Quando via ou ouvia qualquer coisa estranha na televisão, minha avó se limitava a pronunciar uma palavra, em tom de exclamação: "Vôtis!"
(o certo, parece, é "vôte!", mas ela pronunciava assim).
Depois, recolhia-se a um silêncio espantado.
Vi outro dia um cantor de bandinha de rock que apareceu numa entrevista com unhas pintadas de preto, piercings espetados no rosto, e, se não me engano, bandana. Depois, começou a falar obviedades e platitudes sobre a situação da humanidade e o estado geral das coisas no Brasil, com ar de quem estava articulando uma nova Teoria da Relatividade.
Uma voz que só eu ouço sussurrou ao meu ouvido:
"Vôtis!"
Recolhi-me ao silêncio.