30 de setembro de 2007
Aprende, Jô, sua mula!
Ei, ei, ei, David Letterman é rei!
Com mil demônios! Terá Fausto Wolff vendido a alma a Marconi Leal?
http://marconileal.blogspot.com/2007/04/assalto.html
Eis o que está na coluna de Fausto Wolff de hoje, 30 de setembro deste ano:
http://jbonline.terra.com.br/editorias/cultura/papel/2007/09/30/cultura20070930004.html
Terá sido erro de paginação?
Vamos às transcrições.
Marconi Leal, "Assalto":
- Alô? Quem tá falando?
- É o ladrão.
- Desculpe, não queria falar com o dono do banco. Tem algum funcionário aí?
- Não, os funcionário tá tudo como refém.
- Eu entendo. Trabalham quatorze horas por dia, ganham um salário ridículo, vivem levando esporro, mas não pedem demissão porque não encontram outro emprego, né? Vida difícil. Mas será que eu não poderia dar uma palavrinha com um deles?
- Impossível. Eles tá amordaçado.
- Foi o que pensei. Gestão moderna, né? Se fizerem qualquer crítica, vão pro olho da rua. Não haverá, então, algum chefe por aí?
- Claro que, não, meu amigo. Quanta inguinorância! O chefe tá na cadeia, que é um lugar mais seguro pra se comandar um assalto.
- Bom... Sabe o que que é? Eu tenho uma conta...
- Tamo levando tudo, ô bacana. O saldo da tua conta é zero.
- Não, isso eu já sabia. Eu sou professor. O que eu queria mesmo era uma informação sobre juro.
- Companheiro, eu sou um ladrão pé-de-chinelo. Meu negócio é pequeno. Assalto a banco, vez ou outra um seqüestro. Pra saber de juro é melhor tu ligar pra Brasília.
- Sei, sei. O senhor tá na informalidade, né? Também, com o preço que tão cobrando por um voto hoje em dia... Mas, será que não podia fazer um favor pra mim? É que eu atrasei o pagamento do cartão e queria saber quanto vou pagar de taxa.
- Tu tá pensando que eu tô brincando? Isso é um assalto!
- Longe de mim. Que é um assalto, eu sei perfeitamente. Mas queria saber o número preciso. Seis por cento, sete por cento?
- Eu acho que tu não tá entendendo, ô mané. Sou assaltante. Trabalho na base da intimidação e da chantagem, saca?
- Ah, já tava esperando. Vai querer vender um seguro de vida ou um título de capitalização, né?
- Não... Eu... Peraí, bacana, que hoje eu tô bonzinho e vou quebrar o teu galho. (um minuto depois) Alô? O sujeito aqui tá dizendo que é oito por cento ao mês.
- Puxa, que incrível!
- Tu achava que era menos?
- Não, achava que era isso mesmo. Tô impressionado é que, pela primeira vez na vida, consegui obter uma informação de uma empresa prestadora de serviço, pelo telefone, em menos de meia hora e sem ouvir Für Elise.
- Quer saber? Fui com a tua cara. Dei umas bordoadas no gerente e ele falou que vai te dar um desconto. Só vai te cobrar quatro por cento, tá ligado?
- Não acredito! E eu não vou ter que comprar nenhum produto do banco?
- Nadinha. Tá acertado.
- Muito obrigado, meu senhor. Nunca fui tratado dessa...- Ih, sujou! (tiros, gritos) A polícia!
- Polícia? Que polícia? Alô? Alô?
- (sinal de ocupado)
- Alô?... Droga! Maldito Estado. Sempre intervindo nas relações entre homens de bem!
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Fausto Wolff, "Papo de velho, ladrão e intermediário":
O sujeito já passava da meia-idade. Era um velho boa-pinta que descobrira isso há pouco tempo e tentava agir de conseqüência, mas algumas coisas traíam o tempo que carregava nas costas. Não que isso tivesse importância para ele nem que pudesse surpreendê-lo em atitude geriátrica. Esquecer de puxar o zíper das calças, por exemplo. Julgar que o último pingo havia desaparecido na privada, mas não... esperara pacientemente pra decolar nas calças e ainda convidara alguns primos e amigos.
