"Esperava muito, comercialmente, de "Cabeça de Negro". Me esbaldei promovendo-o. Fiz noites de autógrafos. Amigos da imprensa foram da maior gentileza, dando-me um lançamento que em geral só Jorge Amado, veterano estabelecido de tantas guerras, recebe. O custo psicológico dessa promoção me foi caro. Nenhum assanhamento me move a aparecer na TV todo dia. Ao contrário, é uma autoviolação de profundas resistências internas. Me sinto Chacrinha Jr. Eu queria testar se me seria possível sobreviver como romancista, não dependendo exclusivamente de jornalismo. O resultado, desapontador ( o livro, repito, "vendeu bem", pelo critério de Ênio e outros editores), me levou a uma depressão única na vida (...) Uma velha obsessão de adolescência e boa parte da maturidade, antes que eu começasse a escrever romances, me voltou insistente à cabeça : o suicídio. Jurei que não escreveria mais ficção, ou poria os pés no Brasil. Por decisão própria, comemorei 49 anos sozinho, olhando fixamente as paredes do apartamento em Nova York. Depois das primeiras críticas, proibi que me enviassem qualquer referência ao livro"
("O Afeto que se Encerra")