11 de fevereiro de 2009

O DRAMA DE MORAR DIANTE DE UMA IGREJA: "O VERSO MAIS INTELIGÍVEL QUE ESCUTEI ATÉ AGORA FOI CANTADO EM ZÉ-RAMALHÊS ARCAICO"

Do blog de Marconi Leal (http://www.marconileal.com) :


Senhor meu Deus e meu Pai, Espírito Santo, Jesus, Criador Onipotente, Divino, Altíssimo, Maior de Todos, Fura-Bolo e Cata-Piolho, digo logo todas as vossas patentes, ó Deus, que é pra prece não ter erro e não vir ‘message delivery failure’, Senhor, que eu tampouco entenderia, ó Eterno, pois não domino o latim. Até bem pouco tempo atrás, meu Jesus, o mais próximo que chegava da eternidade era tentando acessar o site do Banco do Brasil, ó Deus. É bem verdade que passaria por experiência metafísica mais profunda, Criador, se depois de acessada a página do banco, esperasse ali até que surgisse algum dinheiro na minha conta, ó Senhor Meu Deus e Teu Pai, digo, ó Seu Deus e Meu Senhor, bem, ó Meu Seu Deus Senhor, ah, ó Uma Das Duas Coisas. Mas peço que desconsidere esta última carência de esperança, meu Batman Divino, porque para explicá-la teria de usar conceitos quânticos, Grande Luz, e meus conhecimentos na área só vão até a lei da gravidade, e mesmo assim quando estou deitado, ó Holy Cow. Fora isso, chegava muito perto da transcendência mística quando provava um pastel de Santa Clara, Cristo-Jesus, e já tive epifania uma vez com alho-poró frito ao molho de alcaparras, Santo Deus. Em suma, meu Delfim Netto do Ar, ainda que desconheça testemunho de fé maior que torcer pelo Sport, Jesus, a verdade é que nunca fora um homem religioso, Maomé. Analogia que nem bem se sustenta, porque todos sabem que o Sport disputa a Primeira Divisão há alguns anos e o Senhor, perdoando a franqueza e pedindo que não jogue um raio na minha cabeça como é de vosso santo costume, ó Generosíssimo, há pelo menos dois séculos que está na Segundona, Criador dos Céus, da Terra e da Julianne Moore. Admiro a fé do brasileiro e até acho, ao contrário de muitos, que faremos um papa um dia, Stephen King do Bem. Basta para isso que a estupidez ou a idiotia virem religião, Onisciente meu. Mas a verdade é que, em matéria de pátria espiritual, bem sabeis, Segunda do Plural, nasci dentro de um filme sueco, ó Bob Pai. Porém, há alguns meses moro diante de uma igreja neopentecostal, meu Pastor E Nada Me Faltará. E devo dizer que é inacreditável o poder que essas instituições têm de converter infiéis a Ti, ó Glória Aleluia Eparrê Três Toques Na Madeira. Fui convertido pela música, ó Abstração Antropomórfica. Imagine Vossa Transcendentíssima que a instituição, caridosa que é, conta com um coro de Gagos Traqueostômicos com Parkinson que é das coisas mais belas que apareceram no Hemisfério desde a gripe espanhola, ó Cristo. Faz lembrar Beethoven, ó Zana. Sobretudo pela vontade de ficar surdo que a gente tem ao ouvi-lo, ó meu Niemeyer Mais Novo. Se alguém duvida do Pentecostes, precisa vir aqui aos domingos, Pai. O verso mais inteligível que escutei até agora foi cantado em zé-ramalhês arcaico, ó meu Platão Para as Massas. E posso até estar enganado, mas acho que os cânticos deles, dada a clareza, são traduzidos pela ferramenta de idiomas do Google, Criador Meu. Em suma, ó Deus, quero dizer que me converti a Vossa Humilde Pessoa Infinita e Onipotente graças a esses abnegados cristãos, e agora me ajoelho aqui humildemente, ó Salgador da Mulher de Lott, pedindo que volteis, meu Cristinho Querido. Ó Nazareno, vós que morrestes na cruz, bem sabeis o que é a tortura, e olha que naquela época nem existia o horário nobre da TV. Senhor meu Deus e meu Pai, volta logo, meu Deus, para que não tenha que ouvir ganidos às dez da noite, e possa ter paz, ó Antonomásia Maior. Que venha o Vosso Reino, Jesus, e a gente aqui em casa não caia em tentação e acabe arrancando os tímpanos com um alicate de unha. Que seja feita minha vontade, aqui na sala como no quarto, e prometo até parar de ler Voltaire e escutar um disco inteiro de Frejat, ó Pai. Aleluia Deus, Amém, Para Sempre Seja Louvado, Te Deum Laudamus, De Rerum Natura, Santo, Santo, Santo, o Jipe do Padre Fez um Furo no Pneu, sem mais subscrevemo-nos etc., ect.