30 de dezembro de 2008

TESTE PARA SELEÇÃO DE JORNALISTAS

Uma sugestão aos responsáveis pelos departamentos de pessoal das empresas jornalísticas: depois de pesquisas que se arrastaram por meses, os especialistas do Sopa de Tamanco conseguiram montar um teste infalível para seleção de candidatos a vagas nas redações.

O candidato ao emprego deve ficar imóvel durante três minutos, diante um fiscal da empresa.

Se, ao final deste prazo, o candidato não latir nem relinchar deve ser sumariamente eliminado, porque não serve para a profissão jornalística.

Se, no entanto, o candidato emitir latidos e relinchos terá provado que é jornalista legítimo. Deve ser imediatamente contratado.

Porque mostrou estar preparado para ingressar nas redações brasileiras e produzir os jornais, revistas e programas de TV mais chatos do mundo.

15 PONTOS BÁSICOS PARA ENTENDER POR QUE DEUS NÃO É BRASILEIRO E PROVAVELMENTE NÃO TORCE PELO FLAMENGO

1. Se Deus fosse brasileiro, para começo de conversa, o sol não nasceria para todos, apenas para quem tivesse assinatura mensal, cujo preço seria o equivalente ao valor do sol pela cotação islandesa, multiplicado pela massa de Júpiter e dividido em prestações de acordo com o ano lunar.

Isso, caso você assinasse o pacote premium, que garantiria o direito a ver cinco cores, bronzear dois braços e uma perna, colocar seis cuecas no varal para secar (varal não incluído no preço) e fazer fotossíntese à vontade (promoção por tempo limitado). Outras propriedades e funções da luz poderiam ser compradas em raios individuais pelo sistema de pay-per-sun, que funcionaria ou não, a depender da sua fé nas atendentes de telemarketing.
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O pacote básico permitiria apenas fritar um ovo no cimento e queimar uma resma de papel com uma lupa. Porém, misericordioso, Deus pensaria nos mais humildes e encarregaria uma falange de anjos de vender baratinho o gato solar, gambiarra que, reaproveitando a luz da lua, incluiria também os serviços de segurança, fornecimento de gás natural e comércio de maná e espadas flamejantes.

2. Se Deus fosse brasileiro, as catástrofes naturais não atingiriam a todos indiscriminadamente. Com algum dinheiro por fora, avisaria os eleitos, com antecedência, da chegada de um furacão, de uma tempestade, de uma nevasca ou de uma sogra. Abriria um instituto de meteorologia através de um laranja, ficaria milionário e acabaria numa CPI, graças a denúncias do Espírito Santo, inconformado por não ter se envolvido na negociata. Subitamente elevado à categoria de herói nacional, o Espírito Santo posaria nu para a G Magazine e Deus fugiria para a Europa.
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3. Se Deus fosse brasileiro, as estações seriam 37, mas alguns juristas defenderiam a existência de 42; outros, de 29; outros, ainda, de 76; enquanto a OAB fecharia o caso em 11 ou 315, a depender da comissão. O que não significaria muito, porque, no final, só duas seriam observadas na prática: o Verão 1 e o Verão 2, não se sabendo exatamente sua ordem, data de início ou tempo de duração.
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CHUCK NORRIS É MEU PASTOR E NADA ME FALTARÁ, EXCETO TALVEZ UM OU DOIS DENTES

No princípio destruiu Chuck os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia, porque Chuck dera um golpe de kick boxing nela e com uma cotovelada mandara as trevas para longe, arrastando o pobre Espírito de Deus, que pairava sobre a face das águas. E Chuck estapeou a face das águas e afogou o Espírito de Deus no abismo, para ele deixar de ser besta.

E disse Chuck: “Faça-se a luz, motherfucker”, e a luz, que é ajuizada, se fez. E viu Chuck que a luz era boa para levar umas porradas, e saiu desferindo cascudos em fótons, prótons, elétrons e demais partículas subatômicas que apareciam pela frente. E com um coice apartou a luz das trevas; e Chuck chamou à luz Fucking Dia, e às trevas Fucking Noite.
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(Texto completo, aqui)

COM A MORTE DE DEUS, PSDB PERDE UM FILIADO

Mataram Deus no século XIX com dois ou três sofismas na cabeça e seis silogismos à queima-roupa. O episódio foi semelhante ao do assassinato de César, com a diferença fundamental de que Deus não estava no Senado e, que saiba, não sofria de epilepsia. O ponto de contato é que ambos tinham a mesma mania de grandeza, apesar de o divino Júlio deter obviamente mais poder.

O Senhor passeava tranqüilo sobre a face das águas quando Nietzsche, que tinha entrado no Paraíso à socapa, com a intenção de matar Sócrates, deparou-se com Platão, banhando-se num lago de águas cristalinas e pensando: “Se o lago do mundo ideal é assim, imagina o lago do mundo ideal do mundo ideal!”
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(Texto completo, aqui)

29 de dezembro de 2008

CAMPANHA CONTRA O ANÚNCIO "SOMBRANCELHA"

Venho, através desta, declarar meu sincero e inútil apoio à campanha do Sopa de Tamanco contra os anúncios que, veiculados em horário nobre, trazem absurdos como "sombrancelha".