De qualquer modo, não era um cara ranzinza. Quando queria uma informação, aproximava-se da pessoa e perguntava em voz clara, pois era meio surdo, e a pessoa: "Não precisa berrar que eu não sou surdo". Assim ia levando sua vidinha, sempre de short e camisa sem gola, pois trabalhava em casa e, pensava ele, sempre podia pedir a grana que lhe deviam pelos dez anos que passara no exterior, voltando com quase 40 para trabalhar na grande imprensa à época, O Pasquim.
Sua mulher lhe dissera que precisava fazer alguma coisa e ele respondia que faria esta coisa quando ficasse velho, embora soubesse que já estava velho. Era jornalista e escrevia uma crônica diária para seu jornal. Usava o computador como se ela fosse a Olivetti que o acompanhou por quase 50 anos. Não ousava mexer em qualquer tecla com a qual não tivesse muita intimidade, com medo de que o mundo explodisse ou o computador derretesse na sua cara.
Uma vez por semana seu neto de oito anos passava por lá e dava uma geral no dinossauro, como o chamava. Com exceção dos políticos, dos banqueiros, dos latifundiários, dos publicitários das novelas de TV, dos pastores eletrônicos, gostava de quase tudo, menos dos robôs que falam ao telefone.
Outro dia, esquecera-se do tempo conversando com o AP dos Santos e agora temia que não conseguiria mais falar com a bela coroa, secretária do banco.
- Quem fala? - perguntou.
Uma voz de homem respondeu:
- É o ladrão.
- Desculpe, mas eu não queria falar com o dono do banco.
- Dona Wilza, a gerenta, está aí?
- Deve estar com os outros reféns.
- Entendo - disse o velho. Ganham o mínimo para fazer o máximo. (Pausa) Será que não poderia dar uma palavrinha com um deles?
- Não vai dar. Estão todos amordaçados.
- Entendi. Gestão moderna. Fizeram alguma crítica e calaram a boca deles. Não tem nenhum chefe por aí?
- Claro que não! Quanta ignorância. O chefe está na sua cela, no presídio, que é o melhor lugar para se chefiar um assalto.
- O negócio é o seguinte, eu tenho uma conta aí...
- Não tem mais. Sinto muito, mas estamos levando tudo. O saldo da tua conta agora é zero.
- Não tinha muito mais do que isso. A informação que quero é sobre juros.
- Companheiro, eu sou um ladrão pé-de-chinelo. Meu negócio é pequeno, assalto a banco, vez ou outra um seqüestro. Para saber de juro é melhor tu ligar pra Brasília.
- Sei, sei. O senhor tá na informalidade, né? Também, com o preço que estão cobrando por um voto hoje em dia... Mas, será que não podia fazer um favor pra mim? É que eu atrasei o pagamento do cartão e queria saber quanto vou pagar de taxa. Meu nome é Fausto Wolff... é.... com dois efes.
- Tu tá pensando que eu tô brincando? Isso é um assalto!
- Longe de mim. Que é um assalto, eu sei perfeitamente. Mas queria saber o número preciso. Seis por cento, sete por cento?
- Eu acho que tu não tá entendendo, ô mané. Sou assaltante. Trabalho na base da intimidação e da chantagem, saca?
- Ah, já estava esperando. Vai querer vender um seguro de vida ou um título de capitalização, né?
- Não... Eu... Peraí, bacana, que hoje eu tô bonzinho e vou quebrar o teu galho. (Um minuto depois) Alô? O sujeito aqui tá dizendo que é oito por cento ao mês.
- Puxa, que incrível!
- Tu achava que era menos?
- Não, achava que era isso mesmo. Tô impressionado é que, pela primeira vez na vida, consegui obter uma informação de uma empresa prestadora de serviço, pelo telefone, em menos de meia hora e sem ouvir Pour Elise.
- Quer saber? Fui com a tua cara. Dei umas bordoadas no gerente e ele falou que vai te dar um desconto. Só vai te cobrar quatro por cento, tá ligado?
