeta uma angústia tão... homérica, que ele morreu.

Quase dá para ouvir o desdém de Heráclito: “Os homens se enganam no reconhecimento do que é óbvio, como Homero.”

SERIA MACHADO DE ASSIS INGLÊS?

Nada há de mais difícil para a filárgira compreensão do escritor brasileiro que a ironia. Para a maioria deles, trata-se de figura tão complexa quanto a anáfora ou a epístrofe: tem a intimidade defesa para além do conceito exposto num livro - não lido - de retórica ou teoria literária. Coisa espantosa para quem nasceu na terra de Machado de Assis. Se é que o velho não era inglês, bem entendido.

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SÓCRATES E JESUS

— Alguém me ajude! Socorro! Por favor, alguém me ajude! — expunha silogisticamente sua posição Sócrates.

Mas, experimentado em dialética desde os tempos de Ulisses, o mar o envolvia com líquidos argumentos por todos os lados e o fazia debater em vão. Ao final da peleja oratória, teria findado fatalmente por calar o filósofo. Isso, caso Jesus, que via a cena de longe, não tivesse falado:

— Levanta-te e anda!
— Ha! — respondeu o filósofo, ainda se afogando. — Pra você é fácil falar. Mas eu sou cético.
— Não, sua besta! Não se trata de milagre. É que a gente tá no raso. Já dá pé.
— Ah... — sorriu amarelo o zetético, cessando o desespero e fazendo em seguida o que o Mestre lhe havia dito.

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