O Sopa já tinha chamado a atenção dos caros internautas para outros absurdos, como o texto de um anúncio de carro, em página nobre da Veja, que trazia a pérola "encarar de frente".

Quem escreve "encarar de frente" deveria sair algemado da agência de publicidade.

Mas, não.

Deve ter cobrado uma nota para escrever tal preciosidade....

Não é má vontade com publicitários em geral, não.

Mas aposto uma boiada:

os gênios que criaram o anúncio "sombrancelha"....

a) consideram-se mal pagos. Devem achar que merecem um salário muitíssimo maior
b) é provável que usem gel no cabelo
c) contrabandeiam uma palavra ou expressão em inglês a cada duas frases que pronunciam
d) acham sinceramente geniais os belos anúncios que concebem

Faço estas suposições porque um dia um de nossos confrades do Sopa teve a chance de ver uma cena inesquecível numa faculdade de jornalismo: um publicitário, com blusinha preta bem justa e gel no cabelo, exibiu, como se fosse uma obra de arte digna do teto da Capela Sistina, o anúncio de uma cerveja em que uma tartaruga fazia umas embaixadas com uma lata. O rapaz tinha criado o anúncio. Falava da peça publicitária, a sério, como se estivesse discorrendo sobre as consequências da descoberta da penicilina.

Um silêncio de pedra percorreu o auditório.

Deus do céu - devem ter pensado os espectadores. O cúmulo do ridículo acaba de ser batido.

Eu diria à platéia, se tivesse a chance de me materializar na penúltima fileira: sim, tens toda razão, oh, caros circunstantes ! ( eu sabia que um dia teria a chance de chamar outros bípedes de "circunstantes")! O recorde do ridículo foi batido, aqui, inapelavelmente, sem que o autor da façanha ao menos desconfie do feito que acabou de cometer!

A conferência do gênio publicitário seguiu até o fim.

C´est la vie.

A ÚNICA TESTEMUNHA OCULAR REVELA COMO BRIZOLA SAIU DO BRASIL EM 1964!

O depoimento completo aqui:


http://www.geneton.com.br/archives/000306.html

JOVEM, ALISTE-SE NESTA CAMPANHA, ESPALHE A CORRENTE PELA INTERNET, MOBILIZE SEUS VIZINHOS: QUEM SERÁ O AUTOR DO ANÚNCIO "SOMBRANCELHA" ?

A CAMPANHA LANÇADA PELO SOPA DE TAMANCO - PARA TENTAR IDENTIFICAR QUEM FOI O GÊNIO QUE BOLOU O ANÚNCIO DE REFRESCO EM PÓ GULA FRUTS EM QUE A ATRIZ CAROLINA DIECKMANN PRONUNCIA, COM TODA CLAREZA, A PALAVRA "SOMBRANCELHA" - GANHA UM APOIO DE PESO.

NÉLSON VASCONCELOS ADERIU À CORRENTE, NO PRESTIGIOSO GLOBO ON LINE:


http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/nelson/


PODE PARECER IMPLICÂNCIA. NÃO É. O COLETIVO DO SOPA DE TAMANCO CONSIDERA INTOLERÁVEL O FATO DE UM ANÚNCIO - VEICULADO EM HORÁRIO NOBRE - TRAZER TAL ATENTADO AO IDIOMA.

É SIMPLES ASSIM: A PALAVRA "SOMBRANCELHA" NÃO EXISTE NA LÍNGUA PORTUGUESA. É UM ERRO CAVALAR. COMO TAL, NÃO PODERIA SER DITA NUM ANÚNCIO VEICULADO NAS TVS.

PROPAGANDEADO NA TV, O ATENTADO AO IDIOMA CORRE O RISCO DE SE ESPALHAR FEITO ERVA DANINHA.

JÁ NÃO BASTA A IMENSA LEGIÃO DE ARTISTAS, JORNALISTAS (!), APRESENTADORES & ASSEMELHADOS QUE PRONUNCIAM IMPUNEMENTE A EXPRESSÃO "O ÓCULOS" ?

E O QUE DIZER DOS QUE DIZEM "PRA MIM VER" ?

O PIOR É QUE É GENTE QUE, EM TESE, DEVERIA ZELAR MINIMAMENTE PELA LÍNGUA, PORQUE USA MEIOS DE COMUNICAÇÃO.

O CASO DE UM ANÚNCIO É MAIS GRAVE.

PELO SEGUINTE: PARA QUE FOSSE LEVADO AO AR, O ANÚNCIO FOI ENSAIADO, FILMADO, REVISADO, EDITADO E APROVADO !!

NÃO APARECEU UMA SÓ VOZ PARA DIZER: "PAREM AS MÁQUINAS! DIZER "SOMBRANCELHA" É DAR UM CHUTE NO OUVIDO DOS OUTROS!".

NÃO. O ANÚNCIO CHEGOU AO HORÁRIO NOBRE.

A GRANDE MARCHA PELA DISSEMINAÇÃO DA IGNORÂNCIA DEU UM PASSO ADIANTE.

27 de dezembro de 2008

SOPA DE TAMANCO LANÇA MOBILIZAÇÃO NACIONAL: QUEM TERÁ FEITO O ANÚNCIO EM QUE A ATRIZ CAROLINA DIECKMANN DIZ "SOMBRANCELHA" ?

