10 de setembro de 2008

QUE LÍNGUA SERÁ AQUELA ?

Depois de ler a coleção de relinchos do sr. Nicomar, declaro-me temporariamente impossibilitado de oferecer uma resposta.

Motivo: ainda não encontrei um veterinário que pudesse traduzir aqueles grunhidos. Ou seja: transformá-los em sentenças compreensíveis por gente alfabetizada.

Ah, um veterinário. Que falta faz essa criatura, a única capaz de entender a linguagem dos irracionais....Mas, cedo ou tarde, há de aparecer um, para matar nossa curiosidade.

De qualquer maneira, causa-me espécie o fato de o sr. Nicomar ter um ataque hidrófobo (ou será bibliófobo ?) apenas porque ousei corrigir um erro cometido com assustadora frequência por tanta gente,inclusive a que porta diplomas e certificados : dizem "o óculos" e "meu óculos".

A reação do sr. Nicomar nos deixa uma lição que faria Pavlov soltar coquetéis Molotov de contentamento: a gente aprende que, a cada vez que alguém tenta corrigir um parvo como o sr. Nicomar, as cordas vocais da besta emitem um relincho característico.

Como é sábia a natureza...

A PROPÓSITO DOS RELINCHOS DO SR. TOM CARNEIRO

Dentre as verdades filosóficas absolutas, há uma precípua: a fundamental tentação de um ignorante é apontar a ignorância de seus pares, demonstrando, não raro, ao fazê-lo, grau de estultice infinitamente superior ao do sujeito por ele admoestado. Dela, deriva um segundo axioma: um ignorante jamais resiste a tentações.

Exemplo claro do que fica acima dito nos é dado pelo agreste Sr. Tom Carneiro, cujo deslutre é de prístino conhecimento dos leitores deste Sopa de Tamanco. Guiado por sua obtusidade verdadeiramente cavalar, eis que agora o papalvo pretende-se esteio de certa campanha contra a utilização da expressão “o óculos”, como se fora ela grave índice da mediocridade pátria.

Ante parvoíce de tal monta, é inevitável que acorram a alguém minimamente instruído os famosos versos medievais da Festa dos Asnos:

Orientis partibus
Adventavit Asinus
Pulcher et fortissimus
Sarcinis aptissimus.
Hez, Sire Asnes, car chantez,
Belle bouche rechignez

(Traduzo livremente para incultos, quadrúpedes e parentes afins do Sr. Carneiro em geral, que certamente desconhecem, além do português, o francês e o latim: “Do Oriente vem o asno, belo e bravíssimo, próprio para suportar cargas. Levantai, Sr. Asno, e cantai. Abri vossa bela boca!”)

Afinal, a preocupação estéril com expressões consagradas pela ignávia da plebe, de que o próprio Sr. Carneiro faz parte, denota, quando menos, ser o indivíduo que a expõe portador de uma profunda nostalgia de galhos de árvores e refeições replenas de raízes e folhas.

Que esperar, no entanto, de uma mente de operário, vil trabalhador manual da escrita, cuja capacidade imagética é a mesma alcançada por uma lesma vítima de trepanação?

Ora, faça-nos um favor, Sr. Asno: vá alfabetizar-se ou corra até a esquina, ver se lá estou, a ler o meu Nietzsche no original. Mas, show a little respect e nos desobrigue de vosso relinchar, sim?
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Nicomar Lael

"MEU ÓCULOS" NÃO!

Interrompo uma atividade importantíssima - o ócio das férias - para prestar solidariedade irrestrita ao caro confrade Tom Carneiro na guerra inútil que ele acaba de declarar contra a disseminação de uma praga : gente que diz "meu óculos" ou "um óculos" ou "o óculos". Deus do céu: é tão difícil usar o plural na hora certa ? Por que não dizem "meus óculos" ou "uns óculos" ou "os óculos" ?

Já que a guerra é inútil, ofereço minha porção de inutilidade: a partir de hoje, a cada vez que alguém disser "meu óculos", repetirei, com voz inaudível, o mantra sugerido por Tom Carneiro.Assim: "a casa caiu, a casa caiu, a casa caiu..."

