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O exercício do jornalismo uma vez me deu a chance de gravar uma longa entrevista exclusiva com Woody Allen, na suíte de um hotel de frente para o Hyde Park, em Londres. Eu me lembro especialmente de uma declaração. Lá pelas tantas, ele disse que, assim que terminava um filme, começava imediatamente a fazer outro, porque, se não fosse assim, passaria a olhar obsessivamente para uma nuvem escura que flutua à altura de nossos ombros e nos acompanha por toda parte: a morte. Em outras palavras, ele dizia que os filmes podem até ser dispensáveis, mas precisam ser feitos, porque impedem que os olhos passem o tempo todo fixados na tal nuvem escura.
Tenho esta sensação quando entro numa livraria. Noventa e sete por cento dos livros são dispensáveis. O mundo existiria sem eles. Mas os autores precisam escrevê-los. Noventa e oito por cento dos filmes são dispensáveis.O mundo existiria sem eles. Mas os diretores precisam fazê-los. Noventa e nove por cento dos blogs são dispensáveis. O mundo existiria sem eles. Mas os blogueiros precisam abastecê-los.
Somos todos vítimas da Síndrome de Woody Allen.
Ainda bem.