Nãó é a primeira prova de ignorância cometida em anúncio. Não será a última. Mas fica sempre a dúvida: como é que alguém - seja lá quem for - faz um anúncio em que se comete um erro tão estúpido de português ?

Como é que alguém que tenha passado do primeiro ano do ensino fundamental pode produzir e veicular um anúncio que traz, clara e límpida, a palavra "SOMBRANCELHA"?

Pois é o que a atriz Carolina Dieckmann diz, com todas letras, no fim do anúncio.

O Sopa quer saber: quem são os pais da criança ? Quem fez a tal peça ?

O produto anunciado chama-se Gula Fruts. O fabricante ( basta fazer uma busca rápida no Google) é a Gulozitos.

As buscam continuam.

26 de dezembro de 2008

UM ABSURDO EM HORÁRIO NOBRE: ANÚNCIO DE REFRESCO CHAMADO GULA FRUTS FALA EM "SOMBRANCELHA". SOMBRANCELHA! QUEM SERÁ O PAI DA CRIANÇA?

Um atentado aos ouvidos vai ao ar diariamente nas tvs, em horário nobre : o anúncio de um refresco em pó chamado Gula Fruts, com a atriz Carolina Dieckmann.

Os bravos investigadores do Sopa de Tamanco tentaram descobrir quem foi a agência de publicidade responsável pela pérola, mas não há indicação no site da empresa. Lá, informam que o anúncio foi produzido por uma empresa "conceituadíssima".

Deus do Céu, que empresa "conceituadíssima" é essa que produz um anúncio em que uma atriz diz, claramente, com todas as letras, uma palavra que não existe em nenhum dicionário ? A palavra é "SOMBRANCELHA" !!!!

Ninguém, nenhuma alma caridosa se deu ao trabalho de dizer ao gênio autor do texto que o certo é "sobrancelha". Simples assim. Mas os autores da peça publicitária com certeza imaginaram que o certo é "sombrancelha". Afinal, aqueles pelos que ornam os olhos devem produzir sombra....

O absurdo foi gravado, editado, aprovado e, pior, veiculado.

Resultado: nossos ouvidos desprevenidos são obrigados a ouvir, sem aviso prévio, a "SOMBRANCELHA".

Pergunta-se: quanto o autor do texto terá cobrado ?

Crianças que ouvem tal estupidez vão achar que a palavra "sombrancelha" existe. Se não existisse, não estaria num anúncio que deve ter custado uma nota.

Quem procurar no You Tube vai encontrar o atentado.


21 de dezembro de 2008

JÂNIO QUADROS: A REVELAÇÃO FINAL SOBRE A RENÚNCIA

Do site geneton.com.br

http://www.geneton.com.br/archives/000308.html :

A PALAVRA FINAL SOBRE A RENÚNCIA : DEITADO NUMA CAMA DE HOSPITAL, JÂNIO QUADRO REVELA OS MOTIVOS DO GESTO

A mais sincera confissão já feita por Jânio Quadros sobre os reais motivos que o levaram a renunciar à Presidência da Republica no dia 25 de agosto de 1961 somente foi publicada em 1995,em escassas sete páginas de uma calhamaço lancado por uma editora desconhecida de São Paulo em louvor ao ex-presidente.

Organizado por Jânio Quadros Neto e Eduardo Lobo Botelho Gualazzi,o livro ‘’Jânio Quadros : Memorial à Historia do Brasil’’ é, na verdade,um bem nutrido album de recortes sobre o homem. Grande parte das 340 páginas do livro,publicado pela Editora Rideel, é ocupada pela republicação de reportagens originalmente aparecidas em jornais e revistas sobre a figura esquisita de JQ.

A porção laudatória do livro é leitura recomendável apenas a janistas de carteirinha. O ‘’Memorial’’ traz,no entanto,um capítulo importante : a confissão que Jânio, já doente,fez ao neto,num quarto do Hospital Israelita Albert Einstein,no dia 25 de agosto de 1991, no trigésimo aniversário da renúncia.

Jânio morreria no dia 16 de fevereiro de 1992, aos 75 anos de idade. O neto fez segredo sobre o que ouviu. Somente publicou as palavras do avô quatro anos depois. Ao contrário do que fazia diante dos jornalistas - a quem respondia com frases grandiloquentes mas pouco objetivas sobre a renúncia - Jânio Quadros disse ao neto, sem rodeios e sem meias palavras, que renunciou simplesmente porque tinha certeza de que o povo,os militares e os governadores o levariam de volta ao poder. Nâo levaram.

Talvez porque já pressentisse o fim próximo,Janio admite,diante do neto,pela primeira vez,que a renúncia foi ‘’o maior fracasso político da história republicana do Pais,o maior erro que cometi’’.A já vasta bibliografia sobre a renúncia ganhou, assim, um acréscimo fundamental, feito pelo proprio Jânio - a única pessoa que poderia explicar o enigma. Desta vez, a explicação parece clara.

Um detalhe inacreditável - que revela como as redações brasileiras são povoadas por uma incrível quantidade de burocratas que vivem assassinando o jornalismo : a confissão final de Jânio mereceu destaque zero nas páginas da imprensa brasileira,o que é estranho, além de lamentável.

