4 de outubro de 2007

O DIA EM QUE DRUMMND POLZONOFFIOU

.
Em seu "Dossiê Drummond", Geneton Moraes Neto, o popular Mito, também conhecido pela alcunha de Bola de Boliche, transcreve com exclusividade uma entrevista engraçadíssima e absolutamente informal que a namorada de CDA, Lygia Fernandes, fez com o poeta. Depois, é a vez do poeta entrevistá-la. Em ambos os casos, Carlos (para os íntimos) usa de uma ironia deliciosa, muitas vezes picante. Reproduzo abaixo um trecho da parte em que ele está fazendo as vezes de repórter. De repente, tem um surto agudo de polzonoffianismo (no bom sentido do termo) e aproveita pra esculhambar a dance music.
.
CDA: As pessoas não dançam. As pessoas se mexem, não conversam. Não sentem nenhum prazer estético. Obedecem como bonecos a uma ordem de pular. Pular, não: se mexer.
LF: Você pode não gostar, mas gosto muito de pular.
CDA: Não. Eu nunca fui...
LF: Gosto muito de dançar, mas a dança de hoje não é uma dança como a de antigamente; a gente ficava colado um no outro, de rostinho.
CDA: Perdão! O que você chama de dança de hoje não é dança. É alguma coisa de gestos, mas dança não é, de maneira nenhuma.
LF: Mas eu gosto...
CDA: É um mínimo de ritmo.
LF: A gente acompanha com o corpo esse ritmo...
CDA: É um ritmo elementar, não tem nenhuma sutileza. As pessoas desaprenderam a dançar. Uma herança milenar que veio da Grécia hoje não é mais respeitada nem conhecida. As pessoas fazem gestos mecânicos, atuam como bonecos, como marionetes, obedecendo a uma ordem de uma empresa de cerveja, ou refrigerante, ou cigarro, qualquer coisa. (...) Pensam que se divertem... Porque não têm nenhuma necessidade interior. Não sabem nada, não conhecem nada, não querem nada...
.
Coitado de Drummond. Viver numa época assim não deve ter sido fácil. É uma pena que o vate não tenha durado mais algumas décadas. Suspeito que se encantaria com as atuais raves. E com Rick e Renner.