3 de setembro de 2007

Vem aí um novo Itamar Franco

Nos Estados Unidos, o presidente, quase sempre um criminoso de guerra, cumpre dois mandatos, e vai para casa, sempre. Abre uma fundação, livro de memórias, palestras a peso de ouro, uma causa humanista em algum país africano, missão cumprida. No Brasil, é diferente, os ex-presidentes tendem a vivenciar a Síndrome de Itamar. Depois de deixar o país praticamente arrumado, livre da inflação, para FHC assumir, Itamar Franco decidiu não ir para casa. O que fazer depois do mandato presidencial? Perambulou por Minas, Roma, Lisboa, sempre a pagar mico. A rigor, nem merecia, já que conseguiu reaprumar o país depois do furacão Collor, o que já é um grande feito, nos parâmetros nacionais.

Antes dele, Sarney se mudou de mentira para o Amapá (onde fica?) e até hoje conspira no Congresso com as tentativas de segurar Renan. O próprio Collor, depois de uma quarentena, retornou e já começou a aprontar, com a licença para não julgar o colega Renan. FHC, mais esperto, agregou uns mecenas descansados e criou uma fundação. Cínico e preguiçoso,anda dando palestras para tabacos-lesos, intercaladas com análises niilistas sobre os trópicos.

O que fazer depois da presidência? No Congresso do PT, Lula já avisou que não vai para casa, à semelhança de Collor, Sarney, Itamar e FHC. Vai fazer, segundo ele, o que sabe fazer: andar pelo país. Portanto, vem aí mais um portador da Síndrome de Itamar. Agora, é fácil imaginar o futuro cenário. Um novo presidente eleito, seja ele quem for, e Lula viajando pelo país, arrastando os miseráveis do Bolsa Família e sendo vaiado pelos cansados do Sul/Sudeste. O que isso poderá provocar: instabilidade política, antecipação da eleição presidencial de 2014, ingovernabilidade? Tudo é possível.

O curioso é que só a metade do modelo presidencial americano, o do direito à reeleição, é bom para o Brasil. O complemento, go home, é um desserviço ao país. Itamar, que contribuiu efetivamente para acabar com o imposto inflacionário, também fez escola como zumbi. Já que o Congresso não se interessa pelo assunto, os eleitores deveriam recorrer à velha fórmula antivampiresca: cordas de alho e crucifixos.