12 de julho de 2007
"UMA OBRA DE ARTE É O GRANDE MISTÉRIO, A MÁGICA SUPREMA: QUANDO LEIO UM TEXTO BOM, MEUS SENTIDOS NAVEGAM POR UM UNIVERSO DE DESLUMBRAMENTO"
"Faz algum tempo meu médico sugeriu que eu adotasse hábitos mais saudáveis do que beber vinho e fornicar. Ele me perguntou se eu tinha alguma idéia. Respondi que sim: "Homicídio". Ele riu, nós dois rimos, só que eu não estava rindo. Pobre coitado, mal sabe que fim doloroso e perfeito eu planejara para ele quando, depois de oito dias de cama com algo semelhante à cólera, o sujeito ainda assim se recusou a me atender em casa"
"Gosto de carros velozes, bem feitos, gosto de motéis isolados com máquinas de gelo e anonimato apavorante; e por vezes pego no volante e,sem aviso nem destino definido, dirijo sozinho até mil e quinhentos quilômetros. Só uma vez consultei um psiquiatra; em vez disso, eu deveria ter saído para dar uma volta de capota abaixada, quando o vento soprasse e o sol brilhasse"
"Considero absurda e obscena esta indústria baseada no apego à juventude, medo de envelhecer, terror da morte. Quer quer viver para sempre, afinal? A maioria de nós, pelo jeito; mas é idiotice. Afinal, existe uma coisa chamada saturação da vida: o ponto em que tudo é puro esforço e repetição total".
"Uma obra de arte é o grande mistério, a mágica suprema; o resto é aritmética ou biologia. Creio que conheço bem o ato de escrever; mesmo assim, quando leio um texto bom, uma obra de arte, meus sentidos navegam por um universo de deslumbramento: como ele conseguiu fazer isso ?
Como é possível ? ".
O texto é de Truman Capote, o "Auto-retrato" que ele escreveu em 1972. Aparece na antologia "Os Cães Ladram", publicada no Brasil na coleção de bolso da
L & PM Editores.
Vale a pena.
O Sopa de Tamanco acaba de cometer uma boa ação: dar de presente, para quem não as conhecia, estas pérolas de Truman Capote.
Mas o locutor-que-vos-fala fica por aqui. Como diriam os porta-vozes, "lamento informar", mas não posso passar a manhã inteira datilografando Truman Capote para vocês, internautas que, com noventa por cento de certeza, estão a essa hora usando indevidamente o computador do trabalho para navegar pelo Sopa de Tamanco longe dos olhares da chefia.
Lá vem ele, o chefe. Disfarce. Abra a página do New York Times. Ou da The Economist. Faça ar de compenetrado (a).
Pronto. O bicho passou batido. Deve ter ido tomar um café.
Tudo não passou de um susto: já podeis da pátria filhos ver contente a mãe gentil.
O Sopa de Tamanco vos espera de braços abertos.