11 de outubro de 2007

UM BELO SISTEMA

Em vez de instaurar o capitalismo no Brasil, acho que a gente pode pular uma casa e partir direto para a criação de uma social-democracia de inspiração escandinava. É um sistema mais justo. Sobretudo no que se refere à beleza das mulheres.

POEMA À MODA DO BOCA DO INFERNO

Contam que o rei era mui belo
Não 'tou aqui para negar
Bela era a escrava Agar
De quem Abrão chupou o... selo.
Porém, Abrão não pôde dar
O que em Azot o nosso Deus
Sangrou dos pobres filisteus.
Perdoem-me se eu aqui trelo.

Tanto Jonatas como Golias
Perderam, rápido, as cabeças
— aquele primeiro, às avessas —
Pelo rei Davi, naqueles dias.
Melhor dirá o que não tropeça:
“Antes no alto da cruz me pregas
Do que perco minhas lindas homógrafas”.
Dou adeus a quem nisso porfia.

No entanto, de novo cá eu volto
Ao assunto, apenas mais um instante.
Como alhures dizia a cartomante:
“O futuro, amigo, não é solto”.
Nisso não entra culpa do amante.
Ora, se de Davi o ser amado
Se acha neste sodomítico estado
É, sim, por ter um nome allegro molto.

(Mais, aqui)

É duro fugir do óbvio

Tô aqui tentando dar uma tamancada em alguém, mas o óbvio, ou melhor, o sentimento de obviedade me persegue. Falar de Renan? Ora, já tenho idade suficiente para saber que desta cartola não sai coelho.

O Brasil é o país das obviedades. E elas giram em torno das mesmas coisas, sempre: novela, futebol e pau no Congresso Nacional. Ok, antigamente o pau na política era mais amplo, mas agora que os petistas assumiram o poder o brasileiro parece ter percebido que sua relação com o governo está mais para novela e futebol do que para política propriamente dita.

Dar uma tamancada em mim também é algo de uma obviedade assustadora. Minha cabeça dói de tanto que me autoflagelo. Melhor passar.

Artistas? Jornalistas? Tudo muito óbvio. Hoje o G1 estampou o Nobel de Literatura sob a rública: "vitória feminina". Que coisa mais demodé. Até porque 11 mulheres já ganharam o Nobel de Literatura. Se bem que o estagiário que deu a manchete não deve sequer saber o que é este tal de Nobel.

E mais: matéria sobre fiéis em Aparecida do Norte, com a tradicional foto de algum pobre-diabo carregando uma cruz. * bocejo * Horário de verão. * bocejo * Mulher de motorista de carreta diz que marido não teve culpa. * bocejo *

O jornalismo no Brasil tem sido um longo bocejo.

Será que um dia vamos dar uma tamancada em algo verdadeiramente relevante?

O CAPITALISMO BRASILEIRO É UMA OBRA DE FICÇÃO ATRAVANCANDO O MERCADO EDITORIAL

O "inexistente" capitalismo brasileiro atrasa a vida de escritores.

Antonio Fernando Borges:

"Cada vez mais envolvido com livros e editoras, a cantilena que mais tenho ouvido bate sempre numa tecla: a da “incipiência e fragilidade do nosso mercado editorial”…

(...) Incipiente e frágil é o próprio capitalismo, tão mal instaurado entre nós.
(Tão atacado… Tão denunciado… Tão inexistente!)"

(aqui, o texto completo: http://antoniofernandoborges.com/)

REMÉDIO PARA GRIPE FORTE :IMAGINAR UM DISCO SÓ COM MÚSICAS SOBRE CHUVA

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Ivan Lessa, drrubado por uma gripe desgraçada:

"Depressões beirando o suicídio nos cantos escuros do apartamento. Que são muitos. Ir de um quarto para outro, bem devagar, arrastando os pés e falando sozinho (não muito alto) é recomendável. Pensamentos deprimentes no lugar do xarope Fontoura.

Uma chegada na janela para ver o mundo normal lá fora. Chove, Tudo me leva à cama. Menos o sono. Como não dá para dormir, deito-me no sofá da sala e fico besteando de olhos fechados. Cama de tarde, em dia de semana, aborrece não só gatos como gente também.

Brinco com minha cabeça. Faço o que faço nas viagens mais longas de avião: vou “produzindo” álbuns de música popular, aqueles que muita gente boa gosta de chamar de “conceituais”.
Um álbum de 12 faixas só com a chuva como tema. Mole. Tito Madi ganhando disparado. Promessa, de Custódio Mesquita e Evaldo Ruy (“pedi pra chover...”), abre o lado B (em gripes, trabalho com vinil). Depois vou de nome de mulher. Brasileiras e americanas. De Nancy (com Orlando Silva) a Nancy (com Sinatra). Presentes Stella by starlight, Aurora e Cadê Mimi".

Aqui:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/10/071010_ivanlessa_tp.shtml

NÃO CANTO, COMO O REI DAVI

Na casa de Aquis
Davi se fez de louco.
Não soube o rei tampouco
Agir como o Pai quis:
Da mulher ele fez pouco
Pensando ser a fada
De Jonatas, na espada,
Sentou como uma atriz.

Já lá em Aquimelec,
Homem tão sem coração,
Comeu da proposição,
Fez também, ai, que meleca!
Vejam só que o rapagão
Logo ao filho de Saul
Desejou dar o... Diz' tu,
Mais não falo da boneca.

(Poema profano completo, aqui)