A imprensa - que passou três décadas perguntando a Jânio Quadros por que é que ele renunciou - resolve deixar passar em brancas nuvens a confissão final do ex-presidente sobre a renúncia, acontecimento fundamental na historia recente do Brasil.

Tamanha desatenção parece ser um subproduto típico de uma doença facilmente detectável nas redações - a Síndrome da Frigidez Editorial .Joga-se noticia no lixo como quem se descarta de um copo de papel sujo de café . Leigos na profissao podem estranhar, mas a verdade é que há notícias que precisam enfrentar uma corrida de obstáculos dentro das próprias redações, antes de merecerem a graça suprema de serem publicadas.! Isto não tem absolutamente nada a ver com disponibilidade de espaço, mas com competência, faro jornalístico.

Se a última palavra do um presidente sobre um fato importantíssimo não merece uma linha sequer em jornais e revistas que passaram anos e anos falando sobre a renúncia, então há qualquer coisa de podre no Reino de Gutemberg. Quem paga a conta, obviamente, é o leitor, a quem se sonegam informações.

O caso da confissão de Jânio sobre a renúncia é exemplar : a informação fica restrita aos magros três mil exemplares do livro do neto. E os milhares,milhares e milhares de leitores de jornais e revistas,onde ficam ? A ver navios. É como dizia o velho Paulo Francis: "Nossa imprensa: previsível, empolada, chata. Como é chata, meu Deus!".
Eis trechos do diálogo entre o ex-presidente e o neto,no hospital.As palavras de Jânio não deixam margem de dúvidas sobre a renúncia :

-‘’Quando assumi a presidência, eu não sabia da verdadeira situação político-econômica do País. A minha renúncia era para ter sido uma articulação : nunca imaginei que ela seria de fato aceita e executada. Renunciei à minha candidatura à presidencia, em 1960. A renúncia não foi aceita. Voltei com mais fôlego e força. Meu ato de 25 de agosto de 1961 foi uma estratégia política que não deu certo, uma tentativa de governabilidade. Também foi o maior fracasso político da história republicana do país, o maior erro que cometi(...)Tudo foi muito bem planejado e organizado. Eu mandei João Goulart (N:vice-presidente) em missão oficial à China, no lugar mais longe possível. Assim,ele não estaria no Brasil para assumir ou fazer articulações políticas. Escrevi a carta da renúncia no dia 19 de agosto e entreguei ao ministro da Justica, Oscar Pedroso Horta,no dia 22. Eu acreditava que não haveria ninguém para assumir a presidência. Pensei que os militares,os governadores e,principalmente,o povo nunca aceitariam a minha renúncia e exigiriam que eu ficasse no poder. Jango era,na época,semelhante a Lula : completamente inaceitável para a elite. Achei que era impossével que ele assumisse, porque todos iriam implorar para que eu ficasse(...) Renunciei no dia do soldado porque quis senbilizar os militares e conseguir o apoio das Forças Armadas. Era para ter criado um certo clima político. Imaginei que,em primeiro lugar,o povo iria às ruas, seguido pelos militares. Os dois me chamariam de volta. Fiquei com a faixa presidencial até o dia 26. Achei que voltaria de Santos para Brasília na glória. Ao renunciar, pedi um voto de confianca à minha permanencia no poder. Isso é feito frequentemente pelos primeiros-ministros na Inglaterra.Fui reprovado.O País pagou um preço muito alto. Deu tudo errado’’.

EI-LO



Cordeiro em pele de lobo, isso sim.


20 de dezembro de 2008

CONVITE PARA VER SHOW DA MADONNA !

Gosto de uma música de Madonna: Like a Prayer. Mas, entre gostar de uma música e ver um show completo, existe uma diferença maior do que o fosso constatado pelos cientistas no cérebro de Xuxa.

De qualquer maneira, eu aceitaria de bom grado um convite para ver o show de Madonna do começo ao fim, num camarote vip, desde que, em troca, eu recebesse um cheque em branco de Antônio Ermírio de Moraes para gastar no fim de semana em São Paulo, quatro diárias na suíte presidencial do Macksoud Plaza, quatrocentas toalhas brancas, uma personal trainner, trinta e cinco caixas de Coca-Cola, oitocentos e trinta chocolates Diamante Negro e trezentos mil reais, cash, para despesas imprevistas.

Tive a pachorra de encaminhar as exigências para os promotores do show. Engraçado: eles não responderam até agora. Deve ter acontecido alguma coisa com o carteiro.

Diante da falta de resposta, cancelei a viagem.

Deixo para a próxima. Mas continuo perguntando ao teto: Deus do Céu, aponte uma escassa frase inteligente já pronunciada por esta mulherzinha afetada, antipática, má cantora e compositora de uma música só.

Aos cinquenta anos, veste-se, pateticamente, como se tivesse dezoito. É tão sensual quanto uma maçaneta.

Toda vez que fala exibe aquele ar lastimável de quem comeu doce de côco podre.

Refaço, então, as contas: eu iria, sim, em troca de quinhentos e trinta e cinco mil reais, cash.

Não vai rolar.

A GRANDE MARCHA MUNDIAL DA IMBECILIDADE

É claro, animal : é óbvio que há exceções, raríssimas, mas gente que comete os seguintes pecados faz parte da Grande Conspiração dos Imbecis, uma confraria avassaladora que domina a tudo e a todos no planeta:


1) gente que diz "amo de paixão"

2) gente que manda "um beijo no coração"

3) gente que diz "êita nós"...

