Decido abandonar por um par de horas o estábulo. Vou até a janela, olho para o céu, relincho, abro a porta, pego um táxi, parto para o novo "espaço cinematográfico" do Rio de Janeiro, as recém-inauguradas salas do Shopping Center da Gávea. Ingressos esgotados parao filme que eu tinha escolhido: "A Culpa é do Fidel". Compro ingresso para a única sessão em que havia lugar disponível. Filme: "P.S. Eu Te Amo". Acomodo com cuidado minhas patas no chão, para não estragar a cadeira da frente.
Começa o filme. Não é exagero: é um dos piores filmes já exibidos no Cone Sul da América nos últimos tempos. Que desperdício de tempo e dinheiro! A história é ridícula. As atuações são patéticas. A direção é quadradíssima. Pergunta-se: como Hilary Swank - que atuou tão bem em filmes como Menina de Ouro - embarca numa empreitada dessas ? Gerard Butler faz caras e bocas para parecer sensual. Patético. Patético. É um canastrão de décima categoria.
O diretor, Richard LaGravenese , deveria sair da sala de montagem num camburão, por assalto à mão desarmada.
Mas há coisas piores do que "P.S. Eu Te Amo". Um dos canais do Telecine tem reprisado à exaustão um filme chamado "Um Bom Ano" ( A Good Year). O diretor é conceituado: Ridley Scott. Mas quem dirige uma bomba como "Um Bom Ano" merece perder para sempre o prestígio que acumulou em anos passados.
Russell Crowe - aquele ator que deve ter tido algum sério trauma de infância porque passa a vida exibindo permanentemente um ar de quem comeu e não gostou - faz força para parecer engraçado. Mas não existem duas entidades tão incompatíveis na face da terra quanto Russel Crowe e a comédia. Uma coisa anula a outra. São geneticamente incompatíveis. Depois de cinco minutos de filme, as tentativas de fazer graça conseguem provocar apenas irritação. Com aquele ar de idiota, ele sai tropeçando em tudo o que encontra pela frente. Você começa a se mexer na poltrona, incomodado. Logo,logo o filme vira tortura.
Por coincidência, a entrevista de Russel Crowe no programa do David Letterman foi reprisada faz poucos dias. Lá, o idiota confirmou que jogou um cinzeiro num camareiro de um hotel porque estava irritado com a dificuldade em dar um telefonema. Deus do céu. Com ar compungido, ele pediu desculpas à vítima. Coitadinho: não pode encontrar um telefone com defeito porque vai logo jogando cinzeiro em quem se aproxima. Por que não passa o resto da vida internado numa Clínica de Recuperação de Chatos ?
Pensei que estava exagerando ao considerar "Um Bom Ano" uma desgraça inassistível. Dei uma navegada em blogs de cinema. Lá, um espectador chama o filme de um dos piores já feitos até hoje. Bingo!
É verdade. Quando a TV anunciar "Um Bom Ano", corra, mude de canal na hora. Se o filme voltar ao cartaz, fuja para outra cidade.