Quando li pela primeira vez os romances de Paulo Francis fiquei angustiado. Angústia provocada pelo turbilhão de salitre e breu (copyright William Blake) que jorrava do Cabeça de papel e Cabeça de negro. Os dois volumes foram todos rabiscados. Muitas vezes tinha que voltar páginas para entender personagens que entravam e saíam sem qualquer explicação, aceno, bye, bye, so long, farewell.
Deixei os livros dormindo alguns anos na estante. Ainda ficava incomodado por não ter conseguido entrar nos romances. E só se insiste dessa forma, antes de considerar o escritor uma besta sem talento, se se pensar que há algo de valor escondido pela linguagem alucinada e inside joke de uma época que não a sua. O que fiz? Abria os livros em qualquer página e lia o parágrafo no qual a vista primeiro focalizava. O parágrafo levava a outro e lá ia Garschagen atravessando mais páginas do que deveria. “Do que deveria” porque a idéia era ler os romances de forma fragmentada, como extratos do Diário da Corte. Deu certo, comigo.
Leio hoje na Folha (assinante) sobre o lançamento do romance que Francis deixou escrito. Se for como os outros, lerei o livro inteiro para depois aproveitá-lo em doses homeopáticas. Ter Francis, o precursor dos blogues de qualidade, em evidência é sempre bom, sempre civiliza.
O livro-confusão de Francis
Chega às livrarias “Carne Viva”, romance inédito de Paulo Francis que teve sua publicação adiada por mais de dez anos e sofreu modificações
Paulo Francis na redação da Folha, em 1982; livro inédito “Carne Viva’ chega às livrarias no próximo dia 15, com mudanças feitas nos originais deixados pelo autor
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCALWaaal… Demorou dez anos, mas finalmente ficou pronto. Chega às livrarias no próximo dia 15 o aguardado romance inédito de Paulo Francis (1930-1997), prometido há mais de uma década e que fecharia o ciclo iniciado com “Cabeça de Papel” e “Cabeça de Negro”. Antes mesmo da sua publicação, “Carne Viva” já tem uma longa história. A começar pelo título, que originalmente seria “Jogando Cantos Felizes”.