O abaixo assinado vem oferecer solidariedade irrestrita à campanha do Sopa de Tamanco contra a ignorância de jornalistas que escrevem "um óculos", "o óculos, "meu óculos" (e outros absurdos parecidos).
De tão repetido, o erro terminará entronizado, com toda justiça, no já lotadíssimo Grande Panteão da Ignorância.
Já vi repórter cobrindo evento internacional dizendo "o óculos" ao vivo.
Descobri faz séculos. Hoje, tenho certeza absoluta: não existe, na face da terra, profissão que reúna gente tão pretensiosa.
Se jornalistas pretensiosos oferecessem ao coitado do público um trabalho de alto nível, se fossem capazes de construir frases realmente legíveis, se tivessem o poder de exercer uma mínima originalidade, se conseguissem articular uma pergunta decente a um entrevistado, eu me calaria por todos os séculos & séculos.
Mas, não. Jornalismo é uma profissão habitada por gente que diz e escreve "o óculos" ou, em momentos de intensa inspiração, faz trocadilhos inqualificáveis. E se acha o máximo!
Em duas palavras: não dá.
Como diria o confrade Tom Carneiro, "quá-quá-quá-quá-quá-quá-quá-quá".
Resta-nos rir desbragadamente.
Não há outra saída.
Faço uma confissão íntima e inútil: deixei de voltar a um oculista que disse "o óculos" durante uma consulta.
Pensei com meus esfarrapados botões: como confiar meus olhos a um médico que não sabe usar o plural ?
Não voltei.
Eu me lembrei de uma antiga entrevista que fiz com o escritor Autran Dourado. Lá pelas tantas, ele dizia que não confiava num médico ou num engenheiro que não
soubesse manusear a língua com um mínimo de habilidade.
O escritor argumentava : se um profissional supostamente qualificado - como um médico - não sabe como usar as palavras, não saberá manusear um bisturi, por exemplo.
A dúvida é legítima.
Uma vez, numa longa entrevista que me concedeu, o jornalista Evandro Carlos de Andrade fez uma confissão interessante: disse-me que parava imediatamente de ler uma notícia de jornal quando o redator (ou repórter) cometia algum absurdo.
O raciocínio do experientíssimo jornalista: se o autor daquele texto é incapaz de respeitar as regras básicas da escrita, não é confiável como fonte de informação. Ponto.
Corretíssimo.
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