"A máquina de relações públicas da distribuidora encarregada de lançar um filme de Woody Allen oferece uma entrevista exclusiva com o ator e diretor, na suíte de um hotel plantado às margens do Hyde Park, em Londres. Tento ser britanicamente pontual: chego na hora. A assessora me leva para uma ante-sala. Vai embora. Um minuto depois, chega o astro. É igual ao que se vê no cinema: tímido, esfrega as mãos enquanto fala, olha para o chão, solta tiradas geniais. É pálido como um boneco de cera. Pergunto se ele admira algum brasileiro. Tenho certeza de que Woody Allen – fanático por esportes – vai citar Pelé ou Romário ou Ronaldinho. Quebro a cara. Allen se declara apaixonado por Machado de Assis. Ganhou de presente uma versão inglesa de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Lá pelas tantas, diz que precisa fazer um filme atrás do outro, para não olhar para a “nuvem negra” que paira vinte e quatro horas sobre seus ombros – a morte. Tento consolá-lo. Digo que os filmes que ele faz serão estudados daqui a 50 anos, nas cinematecas. Woody Allen responde que não quer a imortalidade no futuro. “Quero agora, já, no meu apartamento”. Infelizmente, não posso ajudar".
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