.
O Brasil é um complexo de inferioridade de oito milhões de quilômetros quadrados. Adora falar mal de si próprio.
Um dos rótulos que o Brasil inventou para si diz que este é um "país sem memória". É parcialmente verdade.
O abaixo-assinado lamenta informar que a memória da literatura brasileira corre o risco de sofrer um golpe.
Os manuscritos de Carlos Drummond de Andrade que a namorada do poeta, Lygia Fernandes, guardava em casa, na rua Barão de Jaguaripe, em Ipanema, ganharam um destino incerto e não sabido. Depois que Lygia morreu, em 2003, o apartamento foi vendido. O material ficou com parentes da ex-musa de Drummond. Procurados, demonstraram pouquíssimo interesse em tratar do assunto.
Em qualquer país do mundo, manuscritos de um poeta da estatura de Drummond estariam guardados numa instituição pública, num museu, numa biblioteca. Não aqui no Brasil.
Com o cuidado de um colegial, Drummond copiou uma coleção de poemas. Os manuscritos, com aquela letra miúda inconfundível, ficaram guardados no apartamento da namorada por anos a fio. Vi quando estive lá.
Além de um registro histórico sobre o maior poeta brasileiro, os manuscritos são material de interesse para acadêmicos, estudantes, exegetas, críticos da obra de CDA.
Os poemas que Drummond copiou (a maioria, pelo menos) foram publicados em livros. Mas um livro que trouxesse os poemas manuscritos pelo próprio autor seria, com certeza,um tesouro bibliográfico.
A história completa do destino incerto dos manuscritos faz parte do capítulo inédito que foi acrescentado à nova edição do livro "DOSSIÊ DRUMMOND".
O livro traz a íntegra da última grande entrevista de Carlos Drummond de Andrade, gravada pelo locutor que vos fala apenas duas semanas antes da morte do poeta. Lá, Drummond ataca - por exemplo- uma herança "nociva" do Modernismo: a crença de que qualquer um poderia escrever versos.
"DOSSIÊ DRUMMOND" acaba de chegar às livrarias. Paulo Francis disse o seguinte :"a melhor entrevista que li de Carlos Drummond".
(o livro traz a análise completa de Paulo Francis sobre o depoimento de CDA).
Perdoai a propaganda em causa própria. Mas o motivo é nobre: Carlos Drummond de Andrade.
19 de agosto de 2007
PERGUNTA FEITA AOS CÉUS
.
A Banda Calypso, o presidente do Senado, Oswaldo Montenegro, Sônia Braga, Lucélia Santos e os publicitários que inventaram a campanha da cerveja "boa" continuam soltos ?
A Banda Calypso, o presidente do Senado, Oswaldo Montenegro, Sônia Braga, Lucélia Santos e os publicitários que inventaram a campanha da cerveja "boa" continuam soltos ?
O dilúvio nacional-televisivo
Romário, que aprendeu a jogar parado observando o ritmo da economia brasileira nos últimos vinte anos, se transformou em estátua, onde os pombos das torcidas adversárias dos mil gols irão se vingar ao longo dos próximos anos, mas Romário, sentimental e lírico, chorou. O brigadeiro Jorge Kersul depôs na CPI do Apagão Aéreo e, ao defender a Aeronáutica, emocionado, chorou bastante. Confessou que é um sentimental: "choro até em posse de síndico". O cantor Gilberto Gil, ao falar num show das novas tecnologias (banda larga do Itaú?), não se conteve e também chorou. Que tipo de sal sai dessas lágrimas? Por quem choram tanto os filhos mais ilustres da nação? Enquanto algum sociólogo-psicanalista-historiador não descobre ou analisa as causas profundas do lacrimário nacional, o país confirma uma velha tese de Godard: "toda vez que passo diante de uma televisão tem alguém chorando". Ainda não perdi a esperança de assistir, na TV, ao cínico saltitante FHC se debulhar em lágrimas.
Elvis não morreu
Do passadista Verissimo:
"A personalização do mal numa figura exótica que mobiliza súditos fanatizados era uma tática recorrente do colonialismo europeu, que no seu ocaso precisava equiparar ataques ao seu domínio a ataques à razão e às religiões sensatas."
Este colonialismo não se parece com o atual estágio do colonialulismo?
"A personalização do mal numa figura exótica que mobiliza súditos fanatizados era uma tática recorrente do colonialismo europeu, que no seu ocaso precisava equiparar ataques ao seu domínio a ataques à razão e às religiões sensatas."
Este colonialismo não se parece com o atual estágio do colonialulismo?
PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2
.
Se o poder é triste, como vivem a proclamar os poderosos, por que motivo os que estão nele riem tanto ?
Não me digam que é nervosismo.
Joel Silveira, datilografado por GMN
Se o poder é triste, como vivem a proclamar os poderosos, por que motivo os que estão nele riem tanto ?
Não me digam que é nervosismo.
Joel Silveira, datilografado por GMN
PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA
.
Ser carioca é ter nascido em Xapuri,no Acre. Ser carioca é ter nascido em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo. Ser carioca é ter nascido em Diamantina, em Minas.
Mas, antes de tudo, ser carioca é não ter nascido em São Paulo.
Joel Silveira, datilografado por GMN
Ser carioca é ter nascido em Xapuri,no Acre. Ser carioca é ter nascido em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo. Ser carioca é ter nascido em Diamantina, em Minas.
Mas, antes de tudo, ser carioca é não ter nascido em São Paulo.
Joel Silveira, datilografado por GMN
Tanto bate, até que fura
Karl Rove deixará o governo Bush, mas seu legado persistirá.
Tanto quanto o de seu pai, alegadamente.
