12 de setembro de 2008

A TV SÓ CONSEGUE EMITIR TRÊS COISAS: LUZ, SOM E PARVOÍCES

Deus, dai-me soberba para suportar o rugido das feras - mas não agora.

Porque agora, para surpresa de beócios do quilate de Nicomar Lael, cometerei um gesto de magnanimidade suprema, nada compatível com a soberba a que preciso recorrer para me proteger da idiotia alheia.

Direi a Nicomar Lael, este animal rastejante que vive prospectando páginas dos dicionários em busca de palavras e expressões em desuso que lhe concedam a aparência de sábio: oh, pulha, festejai, gritai "alvíssaras!" ao céu mudo, porque confessarei que concordo contigo num ponto - apenas num! Já, já, direi qual é o único e escasso motivo de nossa concordância.

( Mas, antes, quero te deixar ciante de que, em homenagem a teus neurônios de baixa extração, atuarei como atuam adultos diante de crianças: farei de conta que não, não conheço, sequer desconfio de teus truques. Farei de conta que não sei que, como se fosse um labrador faminto, deslizas as patas pelas páginas de velhas edições de dicionários comprados em sebo, em busca de vocábulos como "charneca", "brâmane", "trautear", "atólito", "estrídulas" , "estúrdia" "eutimia" e coisas que tais, com a única intenção de contrabandeá-los em teus textos e, assim, tentar atrair, pelo exotismo das expressões, a atenção de leitores desavisados. Debalde. Direi que consegues apenas atrair a piedade.

Obterias efeito idêntico se, no lugar da recitação de tais anacronismos, simplesmente te dedicasses a um exercício mais simples: bastaria afastar ligeiramente a arcada dentária superior da arcada dentária inferior, mobilizar as cordas vocais e produzir o som que emites com tanta graça e desenvoltura desde o dia do nascimento: au-au-au-au. Bastaria fazer o que fazes tão bem: latir!
Mas, não. Insistes em escrever).

Feita a ressalva, digo que sou forçado a concordar num ponto com o sr. Nicomar Lael (volto a indagar aos céus: de que balcão de cartório de floresta terá brotado tal nome, uma cacofonia formada por vocais e consoantes em choque ?):
é perda de tempo ficar chocado com os barbarismos ditos por gente supostamente "ilustrada" na TV.

Sempre achei que, desde que mantida sem som, a TV pode ter uma excelente utilidade: deixa o ambiente à meia-luz, o que pode ser bom para as retinas fatigadas. Mas este eletrodoméstico que fala não deve, claro, ser levado a sério, porque, com raríssimas exceções, só consegue emitir três coisas: luz, som - e parvoíces.

Assim, não é de estranhar o desfile de horrores que assaltam nossos olhos a cada vez que olhamos de soslaio para os vídeos. Lá estarão anúncios engraçadinhos paridos por publicitários que se julgam gênios; celebridades idiotas tentando nos vender produtos e serviços que vão de telefones celulares a cervejas e bancos; jornalistazinhos fazendo trocadilhos infames, como se trocadilho fosse capaz de dar nobreza a textos capenguíssimos; o lixo, o lixo, o lixo.

Tive,portanto, uma iluminação. Da próxima vez que ouvir alguém dizer "meu óculos" na TV, restarei indiferente. Farei o que deveria ter feito das outras vezes:
tirarei o som.

Assim, esta fábrica de estultices finalmente cumprirá o papel que lhe cabe,por merecimento: deixar o ambiente à meia-luz.

Poderei, então, mergulhar no sono profundo, cavalgar por toda a noite por territórios de sonho, onde não há lugar para os parvos e os beócios - e os aparelhos de TV.

NASA COMPROVA: INEXISTE VIDA INTELIGENTE EM TOM CARNEIRO

Em charneca do antigo Ceilão, certa vez, vi uma ostra que, ao estalar dos dedos de um brâmane, recitava Baudelaire. Em Alexandria, enquanto tapava o nariz com meu lenço de seda debruado a ouro, ao passar por uma viela do bairro portuário, observei por minutos uma lesma que, comandada por um etíope, resolvia equações de primeiro grau. E, por fim, em visita a amigo em Sidney, acompanhei encantado um coral de macaquinhos trautear a adaptação de Schiller da Nona. (Sim, nasci em um e, por razões variegadas, já estive nos outros três continentes bárbaros. Só me resta agora, depois de morto, ir ao Hades, para colmar o tour pelos cinco rincões mais horrendos já habitados por humanos ou quase humanos).