3) gente que, ao cometer um erro banal no meio de uma frase, diz "minto" antes de continuar a falar...

4) gente que fala, ri, canta e relincha alto em lugares públicos, especialmente restaurantes

A lista daria para preencher dez enciclopédias britânicas.

Em breve, continua, aqui, no nobre espaço da Sopa de Tamanco.

18 de dezembro de 2008

MADONNA MIA !


Dias de festa por causa de uma cantora. Então comemoro.

Comemoro essa Ella Fitzgerald clicada por Allan Grant em dezembro de 1958. Sim, ainda dá para apreciar a primeira-dama do jazz. Sem esforço e com muito prazer.

Avanço 50 anos. Que atraso. Ligo a tevê, me conecto, alguém aumenta o volume do rádio numa cozinha de Copacabana. Mal se passaram cinco dias, e não consigo mais ouvir a cantilena. É a Madonna. Dos outros.

17 de dezembro de 2008

40 ANOS ESTA NOITE...



Retrato de época numa foto dos anos de chumbo.
Na legenda, lê-se: "agentes secretos acham bastante razoável o espaço do porta-malas do gálaxie".

15 de dezembro de 2008

FURO !!


Só mesmo no Sopa de Tamanco você pode ver o que ninguém viu. Eis a mais famosa cantora pop do mundo flagrada agora há pouco num camarim improvisado no outrora glorioso Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro, segundos antes de o figurinista lhe trazer o modelito patético com o qual assombrou meio mundo.

Em tempo: foi por pouco, pouco, muito pouco, pouco mesmo que o furo não apareceu na foto.

Acuada pelo fotógrafo da reportagem do Sopa de Tamanco que irrompeu no camarim quando os beques, ou melhor, os guarda-costas cochilaram, a cantora pop do modelito patético precisou cuidar sozinha da cidadela. "Desencosta da parede", disse ele com jeito, na língua dela. Nada feito. "Só porque é do Sopa acha que vou abrir a retaguarda?!", retrucou, sem pena, a cantora.

Nosso fotógrafo promete nova investida. Quem sabe, ainda neste torneio, ou melhor, turnê, o furo. Neste seu Sopa de Tamanco, é claro.

14 de dezembro de 2008

MADONNA: PAVOROSA NUMA ROUPA PATÉTICA PARA PARECER "SEXY"

Deus do céu! Que cena pavorosa é essa que meus olhos desprotegidos acabam de ver na TV ?

Madonna, aquela cantora mala, metida numa roupa patética para parecer "sexy", requebrava de um lado para outro no palco do Maracanã.

Que falta faz um assessor numa hora dessas !

Fico pensando: não é possível que não haja, na numerosíssima entourage da cantora, uma alma caridosa disposta a dizer a ela que é absolutamente ridículo uma cinquentona fazer trejeitos de adolescente idiota.

Como se não bastasse, a música que ela cantava, no trecho exibido na TV, era chatíssima.

Mas, como há otário para tudo, palmas para ela!

13 de dezembro de 2008

DEVE FICAR ASSIM


Daqui a duas semanas completa-se um mês desde que a estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade inaugurada em outubro de 2002 no Calçadão de Copacabana teve os óculos arrancados. Pela sétima vez.

É de se lamentar. Mas não por muito tempo. Na semana em que se inaugurou a estátua de Dorival Caymmi no mesmo logradouro público, o comentário no Posto 6 é de que o problema com a estátua do poeta itabirano será finalmente resolvido pelas autoridades cariocas escoladas em... estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade no Calçadão de Copacabana. Sim, resolvido. E de uma vez por todas.

Como? Muito simples: lentes de contato.

TERÁ SIDO A MÃO ARMADA?



Flagrante de um Auto Union de corrida (16 cilindros, 550 cv) quando era descarregado no porto do Rio para correr o V Grande Prêmio da Cidade, no Circuito da Gávea, em 1937.

Reparem que, antes de baixar ao chão, os pneus já tinham sumido.

11 de dezembro de 2008

O GRANDE CAMPEONATO DA ESTUPIDEZ

Uma vez, numa entrevista, a entrevistadora obesa falava de uma tal de "Nanda".

Quem diabo é "Nanda", oh anta balofa ? Você quer que o pobre coitado do telespectador tenha a obrigação de saber de apelidozinhos de seus amiguinhos ?

Ah, adiante, o telespectador é informado de que se trata da atriz Fernanda Torres.

Em outro programa, a própria Fernanda Torres fala de uma tal de "Conspira".

Por intervenção do entrevistador, o telespectador consegue, afinal, descobrir que se trata de uma referência à Conspiração Filmes.

Em outro programa, a entrevistada fala de "Vlad".

Adiante, as vítimas (aliás, os telespectadores) são levados a supor que se trata do ator Vladimir Brichta.

E o que dizer de anúncios em que a atriz Juliana Paes é chamada de "Ju" ?

Não há qualquer resquício de dúvida: a televisão é, disparado, a maior fábrica de idiotices, estultices, antas, analfabetos e empulhações da história da Humanidade. Em matéria de indigência, não há nada comparável. Jamais haverá.

