8 de junho de 2007

CULTURA MIL VEZES INÚTIL

Se um dia eu for chamado a um Tribunal das Causas Inúteis, confessarei ao meritíssimo: sou capaz de citar de memória, sem consultar qualquer fonte, a escalação completa do time do Sport Clube do Recife de 1968:

Miltão; Baixa, Bibiu, Gílson e Altair; Válter e Vadinho; Dema, Zezinho, Acelino e Fernando Lima.

Também posso citar de cabeça os times do Santos ( Cláudio; Carlos Alberto, Ramos Delgado, Joel e Rildo; Clodoaldo e Negreiros; Manoel Maria, Toninho, Pelé e Edu) ou do Botafogo ( Cao; Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gérson; Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César) ou do Palmeiras ( Perez; Scalera, Baldochi, Minuca e Ferrari; Dudu e Ademir da Guia; Gildo, Sevílio, Tupãzinho e Rinaldo).

Pergunto: alguém sabe responder para que servem tantos nomes?

Eu apostaria, com cem por cento de certeza: para nada.

Aqueles programas de TV em que um fanático respondia sobre um assunto já acabaram. Além de tudo, quem iria escalar um concorrente cujo maior trunfo é citar de memória a escalação de quatro times de 1968? Ninguém, é claro.

Mas esta era a escalação dos meus times de botão, quando eu tinha doze anos.

Já sei o que fazer neste feriadão: vou caminhar pela rua enquanto repito para mim mesmo, num tom de voz inaudível para os passantes: "miltão; baixa, bibiu, gílson e altair....."

A vida - descubro, tardiamente - é esta grande coleção de pequenas inutilidades.

Dita esta bobagem, declaro solenemente encerrada minha carreira de filósofo amador.