1 de dezembro de 2007

"COMO SERIA BOM TER UM ESCRAVO" PARA QUEBRAR OS GALHOS DA VIDA COTIDIANA....

De quem será esta queixa ?

"Desesperado na confusão linhas telefônicas, faxes, computador e televisão a cabo, sinceramente penso em como seria bom ter um escravo.Eu o trataria bem, não o maltrataria e não me aproveitaria dele de maneira degradante, apenas o usaria como dragomano para quebrar os galhos da vida cotidiana. Talvez até me lembrasse dele no meu testamento( se fosse "ela" seria perigoso). Lembro que, jovem, eu me envergonhava quando lia em Machado Assis um aristocrata dizendo :"Manda um moleque avisar a etc..."

(aqui, a identidade secreta do autor: http://soaressilva.wunderblogs.com/archives/023409.html#more)

É DEZEMBRO ! ALEGRAI-VOS! COMEÇA O GRANDE FESTIVAL DAS CHATICES DE FIM DE ANO!

Ivan Lessa:

"Fim de ano. As chatices habituais. Trânsito difícil, senhoras carregadas de embrulhos no metrô, frio, noite começando a bocejar de sono já às cinco da tarde.
Jornais com pouco a noticiar e muito a anunciarem (“Papai Noel ficou maluco na Loja Tal!” “O supermercado Coisa Aquela está botando pra quebrar!”). A televisão guarda o quente para o começo do ano e prepara, ou nos prepara, como se fôssemos um peru de Natal, uma programação para crianças pouco dotadas em matéria de luzes: especiais comuníssimos, os filmes de sempre (Mary Poppins, A Noviça Rebelde, um festival Julie Andrews, enfim), anúncios de colônia e bilboquês eletrônicos"


aqui:http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/11/071130_ivanlessa_tp.shtml

FESTIVAL FERNANDO SABINO - 6

"A consciência literária é gratuita, o dom de escrever não se adquire, mas uma convicção é conquistada (...) Cinco horas da manhã.Daqui a pouco, o dia começa a clarear. Levanto-me da máquina, o corpo dormente, espreguiço-me, vou até a janela. Todas as luzes do edifício fronteiro apagadas, os moradores estão dormindo na Santa Paz do Senhor - todos eles, como eu, pobres criaturas de Deus. Foi-se o medo de surpreender o mistério dessa gente, quisera agora comunicar-me com eles, saber de seus desejos e problemas, conhecê-los de perto, escrever sobre eles, quem sabe, talvez um romance, o meu romance"

FESTIVAL FERNANDO SABINO -5

...."Pelo menos vejo nos melhores filmes de ultimamente, desde Antonioni, com A Noite, ou Felini, com Doce Vida e Oito e Meio, até a mais recente realização de categoria do cinema brasileiro, um atendimento da minha necessidade de expressão romanesca muito maior do que qualquer romance hoje me possa dar. A possibilidade de uma obra de autoria coletiva em colaboração interdependente, ainda que sob a orientação de um só, me parece muito mais condizente com as exigências coletivas do nosso tempo"

(idem)

FESTIVAL FERNANDO SABINO - 4

"...Talvez para mim, que sou filho ingrato. Mas permanecerá para sempre vivo nas páginas de Faulkner, Proust e outros grandes, cuja leitura jamais cheguei a terminar, para não falar em Dickens, Balzac e outros ancestrais, cuja leitura nem sequer iniciei. Eu, um literato, um escritor, um romancista em potencial: que em certa época de paranóia literária me pretendi um scholar e disparei a ler toda uma bibliografia sobre o fenômeno da literatura e nosso tempo - de I.A. Richards a C.M.Bowra ! Para mim, deve ter sido Kafka quem encerrou a questão. É possível que, depois dele, o romance esteja mesmo liquidado, vamos sair para outra. É possível que o cinema seja mesmo o mais autêntico meio de expressão do nosso tempo, ainda em seus primeiros passos"

FESTIVAL FERNANDO SABINO - 3

....."Mas o melhor livro que já li na minha vida continua mesmo sendo "Winnetou", de Karl May :jamais romance algum me deslumbrará tanto como, aos onze anos, essa fabulosa história de aventuras. Hoje, para dizer a verdade, do que eu gosto mesmo é de um bom livro de aventuras reais de guerra :já li no mínimo uns cem - e nem em Saint-Exupéry encontrei tão boa literatura como no livro de Richard Hillary,por exemplo. Até já me esqueci que Gide existiu: o que me impressiona hoje é um bom documentário jornalístico sobre a situação da Argélia, a revolução cubana, a guerra no Vietnã, a vida de Churchill,o fenômeno Hitler, a santidadede João XXIII, o assassinato de Kennedy, o fundo do mar na visão de Jacques Costeau. Ou mesmo o relato de um crime em pretensiosa forma de romance, como o de Truman Capote, no entanto tão bem sucedido como excelente reportagem. O que significa isso ? Que o romance estará definitivamente ultrapassado como gênero literário ?"


(Idem)

FESTIVAL FERNANDO SABINO - 2

"Escrever romance para quê, depois de Dostoiévski ? Para ser lido por quem ? Tenho horror à nouvelle vague. Alguns casos esporádicos ainda conseguem me impressionar: Nabokov, Durrel, Joseph Heller : Catch-22 é talvez a única coisa realmente nova surgida ultimamente em matéria de romance. Saul Bellow pode ser bom, as deixo para acabar um dia a leitura de "Herzog" - ai, meu Deus, qie preguiça. Em compensação, êta romance gostoso esse extraordinário "Coronel e o Lobisomem", de José Cândido Carvalho! Desde "Quincas Borba" que não leio nada com tamanho prazer a cada linha"

(Idem)

FESTIVAL FERNANDO SABINO - 1

"Li as novelas de Henry James de ponta a ponta, para um dia acabar descobrindo, nas obras maiores, que o gênio do romance moderno era um chato. Outro gênio do romance me derrotou: não consegui ler "Ulisses", apesar de três obstinadas tentativas que me levaram tão somente até aquela impenetrável discussão sobre Hamlet na biblioteca: um doce para quem,além de Antônio Houaiss, me explicar do que se trata.E,como os demais que me afirmam ter lido o livro todo, e não somente o monólogo final, não preciso ir até o fim para saber que se trata de uma insuportável obra-prima"

(Fernando Sabino, num exemplar amarelado na revista MANCHETE DE 11 de março de 1967)