Minha orientação espacial é tal que o único empecilho teológico a minha conversão ao Islã, segundo vejo, é a obrigação de rezar cinco vezes por dia voltado para Meca. Dificuldade que não seria menor se em vez da cidade de Maomé o alvo das preces fosse a esquina aqui de casa.
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No colégio, era sempre expulso das aulas de Geografia graças a certo anacronismo que me faz considerar a Terra atual como se estivéssemos à época da Pangéia. E isso me causava enormes transtornos, sendo o primeiro deles não encontrar a porta de saída da sala.
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Um mapa-múndi produzido por mim seria o único a mostrar com clareza o movimento constante dos continentes, ainda que de forma mais acelerada. Sua comercialização, antevejo, traria inúmeras vantagens para as comunidades humanas, a saber: a Bolívia teria saída para o mar, a Irlanda se separaria da Inglaterra, o Piauí deixaria de existir e os políticos não saberiam a localização exata das Ilhas Cayman.
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Mas talvez provocasse algumas confusões: depois de inúmeros perigos e dias de travessia no deserto, os mexicanos cruzariam sedentos e faminos a fronteira com os EUA e perceberiam, decepcionados, ter entrado no Zimbábue.
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É bem verdade que minha desorientação é amadorística e nada comparável ao nível de excelência alcançado pelos paulistanos, que acham que a Geografia é uma ciência de esquerda, único motivo plausível que encontro para sua acirrada campanha contra ela. Para se ter uma idéia, jogando War outro dia com um amigo paulistano, ele venceu a partida ao conquistar Saturno. (Leia o resto do texto aqui)