O pai adotivo de Rove era gay e pioneiro do piercing, segundo artigo postado num site de modificações corporais.
A veracidade do relato ainda está para ser checada. O autor do artigo diz que era amigo de Louis Claude Rove. E que postou na Wikipedia seu relato, o qual foi deletado.
Tanto quanto o de seu pai, alegadamente.
O pai adotivo de Rove era gay e pioneiro do piercing, segundo artigo postado num site de modificações corporais.
A veracidade do relato ainda está para ser checada. O autor do artigo diz que era amigo de Louis Claude Rove. E que postou na Wikipedia seu relato, o qual foi deletado.
ESQUISITICES NÓRDICAS. E PERGUNTAS AOS CREMADORES DE CORPOS
.
O cineasta Ingmar Bergmann morreu no dia 30 de julho. O corpo só foi enterrado dezoito dias depois. Eis uma esquisitice nórdica. Por que demoram tanto para se desfazer da carcaça inerte ? Por que guardar o corpo por tanto tempo ?
Pela primeira vez na vida, compareci a um crematório, esta semana, para o adeus ao mestre e amigo de tantos anos, o grande repórter Joel Silveira. Já escrevi, aqui, sobre o ritual - simples, rápido, despojado, exatamente como ele queria.
Quando tudo acabou, fiquei com dúvidas. Terminei telefonando para o crematório, para matar a curiosidade ( o que diabos um repórter pode fazer neste "vale de lágrimas", além de perguntas ?)
O caixão some de vista depois de deslizar por uma esteira. Quando a família & amigos vão embora, o time de cremadores entra em campo, nos bastidores.
Pergunto : o caixão, afinal de contas, é cremado junto com o corpo ?
É,sim.
Quanto tempo demora a cremação ?
Cerca de três horas. Depois, uma hora para "resfriar".
Qual é a temperatura lá dentro do forno ?
De 800 a 900 graus centígrados ( bombeiros que atuaram no acidente com o avião da TAM informaram que a temperatura dentro do prédio atingido pelo Boeing chegou a 1.000 graus. Ou seja : superior à de um forno crematório)
Aberto o forno, o que acontece com os restos ?
Passam por um triturador. Somente aí é que o corpo vira realmente pó. Vinte e quatro horas depois da cremação, o pó é entregue à família.
Nem com estrondo nem com suspiro. Isso é coisa de poeta. Pelo menos ali, como se fosse o último paradoxo possível, o corpo se extingue com uma labareda.
É tudo rápido, é tudo prático, é tudo higiênico. É bom que não haja demora. Para que prolongar sofrimentos ?
Mas, lá no fundo, não há como fugir de um sentimento incômodo : tudo pode ser rápido, prático e higiênico, mas tudo é também um grande e irremediável absurdo. O espanto de sempre se repete, irresolvido: como é possível que um feixe de ossos, músculos, tecidos e sentimentos, que funcionava até há tão pouco tempo, transmute-se em pó diante da mais absoluta indiferença da natureza ? (Registre-se que, lá fora do crematório, a tarde brilhava bonita e azul).
Toda vez que é provocado, como agora, nosso espanto ruge diante da morte. É inútil rugir, claro. Mas não há outra coisa a fazer.
O cineasta Ingmar Bergmann morreu no dia 30 de julho. O corpo só foi enterrado dezoito dias depois. Eis uma esquisitice nórdica. Por que demoram tanto para se desfazer da carcaça inerte ? Por que guardar o corpo por tanto tempo ?
Pela primeira vez na vida, compareci a um crematório, esta semana, para o adeus ao mestre e amigo de tantos anos, o grande repórter Joel Silveira. Já escrevi, aqui, sobre o ritual - simples, rápido, despojado, exatamente como ele queria.
Quando tudo acabou, fiquei com dúvidas. Terminei telefonando para o crematório, para matar a curiosidade ( o que diabos um repórter pode fazer neste "vale de lágrimas", além de perguntas ?)
O caixão some de vista depois de deslizar por uma esteira. Quando a família & amigos vão embora, o time de cremadores entra em campo, nos bastidores.
Pergunto : o caixão, afinal de contas, é cremado junto com o corpo ?
É,sim.
Quanto tempo demora a cremação ?
Cerca de três horas. Depois, uma hora para "resfriar".
Qual é a temperatura lá dentro do forno ?
De 800 a 900 graus centígrados ( bombeiros que atuaram no acidente com o avião da TAM informaram que a temperatura dentro do prédio atingido pelo Boeing chegou a 1.000 graus. Ou seja : superior à de um forno crematório)
Aberto o forno, o que acontece com os restos ?
Passam por um triturador. Somente aí é que o corpo vira realmente pó. Vinte e quatro horas depois da cremação, o pó é entregue à família.
Nem com estrondo nem com suspiro. Isso é coisa de poeta. Pelo menos ali, como se fosse o último paradoxo possível, o corpo se extingue com uma labareda.
É tudo rápido, é tudo prático, é tudo higiênico. É bom que não haja demora. Para que prolongar sofrimentos ?
Mas, lá no fundo, não há como fugir de um sentimento incômodo : tudo pode ser rápido, prático e higiênico, mas tudo é também um grande e irremediável absurdo. O espanto de sempre se repete, irresolvido: como é possível que um feixe de ossos, músculos, tecidos e sentimentos, que funcionava até há tão pouco tempo, transmute-se em pó diante da mais absoluta indiferença da natureza ? (Registre-se que, lá fora do crematório, a tarde brilhava bonita e azul).
Toda vez que é provocado, como agora, nosso espanto ruge diante da morte. É inútil rugir, claro. Mas não há outra coisa a fazer.
Assinar:
Postagens (Atom)