2 de agosto de 2007

Queremos o clássico histórico.

A União, os Estados e os municípios pagaram no primeiro semestre quase 80 bilhões de reais em juros. Dinheiro suficiente para recuperar praticamente toda a infra-estrutura do país. Se contar com os juros pagos por pessoas jurídicas e físicas, os 80 devem dobrar. Como os contratos têm juros prefixados, os governos vão continuar pagando juros altíssimos, independente da queda da Selic. Contrato não se rompe, alega-se. O presidente Lula tem razão: nunca os ricos ganharam tanto dinheiro no Brasil.

Lêem-se, nos últimos dias, colunas e análises tentando entender o movimento Cansei dos biliardários paulistas. O próprio governo, pela fala de Lula, demostra uma certa perplexidade com a mobilização. Basta conferir os números dos juros pagos(Folha, ontem) e se compreende sem dificuldade o Cansei. Diante da constante incompetência administrativa do governo federal, os ricos paulistas querem mudar para que tudo permaneça como está. Temem que, num descontrole da aparente tranqüilidade, surja um aventureiro (quem se habilitaria?) no estilo Collor ou do velho Lula do ABC e decida acabar, entre outras, com a orgia surfistinha dos juros e da ciranda de aplicações etc. Uma cópia de Chávez. Faz sentido, já que o Lula colaboracionista dos banqueiros não é de fácil replicação. É o mesmo sentimento que move a CUT e outros sindicatos poderosos, com o Cansamos. Querem permanecer parasitários no governo, se possível evoluindo o aparelhamento planejado por José Dirceu. Querem mudar para tudo permanecer como está.

Com a ameaça do presidente Lula de colocar o povo na rua para defender a democracia(?), é possível que os milionários voltem à toca e trabalhem na surdina, sempre em busca de um novo Lula. Frei Betto poderia ajudar, já se disse. Como a alegria dos velhos palhaços, na frase sábia de Joel Silveira, é ver o circo pegar fogo, não seria desinteressante se o Lula companheiro dos banqueiros e agiotas recuperasse, numa metamorfose, a identidade e a ideologia do Lula metalúrgico. Elite versus elite não tem graça. O clássico histórico é povo contra elite. Pena que Zé Dirceu esteja mais interessado em consolidar seu escritório de lobby. Daria um excelente capitão do time, na nova fase do campeonato. Sai daí, Dirceu.