28 de junho de 2007

'Um intelectual brasileiro ia começar a ler Camões quando a banda passou e...'

Sempre achei a lavra dele chata, e continuo achando - viva o impressionismo. Mas o que ele dizia faz todo o sentido.

No Reinaldo Azevedo, entrevista dada por Bruno Tolentino séculos atrás (atrás mesmo?).

Trecho:

VEJA — Por que só o senhor, e não outros críticos, diz essas coisas?
TOLENTINO — Na República das Letras, ainda estamos à espera das diretas-já. A usurpação do poder legal por vinte anos deixou-nos seus legados nas patotas literárias que desde então controlam a entrada em circulação, ou a exclusão pelo silêncio, de livros, autores, obras inteiras. Nas redações dos jornais como nas universidades, prevalece a censura, e o único critério para sancionar uma obra parece ser o bom comportamento do neófito, sua genuflexão aos ícones da hora. Nossa crítica suicidou-se, matando o diálogo, o debate e a polêmica. Mascarados de universitários, esses anõezinhos conseguem dar a impressão de que a inteligência nacional encolheu, de que, em Lilliput, só se sabe da cintura para baixo. Quem já ouviu falar de Alberto Cunha Melo, que vive escondido no Recife, e é nosso maior poeta desde João Cabral? São dele estas palavras: "Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem". Mas José Miguel Wisnik ora é crítico, ora é letrista e compositor, portanto é catedrático. Os violeiros empoleiraram-se nas cátedras, e Fernando Pessoa virou afluente da MPB. Não é à toa que até em Portugal os brasileiros viraram piada. Ouvi uma que provocava gargalhada logo à primeira frase: "Um intelectual brasileiro ia começar a ler Camões quando a banda passou e..." É preciso perguntar dia e noite: por que Chico, Caetano e Benjor no lugar de Bandeira, Adélia Prado e Ferreira Gullar?