Que o digam os ouvidos dos telespectadores punidos por sons como "Nanda", "Vlad" e "Ju".

10 de dezembro de 2008

DE NOVO ELLA


Ella foi apresentada a Chick Webb por Charles Linton, que cantava na banda liderada pelo baterista, mas sem talento para o swing. Decidiu-se que uma cantora poderia resolver o problema, e o cantor foi incumbido de procurar uma vocalista que desse conta do recado.

Dias depois, o cantor conhece uma jovem cantora que ganhara o primeiro prêmio num concurso de calouros. Pede que cante algo. Achou a voz dela muito rouca. Mas boa. Perguntou se a jovem tinha outra canção para apresentar. Sim. Logo o cantor que fazia as vezes de caça-talentos interrompeu o número: "Venha, vou apresentá-la ao Chick."

Olha só o bonitão, de namorada nova, brincou Chick ao ver seu cantor com uma garota que estava longe, muito longe do padrão de beleza ou encanto tanto de um como do outro. "Quero que você a ouça cantando", diz Linton.

Chick Webb avança até o cantor, segura-o pela gola e lhe sussurra, como se gritasse: "Você não vai por isto sobre o tablado da minha banda. Não, não, não. Fora!"

O depoimento de Charles Linton está em Ella Fitzgerald: uma biografia da primeira-dama do jazz, de Stuart Nicholson. (Ed. José Olympio, 1997) Na foto, Chick Webb.

9 de dezembro de 2008


A reação do líder de banda Chick Webb quando lhe apresentaram Ella Fitzgerald?
Leiam amanhã aqui no Sopa de Tamanco.

7 de dezembro de 2008

TOMA !



Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, Oscar Niemeyer lembrou ao jornalista Jonathan Glancey o que ouviu de Walter Gropius, depois da visita do papa da Bauhaus à Casa das Canoas (ver post abaixo):

"Ele disse que era bonita, mas que não podia ser produzida em massa. Como se eu tivesse querido tal coisa! Que idiota."

5 de dezembro de 2008

1 X 1 = 1

Casa das Canoas / Oscar Niemeyer

COMBINADO: DIVIDA-SE A BELEZA


Walter Gropius


Oscar Niemeyer conta qual foi a reação do colega Walter Gropius depois de conhecer a Casa das Canoas, que aparece no post acima. Está no livro de Marcos Sá Corrêa citado posts abaixo. Fala, Oscar.

Ele veio, olhou bem e me disse que era bonita, mas pecava por não ser um projeto "multiplicável". Eu faço uma casa para mim, do tamanho da minha família, moldada ao terreno de São Conrado, aberta para a mata da Floresta da Tijuca, filtrando o sol do Rio de Janeiro, e Gropius queria que fosse multiplicável. Só para não sair sem ter falado uma besteira.

DOIS, UM PERNAMBUCO






A LUZ EM JOAQUIM CARDOZO
João Cabral de Melo Neto


Escrever de Joaquim Cardozo
Só pode quem conhece
Aquela luz Velásquez
De onde nasceu e de que escreve.

A luz das várzeas da Várzea
Onde nasceu, redonda,
Vem até o ex-Cais de Santa Rita
Que viveu: luz redoma,

Luz espaço, luz que se veste,
Leve como uma rede,
E clara, até quando preside
O cemitério e a sede.
(Retrato de Joaquim Cardozo por Di Cavalcanti)

... SUPERFÍCIES, TÊNIS, UM COPO DE ÁGUA.





É Oscar Niemeyer quem conta, em página de memórias citada por Marcos Sá Corrêa no perfil que fez do arquiteto:


O estado de saúde se agravava, os doentes do quarto vizinho e até os que eventualmente o procuravam começaram a irritá-lo. E a volta para a Casa de Saúde se tornou cada vez mais difícil. Lembro-me da noite em que se deitou no chão, recusando-se a entrar. Vieram os médicos e Cardozo dizia:
– Vou me afogar.

Delicado, um dos médicos ponderou:

– Doutor Cardozo, aqui não tem água.

E Cardozo, que não perdia ocasião de esclarecer um problema técnico, esqueceu a briga, comentando:

– Cava que encontra.


(in Marcos Sá Corrêa. Oscar Niemeyer. Rio de Janeiro: Ed. Relume Dumará / Prefeitura, 1996.)




4 de dezembro de 2008

O ENGENHEIRO SONHA COISAS CLARAS...


Encontraste algum dia
Sobre a terra
O fundo do mar
O tempo marinho e calmo?


Década de 7o. Muito, muito desgostoso, sozinho, muito só desde que, por incompetência alheia, um pavilhão de concreto calculado por ele desabara em Belo Horizonte, matando mais de 60 operários, Joaquim Cardozo embarcou no Recife para estar com Oscar Niemeyer no Rio.

O amigo arquiteto providenciou hotel para o amigo engenheiro, poeta responsável pelo cálculo estrutural da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, do Palácio da Alvorada e da Catedral de Brasília. Debruçado sobre o mar de Copacabana, Joaquim passava os dias no escritório do velho companheiro. À noite, Oscar o acompanhava até o hotel. Iam pela calçada. Jantavam. Trocavam impressões, idéias, recordações...

