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Vi uma vez um jogo da seleção brasileira, pela TV, no apartamento de Nélson Rodrigues, no Leme, ao lado da fera. O homem, talvez por distração, marcara a entrevista para a hora do jogo. A entrevista não era sobre futebol.
Os times entram em campo. Imaginei: o cronista genial deve saber de tudo sobre o jogo. Que nada. Dramático, Nélson Rodrigues pede que alguém tire o som da TV. Bota a mão no peito: "O Brasil me faz mal ! O Fluminense me faz mal!".
Vira-se para mim e faz a pergunta inesquecível, com aquele olhar mortiço,o queixo ligeiramente caído: "Quem é o nosso adversário hoje ?".
Era o Peru. O Brasil ganhou de três a zero.
Nélson Rodrigues não precisava saber nem do nome do adversário. Isso é coisa para os "idiotas da objetividade". O jornal do dia seguinte trouxe, é claro, uma crônica brilhante de Nélson Rodrigues em louvor da seleção brasileira.
Eis uma bela lição. Que tal acordar pela manhã, começar a batalha e, só então, perguntar ao mundo:
"Quem é o nosso adversário hoje ?".