Junho de 1968. Quatro dias antes das eleições para a Assembléia Nacional convocadas pelo presidente francês Charles de Gaulle em conseqüência daquele mês de maio que chacoalhou a Quinta República, a revista Le Nouvel Observateur publica ataque de Jean-Paul Sartre contra um seu antigo “camaradinha”. Título: “As Bastilhas de Raymond Aron”.
Do lado dos contestadores barulhentos, o autor da Crítica da razão dialética se junta a manifestações que fustigam o poder. Já o alvo de seu ataque representa a “maioria silenciosa”. Aron também toma a palavra nesse período de turbulência que ele descreveria mais tarde como uma semana de algazarra de estudantes seguida de greves que paralisaram a vida econômica do país. Período de apreensão. Para o autor de O ópio dos intelectuais, quando a crise política de maio de 68 chegou ao clímax, pensou-se que o regime não resistiria às pancadas de Daniel Cohn-Bendit. “Nesse dia, em última análise, eu fui gaullista”, diz Aron.
De volta ao ringue, ou melhor, à matéria da revista. Nela, Sartre diz que, por nunca ter aceitado qualquer contestação de alunos, Aron é indigno de ser professor. E acusa o ex-mestre da Sorbonne de exercer “um poder real” que “certamente não se baseia em um saber digno desse nome”. Não satisfeito, sentencia ser necessário, “agora que a França inteira viu De Gaulle todo nu, que os estudantes encarem Raymond Aron todo nu”.
“Não lhe serão devolvidas as roupas se ele não aceitar a contestação”, conclui Sartre.