Não tocavam no assunto, mas, calados, lembravam "com íntima revolta" o acidente que desgraçara a vida do pernambucano e virara "objeto de exploração tão sórdida", como conta Niemeyer.

A rotina entre as pranchetas que os visionários diriam em balanço sobre as areias do Posto 6 e o quarto de hotel ali perto teve fim quando Joaquim precisou ser internado numa clínica do bairro de Botafogo. O engenheiro calculista que poetava em mandarim já não cabia na hospedaria. Mas tampouco haveria espaço dentro dele para um setor de psiquiatria.


Então, há 30 anos, um mês e um nascer do sol, morria no Recife o poeta nascido da "luz Velásquez", engenheiro que inspirou num conterrâneo inimigo da inspiração os versos em epígrafe.

3 de dezembro de 2008

MARIO QUINTANA; "VINDE, CORVOS, CHACAIS, LADRÕES DA ESTRADA!"

DO SITE www.geneton.com.br:


"O PROLETÁRIO É UM SUJEITO EXPLORADO FINANCEIRAMENTE PELOS PATRÕES E LITERARIAMENTE PELOS POETAS ENGAJADOS"

CINCO VERSOS DE MARIO QUINTANA (Alegrete, RS, 1906):

1. “Ai de mim/Ai de ti, ó velho mar profundo/Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios”.

2. “A vida é um incêndio/nela dançamos, salamandras mágicas/Que importa restarem cinzas/se a chama foi bela e alta?/Em meio aos torós que desabam/cantemos a canção das chamas!/Cantemos a canção da vida/na própria luz consumida...”

3. “Um poema como um gole d’água bebido no escuro/Como um pobre animal palpitando ferido/Como pequenina moeda de prata perdida para sempre na floresta noturna/Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição de poema/Triste/Solitário/Único/Ferido de mortal beleza”

4. “Da primeira vez em que me assassinaram/perdi um jeito de sorrir que eu tinha/Depois, de cada vez que me mataram, foram levando qualquer coisa minha...”

5. “Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!/Ah! Desta mão, avaramente adunca,/Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!”

E VINTE E TRÊS RESPOSTAS:

Qual deve ser o primeiro compromisso da agenda da vida de um poeta?

QUINTANA: "O primeiro compromisso deve ser: não parar de poetar. Não parar de viver intensamente"

O senhor diz que gosta de fazer projetos a longo prazo, para “desafiar o diabo”. Que último desafio o senhor lançou?

QUINTANA: "O último desafio foi uma viagem – gorada – a Paris. O próximo, já em execução, é aprender a falar inglês. Eu era apenas tradutor de francês da Editora Globo. Aprendi, sozinho, a língua inglesa numa gramática, para traduzir. Mas apenas lia o que estava escrito, sem saber a pronúncia. Agora, estou lidando com um curso de inglês da Inglaterra por meio de fitas cassete. O primeiro tradutor de Virginia Woolf no Brasil fui eu. A tradução foi bem recebida pela crítica".

O escritor Erico Verissimo dizia que “Quintana é um anjo que se disfarçou de homem”. O senhor tem algum reparo a fazer à observação?

QUINTANA: "Tenho. Sempre desejei ser exatamente o contrário: uma espécie de diabo"

Qual a grande compensação que a poesia dá a quem a escreve?

QUINTANA: "Minha grande compensação é ter, às vezes, conseguido pegar a poesia nuínha em flor. Mas é difícil! (ri)"

Críticos já notaram que o senhor tem uma preferência especial pelas reticências. É verdade que prefere as reticências aos pontos finais?

QUINTANA: "Considero que as reticências são a maior conquista do pensamento ocidental, porque evitam as afirmativas inapeláveis e sugerem o que os leitores devem pensar por conta própria, após a leitura do autor"

O senhor diz que, ao escrever, “pergunta mais do que responde”. Qual a grande pergunta que o senhor não conseguiu ver respondida até hoje, aos oitenta e dois anos?

QUINTANA: "O essencial é a gente fazer perguntas. As respostas pouco importam"

Se a poesia, segundo suas palavras, “é uma loucura lúcida”, todo bom poeta deve ser necessariamente louco, ainda que lúcido?

QUINTANA: "Creio que é na Bíblia que foi escrito que todos nós temos um grão de loucura. O poeta deve ter esse grão de loucura, mas não necessariamente estar num grau de loucura"

O senhor já se confessou simpático à restauração da monarquia no Brasil. A notícia de que será promovido no início dos anos noventa um plebiscito para decidir se o Brasil deve ser monárquico ou republicano anima-o? Que cargo gostaria de ocupar no Brasil governado por um Rei?

QUINTANA: "É claro que nenhum! Eu não desejaria ser o Poeta da Coroa. A melhor receita para fazer um mau poema é fazê-lo de encomenda"

Além de poeta, o senhor é tradutor de obras clássicas, como vários volumes de Marcel Proust. Que semelhança pode existir entre o trabalho de tradução e o ofício da criação poética?

QUINTANA: "Há sempre uma diferença entre tradução literal e tradução literária. Creio que a tradução de um autor é, nada mais, nada menos, a estréia desse autor na literatura da língua para a qual ele foi traduzido. Daí, a responsabilidade enorme de traduzir um Proust, um Voltaire, gente assim"

O senhor já chegou a trabalhar simultaneamente na preparação de cinco livros. Em algum momento da vida se sentiu tentado a deixar de escrever?