Daí ter pensado, a princípio, que não acararia dificuldades de monta ao porfiar por introduzir uma única, gritantemente evidente, palermamente rasteira, translucidamente óbvia idéia no interior da caixa craniana do Sr. Tom Carneiro. Entretanto, desprovido do reclamado treino de adestrador e desatendendo a princípios basilares da Física, apercebo-me, contrariado, após três dias de malogros e esperdício de mais de cinqüenta vocábulos diferentes (que dariam, quando pouco, para escrever seis ou sete romances brasileiros contemorâneos e ainda sobrariam alguns substantivos), de que não, a inteligência não se propaga no vácuo.

O cômputo não me deixaria de todo atólito, porém, caso não viesse acompanhado do maior insulto às faculdades mentais de que tenho notícia, ao menos desde a última feita em que Caetano Veloso abriu a boca: li que o Sr. Tom Carneiro se propala ínclito defensor da cultura erudita e da língua pátria, atingindo o vértice do mais alcantilado dislate ao acrescentar estar em campanha para salvá-las!

Querido Tom (permita-me chamá-lo assim, reproduzindo o carinho que dedico aos meus diletos criados, enquanto afavelmente os repreendo com bengaladas na cabeça), após me levantar do piso de mármore italiano de meu living, onde estive me contorcendo às gargalhadas estrídulas, do tipo que só me escapou antes quando soube da morte de Duchamp, informo o seguinte: no que depende de você, a melhor maneira de granjear seus objetivos, Tom, é manter-se a cerca de um ou dos quilômetros de um teclado de computador — determinação que, de resto, fosse este um país e não uma maloca prenhe de mulatos dotados de meio hemisfério cerebral, já deveria estar regulada em lei, para bem da coletividade.

Dito isso, regressemos ao cândido argumento descompreendido por vossa estúrdia, Tom. Ei-lo, simples, direto e medíocre, como manda seu manual de redação: deblaterar contra a incúria no uso do plural por parte de seres inferiores que povoam um sítio cafona e alobrógico como a TV, Tom, evidencia grau irrestrito de imbecilidade.
.
Ah, Tom, Tom, Tom, por favor me entenda: esse gênero de atitude (aqui — perceba minha caridade, leitor —, sigo o Cristo e recorro à analogia, figura proveitosamente empregada em diálogos com plebeus e débeis de raciocínio, pendoem-me a redundância) é semelhante à de um incauto que, indo a um show de golfinhos, sai de lá a denunciar que os animais fazem ique-ique, saltam, contorcem-se e representam um espetáculo digerível apenas por retardados mentais, jornalistas e crianças de dois a três anos.
.
Em suma, trata-se de comportamento típico das almas simplórias, Tom, a divulgação entusiastiástica do consabido até pelos ienas mancas do zoológico de Zurique. Que interessa se um chimpanzé come bananas com garfo ou usa os dedos, Tom? Quem se preocuparia uma centelha de centésimo de segundo com a observância de regras de bom-tom entre as aranhas, senão um vabagundo, um indolente irrecuperável ou alguém que perdeu 95% da massa encefálica, Tom?
.
Ademais, Tom, o mero ato de assistir à televisão, nem que seja à banda de cores que aparece, segundo me informam, antes das estações entrarem no ar, é próprio de subgente, analfabetos e neuronialmente prejudicados em geral, Tom, e não de defensores da alta cultura.
.
Compreendeu agora, ó sublime encarnação do burro de La Fontaine? Se não, me diga, por obséquio, pois procurarei desenhar ou fazer mímicas no próximo post, Tom, ó Tom, minha amada cavalgadura.

O QUE É QUE FAZ UM SER HUMANO FICAR PRODUZINDO POSTS PARA UM SITE COMO O SOPA DE TAMANCO ? QUEM HAVERÁ DE DESVENDAR ESTE MISTÉRIO ?

Questão de ordem, senhor presidente!