- Não acredito! E eu não vou ter que comprar nenhum produto do banco?
- Não vai ter de comprar picles. Tá acertado.
- Muito obrigado, meu senhor. Nunca fui tratado dessa...
- Ih, sujou! (tiros, gritos) A polícia!
- Polícia? Que polícia? Alô? Alô? (sinal de ocupado).
- Alô?... Droga! Maldito Estado. Sempre se intrometendo nas relações entre homens de bem!
Um minuto de Marcel Marceau em Myanmar
Sabedorias do darwinismo platônico
- Por que ainda se noticiam os problemas de um ex-Polegar?
- Pode ser um aviso de que, no Brasil, o fim do polegar opositor está próximo.
MARCEL MARCEU PORNÔ
Direito de tréplica
FALTOU HOMBRIDADE EM CAMPO
O MEL DO BANCO DO NORDESTE
FURO INTERNACIONAL DO SOPA DE TAMANCO: O DIA EM QUE O REPÓRTER QUE DERRUBOU UM PRESIDENTE AMERICANO TOCOU GUITARRA NUMA MADRUGADA DO RIO DE JANEIRO
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Uma cena inimaginável na noite do Rio de Janeiro: o repórter que derrubou o presidente dos Estados Unidos empunha uma guitarra de madrugada na Urca para tocar rock-and-roll.
Aconteceu agora há pouco, diante de uma reduzidíssima platéia. Quando o concerto improvisado do repórter mais famoso do mundo acabou, há quarenta minutos, o público era formado por exatamente seis espectadores, sentados diante da fera. O abaixo-assinado, enviado especial do Sopa de Tamanco, testemunhou a cena. É ouro puro!
Aos que nasceram ontem :Carl Bernstein é o repórter que, em dupla com Bob Woodward, entrou para a história ao cobrir o Escândalo de Watergate, entre 1972 e 1974. Do fim da história todos se lembram: as reportagens da dupla provaram que o governo Nixon estava envolvido na espionagem de adversários. Depois de negar até o fim o envolvimento do governo no chamado Escândalo de Watergate ( o arrombamento de um escritório do Partido Democrata no Edifício Watergate), o presidente Nixon foi obrigado a renunciar. Nunca na história americana um presidente tinha renunciado.
Ao final de uma recepção oferecida a ele por Ana Maria Tornaghi num casarão na Urca, Carl Bernstein - de passagem pelo Rio depois de fazer uma conferência em São Paulo na Câmara Americana de Comércio - surpreendeu a todos: pegou uma guitarra, cantou e tocou pérolas como "Sweet Little Sixteen", "Love is Strange" ( música gravada por Paul McCartney no começo dos anos setenta), a bela "Goodnight, Irene" ( folclore americano, regravada "n" vezes por feras como Little Richard) ,Bye,Bye Love" ( aquela que diz "Bye bye, happiness /Hello, loneliness /I think I´m gonna cry") e "Blue Sued Shoes".
Bernstein já foi crítico de rock. Tinha vinte anos em 1964. Ou seja: é um legítimo representante da geração que dançou ao som de Elvis Presley. A bem da verdade,diga-se que, como cantor, Bernstein é um excelente repórter. Como instrumentista, dá para o gasto. Se tivesse tentado a carreira nos palcos, estaria hoje tocando num boate do Alabama.
A família é chegada a música: um dos dois filhos de Bernstein é músico numa banda "punk-rock" chamada The Actual.
Quando acabou de tocar, o super-repórter disse ao abaixo-assinado: "Hey, você tem uma matéria!".
Eu já estava ligeiramente constrangido: em São Paulo, tinha seguido os passos de Bernstein durante a conferência na Câmara Americana de Comércio. Acompanhei a entrevista coletiva. Gravei uma longa exclusiva. Tirei fotos. Pedi autógrafo num livro ( não é coisa que entrevistador faça normalmente com entrevistado. Mas, desculpe, Bernstein é meu ídolo profissional há séculos). Aqui no Rio, o assédio se repetia. Não seria hora de parar a "caçada" ? Minha porção chacal me soprou : não!