QUINTANA: "Sempre estou escrevendo, em prosa e em verso.Venho trabalhando em quatro livros.Cinco é demais! Nunca pensei em deixar de escrever, porque é a única coisa que sei fazer na vida".

Qual o grande medo do poeta Mario Quintana hoje?

QUINTANA: "Tenho medo de dizer"

O senhor, segundo notou o autor de um artigo publicado pela revista ISTOÉ, "nada tem: nem casa, nem mulher, nem dinheiro, nem família". Tanto desapego foi escolha pessoal ou aconteceu à revelia do que o senhor desejou ?

QUINTANA: "Catastrófico o autor, para mim desconhecido, dessa coisa publicada na ISTOÉ. O certo é que elas não tiveram tempo...E agora,no fim da picada, acho preferível a solidão sozinho à solidão a dois. Quero a solidão sozinho!"
(Enclausurado num quarto de hotel em Porto Alegre, Mario Quintana tinha uma mania: escrever a mão textos que, só depois, eram datilografados pela secretária Mara Cilaine, guardiã do poeta)

O senhor já declarou que "o proletário é um sujeito explorado financeiramente pelos patrões e literariamente pelos poetas engajados". Em algum momento, o senhor acreditou que a poesia poderia mudar o mundo ?

QUINTANA: "Para mudar o mundo, caberia ao poeta candidatar-se a vereador,a deputado ou a outro cargo assim- e não fazer poemas que as classes necessitadas não têm tempo de ler. Ou não sabem ler.É verdade que Castro Alves influiu na abolição da escravatura. Mas acontece que Castro Alves era genial. Já nós temos apenas algum talento...."

O senhor é autor de uma sugestão original: a nação lucraria se pudesse escolher livremente os ministros - e não apenas o presidente. De onde nasceu essa constatação ?

QUINTANA: "Não me lembro de ter feito tal sugestão. Mas agora gostei! O povo poderia influir mais diretamente no Executivo - que não ficaria só com o presidente e seus amiguinhos..."

O senhor escreveu que a poesia é a "invenção da verdade". Conseguiu inventar todas as verdades que queria através da poesia ?

QUINTANA: O que meu cérebro lógico pensa não é exatamente o que pensa a parte não lógica do cérebro. Além da mera geometria euclidiana, existe a geometria não-euclidiana. Isso parece meio confuso, mas me faz lembrar uma verdade que escrevi um dia: a poesia não se entrega a quem sabe defini-la".

Aos oitenta e dois anos, o senhor é otimista ou pessimista diante do destino do homem neste fim de século?

QUINTANA: "Sou otimista. Há mais liberdade de expressão e mais comunicação. Não há, como nos meus tempos de menino, aquela proibitiva divisão entre as faixas etárias"

Num livro lançado há exatamente quarenta anos, Sapato Florido, o senhor escreveu que “os verdadeiros poetas não lêem os outros poetas. Os verdadeiros poetas lêem os pequenos anúncios dos jornais”. Qual foi, então, o melhor anúncio que o senhor já leu?

QUITANA: "Não sei se foi o melhor, mas o mais divertido foi este: “Alugam-se duas salas para mulheres bem-arejadas”. Ler os pequenos anúncios, em todo caso, é pôr-se em contato com as necessidades do povo"

Saber que “o vôo do poema não pode parar”, como o senhor diz em “O Vento e a Canção”, é um consolo para quem escreve?

QUINTANA: "Para quem escreve, saber que o vôo do poema não pode parar é sinal de que a vida continua deslizando, apesar dos solavancos"

O poema “No Meio do Caminho”, escrito por Carlos Drummond de Andrade no final dos anos vinte, foi ridicularizado e bastante criticado quando surgiu. O senhor, no entanto, incluiu o poema entre os que gostaria de ter escrito. De que maneira o senhor reagiria às críticas que foram feitas ao poema?

QUINTANA: "Quando alguém pergunta a um autor o que é que ele quis dizer, um dos dois é burro..."

Se "os caminhos estão cheios de tentações", qual a grande tentação do poeta Mario Quintana hoje ?

QUINTANA: "Os caminhos continuam cheios de tentações. Mas.....cabem,aqui, reticências"
Os jovens poetas sempre esperam ensinamentos dos mais experientes. Se um poeta de vinte anos pedisse um conselho a Mário Quintana, que resposta o senhor daria a ele ?

QUINTANA: "Que ele não exigisse conselho de ninguém - e seguisse o próprio nariz"Quem - ou o quê - atravanca o caminho do senhor hoje ?

QUINTANA :"Ah, a popularidade!"

E sobre a Academia Brasileira de Letras ?(N: Quintana foi derrotado nas três vezes em que tentou entrar para a Academia). O senhor não quer dizer nada ?
QUINTANA: "Não. Nem para dizer que não pretendo falar"

(1987)

2 de dezembro de 2008

O ENGENHEIRO SONHA COISAS CLARAS...



“O que mais me marcou na vida foi alcançar a compreensão de ter vindo de uma sombra, e de estar agora me dirigindo para uma outra sombra que suponho não ser a mesma de onde vim.”

Joaquim Cardozo, em entrevista ao Jornal do Commercio do Recife em julho de 1973