Pensei em me apresentar aos caros internautas tamanqueiros.
Não consigo articular sequer uma frase legível.
Motivo: faz setenta e duas horas que o peso de oito letras terríveis começou a esmagar o planeta. Oito letras letais: dezembro. O único consolo é que a desgraça se extingue em trinta e um dias.
Respiro fundo, faço de conta que não é comigo e saio latindo pela avenida, para ver se espanto as festinhas de amigo secreto, as listas de fim de ano e outros pequenos horrores da temporada.
Os latidos,como sempre,não surtem qualquer efeito sobre a realidade. Mas não há nada de mais útil a fazer, além de latir, latir, latir.
PS: Um desocupado me convidou a ficar escrevendo para este blog, quando me sobrasse tempo. Não sobra. Ainda assim, tentarei, entre três e quatro da manhã. Acionei meus informantes para descobrir qual era a audiência do blog. Disseram-me que algo em torno de duzentas almas diárias passam e penam por aqui. Há quem ache pouco. Ou pouquíssimo. Considero que duzentas almas penadas formam uma multidão incalculável. Decido, então, que, sempre que possível, subirei num tamborete imaginário, empunharei meu megafone enferrujado e bradarei a plenos pulmões nesta praça pública contra a irrevogável, a irrecorrível,a lastimável idiotia dos seres bípedes que entopem as lojas de dezembro e as mesas de restaurante para falar alto e brincar de amigo secreto.