4 de dezembro de 2008

O ENGENHEIRO SONHA COISAS CLARAS...


Encontraste algum dia
Sobre a terra
O fundo do mar
O tempo marinho e calmo?


Década de 7o. Muito, muito desgostoso, sozinho, muito só desde que, por incompetência alheia, um pavilhão de concreto calculado por ele desabara em Belo Horizonte, matando mais de 60 operários, Joaquim Cardozo embarcou no Recife para estar com Oscar Niemeyer no Rio.

O amigo arquiteto providenciou hotel para o amigo engenheiro, poeta responsável pelo cálculo estrutural da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, do Palácio da Alvorada e da Catedral de Brasília. Debruçado sobre o mar de Copacabana, Joaquim passava os dias no escritório do velho companheiro. À noite, Oscar o acompanhava até o hotel. Iam pela calçada. Jantavam. Trocavam impressões, idéias, recordações...

Não tocavam no assunto, mas, calados, lembravam "com íntima revolta" o acidente que desgraçara a vida do pernambucano e virara "objeto de exploração tão sórdida", como conta Niemeyer.

A rotina entre as pranchetas que os visionários diriam em balanço sobre as areias do Posto 6 e o quarto de hotel ali perto teve fim quando Joaquim precisou ser internado numa clínica do bairro de Botafogo. O engenheiro calculista que poetava em mandarim já não cabia na hospedaria. Mas tampouco haveria espaço dentro dele para um setor de psiquiatria.


Então, há 30 anos, um mês e um nascer do sol, morria no Recife o poeta nascido da "luz Velásquez", engenheiro que inspirou num conterrâneo inimigo da inspiração os versos em epígrafe.