Preciso tirar uma dúvida que vem agitando minhas florestas interiores nos últimos dias : o que é que faz um sujeito usar o horário comercial para ficar maquinando posts de tamanho e interesse variados num site tão mambembe como o Sopa de Tamanco, como fazem, com tanta frequência, os senhores Tom Carneiro e Nicomar Lael ?
Os dois por acaso estão desempregados? Vivem de FGTS ? Recebem Bolsa Família ?
Não conseguiriam arranjar passatempos mais úteis, como, por exemplo, uma boa tradução? Ou a redação de um livro - que ninguém leria ? Os dois pensam em se demitir ? Querem provocar seus patrões ? Não poderiam, alternativamente, usar o tempo para lavar a louça - ou passar uma vassoura na sala de suas respectivas residências ?

Que força estranha será esta que os leva a postar ?

CAMPANHA CONTRA OS TROCADILHOS ENGRAÇADINHOS

Simples assim: um bom jornalista não escreve trocadilho.

DIAGNÓSTICO: SOPA DE TAMANCO PERMANECE NA UTI, MAS OS SINAIS VITAIS ESTÃO PRESERVADOS

Ah, se não fossem os funcionários que usam o computador no trabalho para vadiar (ou seja: navegar por sites rigorosamente inúteis como este), o número de acessos do Sopa de Tamanco seria algo próximo de zero.

Obrigado, povo do Brasil! Enquanto os chefes desses especialistas em navegação vadia não desconfiarem de nada, o site estará salvo.

O número de acessos, é claro, continua igual a um macaco prego - patético e a caminho da extinção. Mas haverá sempre um punhado de internautas fiéis, dispostos a resistir até o último post.

Graças a estes anônimos heróis da resistência, o moribundo Sopa de Tamanco, há meses trancafiado numa UTI por absoluta inanição, avisa: os sinais vitais estão preservados.

As notícias sobre nosso desaparecimento foram, obviamente, exageradas.

CONFIRMADO, NA REVISTA TPM: PUBLICITÁRIOS SÃO UMAS ANTAS!

Desavisadamente, abro um exemplar da revista TPM. Boa leitura. Mas eis que, no texto de um anúncio, leio uma pérola digna de entrar na antologia da cavalice: a palavra "antibraço" !!

Prefiro não acreditar. Mas não há como fugir da evidência espetacular dos fatos: a página é 115 da edição número 80 da revista - a que traz Cláudia Abreu na capa.

O autor(a) do anúncio inventou um membro novo para o corpo humano: o inimigo do braço!! O antibraço, portanto. O incrível é que o texto deve ter sido escrito, reescrito, revisado, aprovado "n"vezes.

O gênio do antibraço haverá de ganhar o prêmio Nobel de Fisiologia, por merecimento. Jamais tinha ocorrido a alguém que o braço possuía um inimigo tão próximo. O anúncio, meio disfarçado de matéria, é de uma marca de óculos - a Arnette.

O "antibraço" nos faz lembrar uma pérola publicada num anúncio milionário de um carro Toyota na revista Veja: o gênio do texto escreveu que era hora de "encarar de frente".

Por acaso alguém já encarou de trás ?

A pergunta que fica no ar é inevitável: quantos mil dólares as empresas devem ter pago aos produtores desses anúncios para que eles produzissem tamanhas estultices ?

É a velha história: nascem mil otários a cada minuto.

Haverá sempre um publicitário pronto a cometer uma gracinha, escrever um absurdo
e, pior, posar de gênio.

Ah, antes que alguém lá na última fila faça a pergunta inevitável - "E os jornalistas ?"-, respondo, sem pestanejar:

os jornalistas são dez vezes piores, é claro.

Alguma dúvida ?

RODRIGUIANAS BRASILEIRAS

A pior forma de solidão é a companhia de um aparelho de TV.

MADONNA: CHATA, CHATOLINA, CHATÍSSIMA

Nasce um idiota a cada minuto, diz o ditado, atribuído a um empreendedor americano.

Haverá sempre um idiota pronto a consumir qualquer idiotice que lhe ofereçam.

E quando dezenas de milhares de idiotas se reúnem formam o quê ?

Fácil: a platéia de um show de Madonna.

