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Tempo de serviço deve servir para alguma coisa. Não é possível que seja de todo inútil.
Em meu caso, depois de trinta e cinco (!!) anos de pastagem em redações, tempo de serviço serviu para que eu aprendesse o seguinte:
o maior, o mais nocivo, o mais destrutivo, o mais implacável, o mais intransigente inimigo da notícia é o jornalista.
Aviso aos navegantes: não é "frase de efeito". É a mais cristalina verdade.
Já se disse que o melhor jornal é aquele que vai para a cesta do lixo das redações. Ou seja :o que não é publicado.
Um leigo ficaria boquiaberto se testemunhasse por cinco minutos o que acontece em qualquer redação : exércitos de burocratas, com uma lança afiada em punho, passam o dia caçando a primeira história interessante que aparecer pela frente.
Quando encontram uma pela frente, esfolam a coitada a golpes de lança, socos, pontapés e cuteladas ( quando eu era criança, toda vez que um lutador chamado Verdugo acertava um golpe no adversário, o locutor do Telecatch Montilla gritava : "Cutelada sensacional de Verdugo !". "Cutelada". Eu sabia que um dia iria escrever esta palavra. O grande dia chegou.)
Se o tal locutor ressuscitasse para animar as redações, exclamaria de cinco em cinco minutos :"Cutelada sensacional na notícia !".
É assim que são feitos jornais, revistas e TVs.
Gente que se acha investida de um mandato divino resolve decidir, a cuteladas, o que é que o distinto público deve e quer saber.
"Cutelada sensacional" na profissão!