Um músico que tinha sido convidado para animar a noite no casarão na Urca terminou fazendo dupla com Bernstein. Chama-se Lê Andrade, paulista, 34 anos, há nove radicado no Rio. Quando o improviso dos dois acabou, Andrade estava nas nuvens: "Fazer dupla com ele ! Eu nunca pensei". Assim o músico resumiu a performance de Bernstein: "Que pessoa simples! Que pessoa feliz!".
O locutor-que-vos-fala entrevistou longamente Bernstein em São Paulo (a entrevista irá ao ar nas próximas semanas num programa especial na Globonews. Avisaremos aqui). Ao fim da entrevista, satisfeito com o jogo de perguntas-e-respostas, o generoso Bernstein me fez, diante da câmera, o maior elogio que ouvi na minha vida profissional. Pensei comigo : ok, stranger, agora já posso ir morar num rancho em Santa Maria da Boa Vista.
Em seguida, me pediu meus contatos: telefone, e-mail, celular. Perguntou se eu estaria no Rio nos próximos dias. Eu disse que sim. Pensei que o gesto de Bernstein fosse apenas uma daquelas cortesias que caem no esquecimento cinco minutos depois.
Sorte minha: não foi.
Neste sábado, quando abro o computador, o que é que pisca na tela ? Um e-mail de Carl Bernstein me convidando para um jantar. Dei uma saída. Quando chego em casa, nova surpresa: um recado na secretária eletrônica. Bernstein em pessoa. Por fim, quando pego o celular,outro recado do homem. Dois recados nos telefones, dois e-mails ( ele mandaria outro). O convite já não era um convite: era uma convocação.
Fui. Ganhei outro autógrafo, em que ele chama nossa entrevista de "terrific". Brincalhão, faz uma ressalva : diz que tinha adorado a gravação da entrevista, mas quer ver como é que ela seria editada. Tranquilizo-o: pretendo usar na íntegra, sem cortes, porque em TVs a cabo, como a Globonews, os entrevistados podem falar. Ficou de me passar um endereço, porque queria receber uma cópia da fita, em casa, em Nova York. Prometo, claro, despachar uma cópia em DVD. Juro por Nossa Senhora do Perpétuo Espanto que mandarei.
Próximo assunto: falamos sobre a possível publicação no Brasil da última empreitada jornalística de Bernstein: a biografia de Hilary Clinton. Bernstein gostaria de ver lançado no Brasil o livro que acabou de lançar com fanfarras nos Estados Unidos.
Comento com a fera: uma boa data para o possível lançamento seria em meados do ano que vem, quando a campanha eleitoral americana começar a pegar fogo. O mundo inteiro acompanhará o duelo eleitoral pela sucessão de Bush. Bernstein concorda: junho é uma boa data. Lá pelas tantas, repito que ele nem de longe as "cifras" do mercado editorial brasileiro podem ser comparadas com as do mercado editorial americano. Bernstein concorda. Informa que a biografia como a de Hilary Clinton já sai com uma primeira fornada de 250 mil exemplares. Fiquei de fazer contatos (informais) com uma editora. Não sou agente literário, mas, neste caso, vale a exceção...
O espírito de repórter de Bernstein se manifesta a toda hora : em meio à recepção, ele sai perguntando aos convidados quem é que gosta e quem é que não gosta da Catedral Metropolitana do Rio. Tinha visitado a Catedral. Pelo visto, gostou. Mas ficou impressionado com a quantidade de gente que fala mal do prédio. "Você gosta da Catedral? Você gosta da Catedral", é o que repete. Depois, a cada vez que é apresentado a alguém, repete em voz alta o nome do convidado.
A uma jornalista em início de carreira, Clara Passi, que aproveitou a chance para perguntar qual seria o primeiro conselho que ele daria a um iniciante, Bernstein respondeu: "O repórter precisa saber ouvir!". Depois, aconselhou a ela que visse a entrevista que será mostrada na TV, porque ali ele dá "a explicação completa para esta pergunta".
A mulher de Berstein, uma loura altíssima, que dançou enquanto o marido tirava acordes da guitarra, disse que ele tem mania de fazer perguntas.