Depois, sairei sem ser notado.

CAMPANHA NACIONAL CONTRA "O ÓCULOS". OU: A GRANDE MARCHA DA IGNORÂNCIA AVANÇA POR NOSSOS CANAIS AUDITIVOS!

Não faz tempo, Jô Soares pronunciou "o óculos" no programa. Regina Casé, numa das "n" vezes em que esteve no Programa do Jô, também disse, claramente, "o óculos". Durante a transmissão de um jogo de volibol de praia na Olimpíada de Pequim, um repórter cometeu um tropeço feíssimo: ao vivo, para quem quisesse ouvir, ele soltou "o óculos" ao entrevistar o atleta brasileiro derrotado. Um médico (!!), supostamente alfabetizado, disse, em horário nobre, na TV, "o óculos". Demonstrou, assim, que pode até ter ouvido falar em algo chamado plural, mas é perfeitamente incapaz de diagnosticar um, quando solicitado pelo idioma.

Atenção, apresentadores de TV, repórteres, médicos: não custa nada aplicar o plural quando ele é necessário! Não dói, não custa caro, não dá trabalho! O certo é "os óculos" ! Jamais, "o óculos" ou "um óculos" ou "meu óculos". Simples assim. Dizer "o óculos" ou "um óculos" é como dizer "a casas", "o carros", "o jornais". Mas, pela frequência com que gente "ilustrada" comete o erro bárbaro, tudo indica que aplicar um recurso tão básico quanto o plural é dificílimo....

Enquanto o Sopa uiva para o vento contra a praga do "o óculos", a GMI ( Grande Marcha da Ignorância) avança, impávida, por nossos canais auditivos...

A CASA CAIU - II ( OU: CAMPANHA NACIONAL CONTRA UMA PRAGA CHAMADA "O ÓCULOS")

Depois de ouvir um dos mesários do Manhattan Connection dizer, com todas as letras, "um óculos", eis que, no dia seguinte, segunda à noite, sintonizo a Rede Bandeirantes para acompanhar a edição semanal do CQC, um bom programa. Não demorou, a casa caiu de novo.
Um dos repórteres disse, com toda clareza, "o óculos".
De repente,como num espasmo involuntário, minhas cordas vocais começaram a sussurrar,para meus botões fatigados, o mantra maldito: a casa caiu, a casa caiu, a casa caiu.

GRAMPOS EM BRASÍLIA

Há inúmeras vantagens em se viver num país de povo cordial (o conceito, aqui, é usado no sentido empregado por doutores, ensaístas e articulistas; ou seja, no errado, que faz Sérgio Buarque toda vez que o ouve chutar involuntariamente Gilberto Freyre e puxar as orelhas de Caio Prado Júnior no Hades, aos gritos de “Me deixem voltar! Me deixem voltar!”).

Claro, as desvantagens envolvem pobreza, ignorância, insegurança e frases de Caetano Veloso. Porém, não se pode negar que a libente interação entre as gentes de nossa pátria torna suportáveis, por exemplo, as maiores tragédias do dia-a-dia, como acordar com o Bom Dia Brasil e comentários do Alexandre Garcia.

(Texto completo aqui)

ORGIAS FILOSÓFICAS

A coisa anda Husserl para o seu lado, Strauss certo? Você se encontra numa via-Crusius. Lee seus pensamentos? O desejo que você tem é Dessoir por aí, sem Humboldt certo, sem ter mais que engolir a doxa de ninguém, não é Maimon?

Boehm, não fique Mach assim, porque recentemente foi inaugurado o nosso Orgias Filosóficas, estabelecimento adulto que Croce incrivelmente, Dee a Dee, Zaehner parar. Conosco, você vai se sentir como um Benjamin, um verdadeiro Rée.

Nossa filosofia é: todo mundo nous, sem Hobbes ou qualquer tipo de Adorno. Engels são barrados na portaria. Só aceitamos Putnam. Trata-se de fator Sêneca non. Dewey a quem Dewey.

(Texto completo, aqui)