14 de janeiro de 2009

O ACORDO

Quem conta é o livreiro e editor Alberto Abreu.

O linguista, filólogo e historiador da "inculta e bela" Serafim da Silva Neto tinha uma opinião que gostava de repetir quando o assunto era uniformização ortográfica:

– Não me importa se 'gato' se escreve com x ou com n.
– Mas Serafim, 'gato' é com g!
– Ah é?

POR QUE O BIG BROTHER NÃO OFERECE UM PRÊMIO DE UM MILHÃO DE NEURÔNIOS PARA AQUELES CÉREBROS DESABITADOS ?

Aviso à praça que entrarei em período de hibernação.

Credores, saiam do caminho. Terráqueos, respeitem meu silêncio.

Daqui a quatro meses, quando o Big Brother Brasil tiver terminado, me acordem, por favor.

Por ora, desacordado, estarei livre de ter os tímpanos maltratados pelos gritos de "uh! uh!", pronunciados por aquele aglomerado de sumidades que buscam o prêmio de um milhão de reais.

Uma dúvida embalará meu sono, durante o período de devoção absoluta ao Deus Ócio : um prêmio de um milhão de neurônios não seria mais útil para aqueles cérebros desabitados ?

Com um milhão de neurônios injetados em seus cérebros, os Big Brotheres poderiam, aí sim, fazer alguma coisa de útil à humanidade, aqui fora. Quem sabe, um dia amealhariam um milhão de reais.

Mas rendo-me à força avassaladora dos fatos. O mundo não é assim, oh boy.

Apago a luz, desligo a TV para sempre, desconecto-me.
É hora de recolhimento.

Caminho, cabisbaixo, em direção aos meus aposentos.
Enquanto movo meu aglomerado disforme de ossos,músculos e tédios em direção à cama, pronuncio grunhidos ininteligíveis. Nem eu consigo decifrá-los.

Jogar ao ar imprecações balbuciadas em tom de voz inaudível faz parte do show que há décadas enceno para um único e lastimável espectador : eu mesmo.

Nesta caminhada de vinte e cinco passos, minha única companhia é minha ingenuidade, que há séculos puxo por uma coleira imaginária.

Os dois - eu e minha triste ingenuidade - dormiremos, a partir de agora, um sono profundo, intocado pelos bigs, pelos brothers e pelo Brasil.

Não há felicidade maior.

A PARTE MAIS BELA E COMOVENTE DO LIVRO "O JOGO DA AMARELINHA" É A FRASE FINAL: "COMPOSTO E IMPRESSO NAS OFICINAS DA NOVA FRONTEIRA S/A"

Do blog de Marconi Leal ( http://marconileal.opensadorselvagem.org/ ):



Lucano foi a primeira personalidade propriamente literária de que se tem notícia e o precursor do que conhecemos hoje como mundo artístico. Prova disso é que foi capaz de vender a própria mãe.
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Tenho um amigo que começa O Jogo da Amarelinha na página três, pula para o prefácio, lê as orelhas, vai à quarta capa e daí por diante. Segundo ele, a parte mais bela e comovente da obra é a frase ao final: “Composto e impresso nas oficinas da Nova Fronteira S/A”
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O problema da edição de bolso de Guerra e Paz é que para carregá-la você precisa colocar o bolso dentro de um carrinho de mão.
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Tentaram fazer uma edição de bolso de A Montanha Mágica, mas o máximo que conseguiram foi uma edição de alforje.
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O livro mais complexo que li até hoje foi o manual do motorista do meu carro.
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O que mais admiro em Machado é o domínio da língua. Coisa tanto mais admirável quando se sabe que tinha epilepsia.
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No que dependesse do meu amor a Joyce, o Bloomsday seria comemorado no mesmo dia do Halloween.
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Dizem que as edições dos livros de Paulo Coelho em búlgaro e esloveno são perfeitas: não se entende nada do que está escrito.
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O título de obra literária mais descritivo que conheço é Em Busca do Tempo Perdido. Há anos, pelo menos, tento recuperar o tempo que perdi ao lê-la.
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Meus livros de cabeceira são o Houaiss, o Aurélio e o Vocabulário Ortográfico. Sobre eles coloco o abajur, um copo d’água e os livros que leio antes de dormir.