12 de novembro de 2007

ENGANAÇÃO


No último round, vimos Heráclito chamar o célebre Pitágoras de erudito sem inteligência. Aprender muitas coisas, advertiu, não dá inteligência a ninguém. Ocorre que nenhum grego praticara a investigação científica tanto quanto Pitágoras, que, tendo lido muito e de grandes sábios, reclamou para si mesmo sabedoria maior que a de qualquer um. Quem conta a história é o próprio Heráclito, para quem essa sabedoria não passava de... fraude.

PERGUNTA FEITA AO HADES

Quantos quilos de Will Self, Brad Buchanan, Don DeLillo, Pat Barker, Tim O’Brian, Kazuo Ishiguro, Philip Roth e congêneres valem um hexâmetro de Ovídio?

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REMUNERA-SE BEM

Sumiu desta redação há alguns dias o jornalista Tony Marques. Quem tiver alguma informação que ajude a encontrá-lo, por favor, pedimos que se cale. Remunera-se bem.

BOLSA-LIVRO

Segundo Polzonoff, o governo do Chile tem um programa de fornecimento gratuito de livros para seus cidadãos. Proponho medida semelhante aos comentaristas do SDT. Distribuiremos àqueles que vierem à redação, livros de autores anônimos ou sem sobrenome. Permitiremos o uso de máscaras.

NO ÔNIBUS

-- Expõe o analfabetismo funcional dele por aí.
-- Como assim?
-- Lê textos, não entende e comenta.
-- Uhm. E não tem vergonha?
-- Não, faz isso anonimamente.

DEMOCRACIA

Sexta-feira assisti à entrevista de Arnaldo Jabor no Jô Soares. Sim, às vezes também assisto ao Amaury Jr., caros leitores. E não perco o Roda Viva. Trata-se de um ato sagrado para mim: a autoflagelação.

Jabor comunga com Caetano Veloso de uma característica ímpar, que sempre me impressionou: ambos são capazes de dizer algo absolutamente genial num instante e, no seguinte, a maior idiotice jamais ouvida. Talvez o fato se relacione aos hemisférios cerebrais. No caso de Jabor, claro, pois, como se sabe, o baiano nasceu desprovido deles.

Na entrevista de que falo, Jabor estava muito agradável e teve um gesto dos mais dignos quando disse não ter opinião formada sobre a obrigatoriedade do imposto sindical. “Não sei”, falou, coisa que jamais escutei na televisão, lugar por excelência de gênios conhecedores de Tudo, a Enciclopédia do Conhecimento.

(Aliás, o próprio Jabor faz parte de um fenômeno cultural mais amplo e bastante disseminado atualmente na imprensa. Na Renascença e na Antiguidade, a polimatia era regra entre sábios. A modernidade trouxe a figura do cientista especializado no seu ramo científico. A pós-modernidade, por sua vez, estimula a polidoxia: o sujeito é especialista em tudo, ainda que não saiba de nada.)

A dada altura da entrevista, o comentarista político soltou uma daquelas inverdades que, de tão repetidas, acabam perdendo o prefixo: o governo FHC enfrentou ferrenha oposição do PT, enquanto a oposição ao atual governo é pífia.

Minha memória não é boa, caros... caros... Enfim, minha memória não é boa, mas eu me lembro, por acaso, de que foi no período FHC que se cunhou a expressão “rolo compressor do governo” para a aprovação pura e simples das matérias de interesse do Planalto no Congresso. Afinal, a base governista contava nada menos que com os três maiores partidos da Casa. Podia aprovar o que bem queria, inclusive enterrar uma série de CPIs.

Por outro lado, o PT não tinha o tamanho que tem hoje. Fazia barulho, mas o resultado prático de sua oposição era praticamente nulo. A não ser em matérias de interesse do governo que se encontravam mais à esquerda no espectro ideológico e não encontravam eco na base aliada, o governo não era forçado a conversar com a oposição.

No governo FHC se aprovou pelo menos uma aberração política e jurídica: a reeleição para beneficiar políticos no exercício do cargo, coisa que até o faxineiro do Congresso sabe inconstitucional. Isso, para não se falar na suposta compra de votos para aprová-la. Suposta, claro, pois não houve CPI. Tampouco o assunto foi aprofundado pela mídia.

A mídia, em tempos de democracia, talvez nunca tenha sido tão condescendente com um governante. FHC encantava os jornalistas. Um ou outro colunista, sim, descia a lenha no Príncipe. Nos artigos de opinião, permitia-se. Nas matérias, no entanto... Basta dizer que até hoje é tabu nas redações um simples caso extraconjugal que FHC teve com uma jornalista.

Ora, alguém é tão ingênuo a ponto de achar que mensalão ou coisa que o valha é obra deste governo? O que este governo tem de diferente do de FHC, além do pouco domínio do idioma, é justamente aquele que talvez seja seu único mérito: é investigado. Exaustivamente investigado. Pelo Congresso, pela mídia.

A partir de matérias aprofundadas, por exemplo, a imprensa transformou a denúncia inicial de Roberto Jefferson em um escândalo sem precedentes. Sem precedentes, porque jornais e revistas fizeram seu papel: investigaram, denunciaram, aproveitaram-se do operoso trabalho parlamentar, que conseguiu criar uma CPI.

Aliás, neste governo foram criadas várias. No governo FHC, a impressão é de que nada se investigava: nem o Congresso, nem a imprensa, nem o Ministério Público. O Procurador-Geral da República então tinha a alcunha de “engavetador-geral”. Ou a memória de vocês é pior do que a minha?

Paremos, portanto, de repetir tolices — não é preciso, o atual presidente já as diz em abundância — e sejamos honestos: apesar do PT e a despeito da inoperância, o governo petista é garantia, ao menos, de que nem toda a sujeira endêmica que atravanca o país há séculos será empurrada para debaixo do tapete. Ainda que isso independa de sua vontade, claro.

(Comentários sobre como esta postagem é petista ou direitista, por favor, encaminhem ao nosso editor.)

LITERATURA NOVA

Para agradar a amigos que reclamam da minha neofobia literária, resolvi comprar os últimos romances publicados. E confesso que gostei. Aliás, não foi surpresa. Sempre fui fã da literatura do século XIX.

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