A mulher é chatíssima. Sempre que aparece em entrevistas patéticas exibe aquele ar entediado de quem se julga superior ( o pior de tudo é que o ex-marido da anta, o ator Sean Penn, consegue ser tão blasé e tão antipático quanto: invariavelmente, aparece, tanto em filmes quanto em entrevistas, com expressão de quem tomou um litro de purgante).

Idiota diplomada, Madonna jamais disse uma frase aproveitável. Há anos não lança uma música memorável.

Agora, vem ao Cone Sul da América, recolher dólares dos incautos.

Nascem mil idiotas a cada segundo.

A RAZÃO DO FIASCO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

Cientificamente comprovado: enquanto Ronaldindo Gaúcho estiver usando aquela bandana, aquele brinco e aquela pulseira, não há a menor possibilidade de a seleção brasileira jogar algo parecido com futebol.

Quem me soprou o caminho das pedras foi João Sandanha - numa rápida aparição às três e cinco da manhã desta sexta-feira.

DEUS, DAI-ME PACIÊNCIA. MAS NÃO AGORA.

As palmeiras que crescem, inadequadas, nas areias do Leblon se agitaram hoje pela manhã (Digo "inadequeadas" porque elas, as palmeiras, devem ter estar ali não por um favor da natureza, mas por terem sido plantadas, à beira-mar, por algum político em campanha, devidamente escoltado por uma matilha de ecologistas fêmeas de sovaco cabeludo, sandália de dedo, óculos de aro redondo e saias que parecem balões extra-terrestres).

Como eu ia dizendo antes de ser interrompido por mim mesmo: a agitação das folhas das palmeiras não se deveu a alguma erupção inesperada de ventos de sudoeste. Não. O que moveu as folhas foi o enorme, inédito suspiro de tédio que exalei ao concluir a leitura da última diatribe do sr. Nicomar Lael.

Ah, a irresistível compulsão exibicionista dos beócios...

O sr. Nicomar ( que nome! De que escrivaninha de cartório interiorano terá brotado tal combinação desconjuntada de vogais e consoantes ?) quer que os incautos creiam que ele é o guardião da "alta cultura". A julgar pelo que ele diz, eu, ao acusá-lo de exibicionismo, não passaria de um apóstolo do horrível relativismo cultural: aquele que proclama como bom o que é indefensavelmente ruim - e chama de apenas ruim o que é incuravelmente péssimo.

Aos olhos simplistas do sr. Nicomar, o mundo se divide em duas porções. De um lado, os simplórios - que chamam os cultos de "exibicionistas". De outro, os "cultos" - que precisam desesperadamente dar amostras de que leram os livros que ninguém leu.

Que tempos ! Que costumes! Acorda, Paulo Francis! Ele, Nicomar, enlouqueceu!

O que declarei em blogs anteriores reafirmo agora diante deste tribunal imaginário: relativista é o sr. Nicomar - que teve chiliques simplesmente porque chamei de ignorante gente que diz "meu óculos" e "o óculos". Não importa que esta gente seja diplomada ou supostamente ilustrada: ao cometer erro tão crasso, cometem, sim, um ato de ignorância. É preciso dar nome aos bois - e aos burros.

Ao defender, indiretamente, esta gente, o sr.Nicomar ( que nome! De que academia de letras sub-interiorana terá surgido tão desafinado arranjo de vogais e consoantes ?) faz exatamente o que me acusa de ter feito: tolera manifestações de óbvia ignorância como se fossem saudáveis variações da norma culta.

Não me animo a ir adiante nesta polêmica porque o sr. Nicomar ( que nome! De que balcão de farmácia suburbana terá saído tal cacofonia de consoantes e vogais?) é um armarinho ambulante de contradições: quer se fazer de culto,mas defende, indiretamante, os ignorantes. Ora, defender os ignorantes é rezar para que a ignorância se perpetue. A vereda da civilização é outra: combater a ignorância é abrir caminho para a felicidade.

O sr. Nicomar chama-me de relativista cultural, mas comete o pior dos relativismos: admite a estultice alheia como se fosse algo tolerável. Não é.

Gestos assim provocam o que já sentimos há tempos sob nossos pés fatigados: tremores que indicam, inequívocos, os últimos suspiros de uma civilização.

