Este espaço tem sido exorbitante na defesa da atualidade reconstituída da língua brasileira. Todos temos o dever cívico de tentar renová-la, de não permitir que essa missão fique apenas com os drugues das favelas cariocas. O nosso apelo, ao que parece, começa a ser atendido pelos meios de comunicação. De forma exorbitante, ressalte-se. Uma nova expressão aterrissou nos textos dos telejornais sobre, entre outros assuntos, a crise aérea e a guerra civil urbana: "aparente tranqüilidade". Pelos testículos de Camões, o que significa "aparente tranqüilidade"?
A polícia mata 19 drugues no Complexo do Alemão, mas as favelas reunidas estão em "aparente tranqüilidade".
Os torcedores tentam surrar o presidente do Corinthias, mas o ambiente é de "aparente tranqüilidade".
O Hamas expulsa a tiros o Fatah, mas a Faixa de Gaza vive em "aparente tranqüilidade".
Camões fica cego de um olho, mas o estado de espírito do poeta é de "aparente tranqüilidade".
A expressão "aparente tranqüilidade" aparentemente é um sucedâneo pós-moderno do jargão militar da ditadura: "reina a calma em todo o país". Se é assim, relaxemos. Afinal, reina aparente tranqüilidade em todo o país.