Pudera.
"Quando volto do supermercado, ele fica me perguntando o que é que comprei e onde fica a loja", ela diz. Informa que Hilary Clinton não aceitou dar uma entrevista para o livro que o marido estava preparando. "Carl trabalha há oito anos neste projeto. De início, Hilary disse que iria dar uma entrevista. Mas, depois que ela resolveu que iria tentar a candidatura á presidência, desistiu de falar".
Mr Bernstein não ficou a ver navios. A principal personagem do livro desistira da entrevista, mas ele levou adiante o projeto.
Passaram pelo casarão da Urca, "entre outros", o língua ferina Diogo Mainardi (uma boa chance para matar saudades de Paulo Francis), Chico Caruso, Argemiro Ferreira, o editor Geraldo Jordão e Gilberto Braga, no primeiro compromisso pós "Paraíso Tropical" ( um dia o Sopa de Tamanco terminaria publicando uma nota com jeito de coluna social....).
Aqui, imagens (precárias, aquilo não era hora de incomodar o homem de novo) de Carl Bernstein cantando "Good Night, Irene":
Informou em edição extraordinária o Plantão do Sopa de Tamanco, o primeiro com as últimas.
E você? O que é que acha da Catedral ?
ADVOGADO DO DIABO (OU TIRANDO O DOMINGO PARA ESPICAÇAR GENETONS E GARSCHAGENS)
Se letra de música não fosse poema, dever-se-ia jogar fora toda a tradição lírica da Grécia Antiga.
GRANDES VERSOS AVACHALHADOS
'AMO TANTO E DE MIANMAR, ACHO QUE ELA É POLÍCIA'
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DIÁLOGOS DE CASAL
— O planeta tá todo de cabeça pra baixo. É furacão, ciclone, tsunami, calor fora de hora, jornais sem erros de português... Tudo errado. Como é que a gente vai colocar um menino no mundo assim?
— Antes de mais nada, Geraldo, não sei se você está inteirado sobre os recentes avanços da ciência, mas pra ter filho é preciso fazer sexo. Coisa que não anda muito freqüente aqui em casa desde que você se pôs a meditar sobre o futuro da humanidade. O que é um contra-senso, porque se todo mundo se pusesse a meditar sobre o futuro da humanidade como você, a humanidade simplesmente não teria futuro. Quando menos, por absoluta falta de esperma.
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(Texto completo, aqui)
PERDENDO A VIRGINDADE
Quando soltei o último suspiro, minha parceira, romântica, me disse mais uma frase amorosa:
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— Trinta paus.
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Passei o dinheiro a ela, que o recebeu carinhosamente, cuspindo de lado e coçando um furúnculo que tinha na virilha, e desci as escadas para o térreo. Orgulhoso.
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Tinha finalmente enfrentado o rito de passagem para a idade adulta, estava apto a encarar novos desafios e a aceitar novas responsabilidades. A principal das quais seria coçar minhas partes pudendas desesperadamente, a ponto de arrancar cada fio de pentelho e esticar o saco até o pescoço, pois fiquei com uma comichão nas partes baixas que durou semanas e só passou quando me aplicaram inúmeras e traumáticas injeções de Benzetacil.
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(Texto completo, aqui)
SUTRAS DO CONDÔMINO IOGUE
— Mestre, como faço para evitar ser arrastado ao fundo do poço?
— Confira se o elevador está no andar, meu filho.
TONI MARQUES, O ZELOSO
(Direito de resposta concedido ao Sr. Marconi Leal pelo Exmo. Sr. Juiz da Primeira Vara de Pau Grande, o Sr. Dr. Pinto Longuino, de acordo com a Lei 25cm/2007)
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Diz o vulgo, apreciador de termos chulos, que a inveja é uma merda. Quanto a mim, não gosto de turpilóquios. O máximo que me permito em termos de pornofonia é falar César Maia três vezes e, ainda assim, em voz baixa, quando estou sozinho. Em suma, acho palavrão coisa de veado ou filho da puta escroto.
