O senador Pedro Simon encetou as lanças e conclamou o país a reagir. Num artigo assinado na Folha de São Paulo fez um apelo à nação: "Reaje, Brasil". O senador gaúcho quer o país mobilizado de fora pra dentro, nas ruas, contra a corrupção, a miséria, a barbárie, o analfabetismo. E fez um desafio: "é hora de a sociedade organizada reagir". O senador Pedro Simon, uma das reservas morais da política brasileira, tem razão. É hora de agir, de novo.
A História comprova que, em certos momentos da vida nacional, apelos dramáticos como o do senador Simon deram certo. Em fevereiro de 1945, com uma entrevista ao jornal "Correio da Manhã", José Américo de Almeida contribuiu decisivamente para pôr fim à ditadura do Estado Novo implantada por Getúlio Vargas. O senador Teotônio Vilela, o menestrel das Alagoas, ajudou a derrubar os milicos de 64. O senador Pedro Simon deveria percorrer o país pregando a reconstrução do país. Mas é grande o risco de uma carreira solo, sem ninguém para ouvi-lo ou segui-lo. A multidão é sonâmbula. Sem querer desanimá-lo, senador, vamos avaliar a atual bovinice dos "atores sociais".
Os jovens caras-pintadas, que derrubaram Collor, estão estudando para fazer concurso público. É compreensível, senador, o emprego privado acabou. E redação e contabilidade são os bichos colloridos dos concursos.
Os gays, que já foram minoria e hoje são maioria, estão curtindo, merecidamente, a alegria infinita, "a delícia de ser o que é", nada de protesto. O poeta pernambucano Manuel Bandeira já dera a senha em versos libidinosos e insurrectos: "pecai com os fuzileiros navais".
Os padres, quando não estão respondendo a processos por atentado ao pudor, rezam,com fé renovada, pelo catecismo medieval de Bento XVI.
Os evangélicos precederam Chávez e já dominam os meios de comunicação.
Os artistas estão mais próximos de Rouanet do que do povo. Ou então estão se esgrimindo com musas de seios totêmicos (Duílias pop, senador).
Os índios desistiram de comer os novos bispos Sardinha e estão interessados apenas em comercializar diamantes e outras pedras com os contrabandistas.
Os adolescentes, imersos no MSN, inventam uma novílingua, como Joyces demenciais e desprovidos de talento.
Os empresários estão hipnotizados pelo espetáculo do crescimento chinês e pelos juros rapaces dos banqueiros (os irmãos mais novos de Lula).
Os gaúchos, tão machos no século passado, estão envergonhados com a goleada que levaram do Boca Juniors.
E o povo, senador, o povo anda com o celular meio desligado, abilolado com o bolsa-família e sempre disposto a sacar a faca-peixeira fratricida contra outro igualmente pobre. Os sociólogos chamam isso de "crime por aproximação".
Mas, senador, não vamos desanimar. Lembra-se dos maoistas de Godard? Eles diziam que "uma minoria revolucionária, numa linha política justa, já não é uma minoria". Além do mais, senador, os exaltados, como Darcy Ribeiro, Castro Alves e Glauber Rocha, sempre ganham um cantinho lá no céu. Caso decida, realmente, como um Quixote da restauração nacional, pregar no deserto brasílico, apelando para que esse povo jeca e passivo reaja, verás que um filho teu não foge à luta. Agora, senador, sofro da síndrome de Angélica, só vou de táxi.
A História comprova que, em certos momentos da vida nacional, apelos dramáticos como o do senador Simon deram certo. Em fevereiro de 1945, com uma entrevista ao jornal "Correio da Manhã", José Américo de Almeida contribuiu decisivamente para pôr fim à ditadura do Estado Novo implantada por Getúlio Vargas. O senador Teotônio Vilela, o menestrel das Alagoas, ajudou a derrubar os milicos de 64. O senador Pedro Simon deveria percorrer o país pregando a reconstrução do país. Mas é grande o risco de uma carreira solo, sem ninguém para ouvi-lo ou segui-lo. A multidão é sonâmbula. Sem querer desanimá-lo, senador, vamos avaliar a atual bovinice dos "atores sociais".
Os jovens caras-pintadas, que derrubaram Collor, estão estudando para fazer concurso público. É compreensível, senador, o emprego privado acabou. E redação e contabilidade são os bichos colloridos dos concursos.
Os gays, que já foram minoria e hoje são maioria, estão curtindo, merecidamente, a alegria infinita, "a delícia de ser o que é", nada de protesto. O poeta pernambucano Manuel Bandeira já dera a senha em versos libidinosos e insurrectos: "pecai com os fuzileiros navais".
Os padres, quando não estão respondendo a processos por atentado ao pudor, rezam,com fé renovada, pelo catecismo medieval de Bento XVI.
Os evangélicos precederam Chávez e já dominam os meios de comunicação.
Os artistas estão mais próximos de Rouanet do que do povo. Ou então estão se esgrimindo com musas de seios totêmicos (Duílias pop, senador).
Os índios desistiram de comer os novos bispos Sardinha e estão interessados apenas em comercializar diamantes e outras pedras com os contrabandistas.
Os adolescentes, imersos no MSN, inventam uma novílingua, como Joyces demenciais e desprovidos de talento.
Os empresários estão hipnotizados pelo espetáculo do crescimento chinês e pelos juros rapaces dos banqueiros (os irmãos mais novos de Lula).
Os gaúchos, tão machos no século passado, estão envergonhados com a goleada que levaram do Boca Juniors.
E o povo, senador, o povo anda com o celular meio desligado, abilolado com o bolsa-família e sempre disposto a sacar a faca-peixeira fratricida contra outro igualmente pobre. Os sociólogos chamam isso de "crime por aproximação".
Mas, senador, não vamos desanimar. Lembra-se dos maoistas de Godard? Eles diziam que "uma minoria revolucionária, numa linha política justa, já não é uma minoria". Além do mais, senador, os exaltados, como Darcy Ribeiro, Castro Alves e Glauber Rocha, sempre ganham um cantinho lá no céu. Caso decida, realmente, como um Quixote da restauração nacional, pregar no deserto brasílico, apelando para que esse povo jeca e passivo reaja, verás que um filho teu não foge à luta. Agora, senador, sofro da síndrome de Angélica, só vou de táxi.