3 de dezembro de 2007

AS OITO LETRAS LETAIS : DEZEMBRO

Pensei em me apresentar aos caros internautas tamanqueiros.

Não consigo articular sequer uma frase legível.

Motivo: faz setenta e duas horas que o peso de oito letras terríveis começou a esmagar o planeta. Oito letras letais: dezembro. O único consolo é que a desgraça se extingue em trinta e um dias.

Respiro fundo, faço de conta que não é comigo e saio latindo pela avenida, para ver se espanto as festinhas de amigo secreto, as listas de fim de ano e outros pequenos horrores da temporada.

Os latidos,como sempre,não surtem qualquer efeito sobre a realidade. Mas não há nada de mais útil a fazer, além de latir, latir, latir.


PS: Um desocupado me convidou a ficar escrevendo para este blog, quando me sobrasse tempo. Não sobra. Ainda assim, tentarei, entre três e quatro da manhã. Acionei meus informantes para descobrir qual era a audiência do blog. Disseram-me que algo em torno de duzentas almas diárias passam e penam por aqui. Há quem ache pouco. Ou pouquíssimo. Considero que duzentas almas penadas formam uma multidão incalculável. Decido, então, que, sempre que possível, subirei num tamborete imaginário, empunharei meu megafone enferrujado e bradarei a plenos pulmões nesta praça pública contra a irrevogável, a irrecorrível,a lastimável idiotia dos seres bípedes que entopem as lojas de dezembro e as mesas de restaurante para falar alto e brincar de amigo secreto.

BRASIL NA GUERRA DO VIETNÃ?

Assim falava Moraes Neto:

'"Não contei esta história no meu livro”, diz Gordon, autor do recém-lançado “A Segunda Chance do Brasil a Caminho do Primeiro Mundo”. Ao final de um depoimento gravado durante três horas ininterruptas no quarto 904 do Hotel Glória, no Rio, o ex-embaixador revelou detalhes inéditos sobre o dia em que entrou no Palácio do Planalto, em nome do presidente Lyndon Johnson, para pedir ao marechal Castelo Branco que o Brasil se engajasse numa guerra no sudeste asiático. Lincoln Gordon volta esta noite aos Estados Unidos, depois de cumprir um périplo por São Paulo,Rio de Janeiro,Brasília e Recife'.

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PAUSA NAS TAMANCADAS. UM BELO E IMPRESSIONANTE BILHETE DE SUICÍDIO DEIXADO POR BYRON SARINHO

Byron Sarinho era um advogado e militante político. Combateu o regime militar. Era um dos principais articuladores de campanhas eleitorais da oposição. Comunista, elegeu-se vereador e deputado estadual depois da redemocratização do país. Eu o conheci. Impressionava pela vivacidade, pelo senso de comandoo, pelo ardor com que discutia política num Estado dividido entre esquerda e direita, como era Pernambuco.

Num gesto que até hoje causa perplexidade em quem o conheceu, ele preparou - na surdina, é óbvio - cada detalhe do suicídio: pagou todas as contas, transferiu bens para o nome de familiares, dispensou a visita da empregada,
sentou-se no sofá da sala do apartamento em que vivia sozinho, no décimo sexto andar de um edifício chamado Caeté, na rua da Aurora, no centro do Recife - e deu um tiro na boca,por volta das nove da manhã do dia doze de novembro de 2002. Tinha duas filhas. Não estava doente. Não enfrentava problemas financeiros. Não sofria de depressão ou algo parecido.

O motivo do suicídio: Byron tinha resolvido estabelecer para si um limite máximo de idade: sessenta anos. Não queria envelhecer. Não tinha disposição para enfrentar a decadência física.

Eis o texto que ele escreveu:

"Recife, novembro de 2002


Peço mil perdões a papai, às filhotas Ciça e Vic, a irmãs e demais parentes, amigos/as, companheiros/as, colegas. Sei que estou lhes causando perplexidade, aflição, dores, saudades. Mil perdões, repito. Mas tenho certeza de que, superado este choque de agora, todos compreenderão que fiz o melhor para vocês e para mim.

Um apelo: não procurem chifre em cabeça de cavalo, não há, no meu gesto, decepção, drama, loucura ou tragédia. Não existem problemas ou fatores específicos, em qualquer campo – profissional, afetivo, político, financeiro, de saúde, etc.. Não estou agindo movido por qualquer acontecimento súbito ou isolado. Trata-se, muito pelo contrário, do desfecho lógico de um longo processo, de uma atitude racional, tranqüilamente amadurecida e planejada.

Minha motivação é somente uma, e sobre ela já venho lhes falando/escrevendo há muito tempo: não quero, não devo e nem posso ficar (mais) velho. Não pela idade em si, mas pelo inevitável cortejo de privações, desconforto e sofrimento que ela traz particularmente para alguém como eu, que vive (e ainda vivo) sem suportar limites e restrições.

Vejam, por favor, as coisas por outro ângulo. Pensem no que todos estamos evitando: um velho pobretão, irritadiço e nostálgico da juventude. Na melhor hipótese, cheio de achaques; na pior, dependente ou até inválido. Vade retro! Este transtorno de agora, acreditem, é bem menor e mais passageiro do que o monumental estorvo que estou lhes poupando.

A verdade é que nunca me preparei para ser idoso. E se minha vida ainda está bem razoável – para um sessentão, óbvio – por que tenho que esperar o pior, para mim e para as pessoas queridas? A saída tem que ser agora, antes que eu ultrapasse a marca dos 60 anos.

Pensemos positivo, então. E aceitem um saudoso adeus, milhões de beijos do BYRON SARINHO.


Ps. Se, mesmo com os pouquíssimos bens que tenho, for imprescindível um inventariante, proponho que seja Sônia, minha irmã e comadre"



(aqui, outro texto em que Byron especula sobre as possíveis agruras da idade:

http://www.byronsarinho.com/byr-morte/morte-index.html)

NOSSO NOVO COLABORADOR

Conheço o dr. Nicomar Lael há cerca de 33 anos. Tempo suficiente para que nossa amizade tivesse pregado a paz, sido perseguida pelos hereges e morrido na cruz. No entanto, infelizmente, não foi o que aconteceu. Assim, sou obrigado a suportar o sujeito até nossos dias, sem que conte ao menos com um mísero seguidor.

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TRADIÇÃO

Machado poderia ter iniciado uma tradição literária no Brasil. Isso, se nossos escritores soubessem o que é literatura e não preferissem, em vez dela, o exercício de trocadilhos nauseantes.

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