No entanto, não poderia me furtar de vir a público neste momento para dizer que a inveja é muito pior do que merda, senhores. Afinal, como todos sabem e o Gerald Thomas está aí para provar, merda não sabe escrever. Porém, movida por perfídias, infâmias, mentiras e diversos outros pleonasmos que uma consulta a um dicionário de sinônimos e termos afins poderia ajudar a listar aqui, a inveja é capaz de publicar vergonhosas inverdades, belazes blasfêmias e outras aliterações de igual poder destrutivo e semelhante gosto duvidoso.
Não me refiro a outra coisa senão ao post insidioso que o sr. Toni Marques escreveu ontem, no claro e proditor intuito de alvejar minha honra.
Ora, antes de mais nada, quero deixar bem claro que, conhecendo o preconceito dos cariocas contra paraíbas, mormente os baianos vindos de São Paulo e nascidos no Recife, e sabendo que visitaria o Leblon na noite da terça-feira última, me travesti de Carmem Miranda sim, mas com a evidente intenção de usar dos costumes locais, na vã tentativa de passar por um nativo. Já dizia o filósofo setecentista Vincent Matheus: “Em Roma, como os romenos”.
O que o sr. Toni Marques não diz, no entanto, é do ciúme doentio que nutre por Geneton Moraes Neto e da vida nababesca, de orgias e despudores, que leva na antiga capital da República.
Para começo de conversa, assim que entrei na Vênus Platinada ao lado do Mito, o sr. Toni Marques, doravante cognominado “o Zeloso”, parou imediatamente de dar tapinhas nas bundas das estagiárias (eis que o impudico, com a vida mansa que os anos de especulação da era Collor e um caso passageiro com Zélia Cardoso de Mello lhe proporcionaram, não precisando trabalhar, diverte-se o dia inteiro a assediar as aspirantes a jornalistas globais) e me lançou olhares rancorosos. Ficou tão tenso ao me ver em companhia de Geneton Moraes Neto que, ao ser apresentado a mim, cometeu um ato falho. Em vez do nome, disse:
— Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia. Prazer.
A devoção do sr. Toni Marques ao Mito é tal que chegou ao cúmulo de doar os próprios cabelos a ele. Sim, senhores, creiam-me: a barba de Geneton Moraes Neto nada mais é do que um implante dos pêlos da cabeça do Zeloso.
Isso, quanto ao ciúme. No que tange à vida nababesca de outstanding representante de nossa elite irresponsável, basta dizer que o sr. Toni Marques, em cujo coche particular fomos ao já alhures citado Alvaro’s, mantém a sua disposição vassalos de libré e perucas importadas de Versalhes — segundo consta, o preço das mesmas são de fazer um rei perder a cabeça. Ele próprio cultiva um bigodinho à Luís XIV e usa anéis de ouro em tal profusão que fariam a alíquota do quinto parecer a da CPMF.
Na famosa noite em que fomos ao Alvaro’s, vestido de seda marroquina dos pés à cabeça e acendendo cigarros búlgaros em notas de euro, enquanto chupitava seu absinto com um torrão de açúcar derretido por uma pedra de gelo sobre uma colher perfurada, fazia de um dos escravos supedâneo e distribuía, entre um gole e outro, jatos de urina pelos pés dos garçons.
Dono de uma erudição maior que a de Paulo Francis ou, se quiserem, de um Paulo Francis que checasse as citações antes de publicá-las, o sr. Toni Marques passou a noite inteira declamando Baudelaire, Blake, Pushkin e Lorca, de memória e no original, estendendo o copo para o alto, com o olhar perdido no infinito, voz de barítono e coçando o saco com a mão livre, posto que seu hedonismo o fez contrair chatos de tal envergadura como só se vira antes na Idade da Pedra.
Minto mais, digo, muito mais ainda poderia declarar sobre a nefasta figura do sr. Toni Marques. Mas me calo por respeito. Por isso e também porque ele me deu uma grana, além de informações privilegiadas sobre a Bolsa.
Caso duvidem da minha versão, perguntem ao Mito. E ele próprio, imácula temunha ocular da história que é, poderá confirmá-la.