15 de setembro de 2008

A PIOR FORMA DE TORTURA: TER UM PROFESSOR (A) DE PIANO COMO VIZINHO!

Confirmadíssimo: quem, por um terrível azar geográfico, termina morando ao lado de um professor (ou professora) de piano, jamais, jamais, jamais conseguirá ficar cem por cento contra a pena de morte.

É claro que a pena de morte é uma demonstração de barbárie, rechaçada pela maioria das nações ditas civilizadas.

Mas....é assim que séculos e séculos de civilização vão para o ralo:

basta que duas mãos invisíveis passem horas e horas e horas extraindo do teclado do piano aquela música que diz "Rio de Janeiro, gosto de você....", com floreios, variações, repetições infinitas. Não há quem resista!

É um fenômeno físico, uma questão de ação e reação: começo a admitir a possibilidade de que a pena de morte poderia, sim, ser aplicada em benefício da humanidade, não contra os professores (as), mas contra os pianos usados nas aulas!

Sem os pianos utilizados como mísseis sonoros para atormentar os vizinhos, os professores poderiam se dedicar a tarefas menos incômodas, como, por exemplo, latir baixinho.

Depois de ver meus tímpanos fatigados serem atacados durante horas a fio pela tormenta sonora, começo a delirar, febril:

vejo, claramente, uma força tarefa multinacional invadindo o prédio pelo elevador social, pela garagem, pelas portarias. Não, as falanges não planejam atacar ninguém. Querem apenas fazer um grande favor à humanidade: destruir com rajadas certeiras a fonte de todo infortúnio, o grande emissor de sons insuportáveis, o arauto de todas as repetições, sim, ele, o desgraçado do piano que, neste exato momento, agora, seis e meia da tarde de uma segunda-feira, ataca com variações da Marselhesa.

Ressuscitai, revolucionários da Bastilha! Vinde,urgente, em socorro de nossos tímpanos dilacerados!

ALSO SPRACH...

Wie bitte ?!
(Na foto, Friedrich Nietzsche em Jena)



TENHAM UMA ÓTIMA SEMANA



Em algum lugar no meio da perturbação nervosa, fiquei bastante deprimido. A depressão permaneceu comigo por mais de um ano; ela era como um animal, uma coisa bem definida, espacialmente localizável. Eu acordava, abria os olhos, escutava – será que ela está por aqui ou não? Nenhum sinal dela. Talvez esteja dormindo. Talvez me deixe em paz hoje. Com cuidado, com muito cuidado, me levanto da cama. Tudo quieto. Vou à cozinha, começo a tomar o café da manhã. Nenhum som. TV – Bom dia América, David Não-sei-de-quê, um sujeito que não suporto. Como e vejo os entrevistados. Devagar a comida enche o meu estômago e me dá força. Agora uma ida rápida ao banheiro, e a saidinha para minha caminhada matinal – e aí está ela, minha fiel depressão. “Pensou que poderia sair sem mim?”

(Killing time: the autobiography of Paul Feyerabend)
(Em tradução escrava, pelo escrevinhador.)

AMOR E ÉTICA À BRASILEIRA

- Você? Sua canalha! O que é que você tá fazendo aqui?
- Simples, Adelson. Andei analisando o cenário político nacional durante um bom tempo e acho que eu mereço uma segunda chance.
- Uma oitava chance, você quer dizer. Porque, até onde eu sei, você me traiu sete vezes enquanto estivemos casados!
- Sete e meia, Adelson, considerando que também saí com Montanha, o Famoso Anão Tirolês.
- Não acredito! Você me traiu com aquele anão! O anão trabalha em circo, Ofélia! Como é que você pode ter feito isso?
- Com alguns tijolos pra dar o calço, Adelson. Mas a questão não é essa. O fato é que vivemos o Estado democrático de Direito e…

(Mais, aqui)

REVISTAS SEMANAIS

- Cara, eu não acredito!
- Que foi?
- Dá só uma lida aqui nessa matéria da Veja.
- Não posso.
- Como assim? Tá sem óculos?
- Pior. Tô com cérebro.


(Mais, aqui)

BOLÍVIA?

Leio por acaso um desses papéis escritos em língua bárbara a que, a falta de outro nome ou por incerta alfabetização, costumou-se alcunhar jornais. Encetando ingente esforço, contenho o asco e me informo sobre a catastrófica situação política boliviana. Terminado o relincho do jornalista (desculpem o reles uso do vocábulo “relincho”, que não sei se é acurado, pois ao contrário do que ocorre em relação a pássaros e ovinos, por exemplo, ignoro a voz desse tipo de animal), faço uma prece ao deus dos aristocratas para que o conflito civil naquele país termine da melhor forma possível. Ou seja, com a completa extinção da Bolívia.

NEURÓTICA

Desvelando alma própria de fêmeas, mais uma vez Tom insiste para que volte a batê-lo. Acederia ao pedido com prazer, Tom, mas minha mulher já está com ciúmes. E, ao contrário de você, ela não é neurótica, ou seja, não tenta reagir às bofetadas. De modo que lhe aconselho a prática do coito passivo para aplacar seu irrefreável anelo. Quanto a principiar o desenvolvimento de raciocínios a minha altura, proponho a entrada numa dessas igrejas de pobre, neopentecostais, único sítio de meu conhecimento onde se pratica a taumaturgia.