Retiro-me de cena. Mas advirto o sr. Nicomar ( que nome ! De que discurso de vereador de aldeia terá saído tão estapafúrdia combinação de vogais e consoantes ?): minha guerra contra as empulhações não pára aqui. É uma guerra perdida por antecipação, eu sei. Mas as melhores e mais belas batalhas são, justamente, aquelas em que o melhor guerreiro não terá chances de vitória. Sempre foi assim.

Assim, rogo aos céus: Deus, dai-me paciência. Mas não agora.

Porque,agora, preciso de impaciência e destemor para enfrentar as falanges do mais sorrateiro dos inimigos: os congregados nicomarianos, gente que, sob um suposto verniz culto, bate palmas para a sagração da ignorância!

Vou ao estábulo imaginário. Acordo o amigo Rocinante. Os moinhos de vento nos chamam: é hora de partir.

ÚLTIMA RESPOSTA A TOM CARNEIRO OU PEQUENA HISTÓRIA DA ESTUPIDEZ

Estava precógnita na primeira frase. Acentuou-se ao término de um segundo parágrafo. Desvelou-se parcialmente ao cabo de alguns textos. Até que, nas últimas horas, a imorredoura idiotia que impele pancrácios das mais variadas latitudes a classificar toda e qualquer alheta de erudição como “exibicionismo” — palavra anódina, de resto sintomática do mau gosto e da inestética dos parvos —, enfim foi excretada pelo oco craniano do Sr. Tom Carneiro.

O estratagema parido pelo Asno — devem ter-se apercebido os que ainda respiram — é reles e arcaico qual o Impression, soleil levante de Monet. Acata o desenvolvimento cediço da banalidade humana após séculos de democracia, imprensa livre, modernidade, massificação e semelhantes idiotices que tão bem revelam o grau de decadência da sociedade ocidental e engendraram o horror supremo: a ilusão de que a ralé não se constitui de indivíduos inferiores e almas precárias, que ela pode mesmo se alfabetizar e até — oh, suma apostasia! — criar obras de arte.

A completa e óbvia implausibilidade dessas quimeras isonômicas, como se sabe, não refreou o impulso pérfido dos filisteus — pelo contrário. Ante a comprovação de suas inextinguíveis incultura e esterilidade artística, a subgente deu à luz o Grande Sofisma, escape preciso e ardiloso, arma preferencial de cobardes de camarinha, padres, fêmeas e invertebrados: a idéia de que, em arte ou comunicação, o fundamental é ser simples, claro, direto, fácil, prosaico, medíocre.

Eis aí, em um parágrafo, a horrífera descrição do maior engodo da História, da estocada à treição que elevou alarves para sempre à condição de sábios, em fins dos oitocentos. Tão cínica escamoteação da ignorância e da falta de recursos criativos, repentinamente demudadas em virtudes por graça de um blefe assustador, renderia o báratro aos mistificadores na Grécia pré-socrática. Em Roma, o empalamento. Entre nós, tem forjado gênios.

Modernidade, pós-modernidade, contemporaneidade, solércia ou estultice. Qualquer que seja o termo purulento empregado para descrever esta época em que o horrendo ousa se declarar belo; inteligente, o perdulariamente estúpido; e descomplicado, o inábil e mal-acabado, é ela a principal responsável por sermos obrigados a sofrer a sem-cerimônia e o despudor com que um Sr. Carneiro qualquer, rematado palúrdio, se vê autorizado a imprecar contra termos que, em civilizações medianamente instruídas, deveriam ser de conhecimento, ao menos, do mais obtuso aristocrata.

Ah, espetáculo teratológico! Mais algumas décadas e, não duvido, finalmente regressaremos ao uso de flechas, desabilitaremos o aparelho fonador e aplicaremos o cérebro somente em tarefas cardinais, como as de servir de isca de pesca ou de enfeite para jardins.

Então, excogito, criaturas como o Sr. Carneiro, cuja maior realização intelectual foi ter decorado a tabuada do nove, liderarão manadas inteiras de bípedes; surdirá uma religião que idolatrará uma torradeira elétrica enferrujada como criadora eterna e indivisível do Universo; e com um único sinal (dois ou três giros do polegar ao redor da orelha) será possível transmitir todo o rol de sentimentos, memórias e raciocínios humanos.

Até que, por fim, restará uma solitária esperança de redenção: a de que hamsters ou guaxinins consigam salvar um resquício que seja de vida inteligente na Terra.