Lá vinha eu, entretido com o noticiário da rádio, quando, sem aviso prévio, a locutora ( ou "âncora") começa a falar sobre o roubo dos óculos da estátua de Carlos Drummond de Andrade.
Aos forasteiros, diga-se, aliás, que o Rio de Janeiro é a única cidade do mundo em que se roubam óculos de estátuas....
Quando começa a comentar o ocorrido, a âncora da emissora de rádio fala de "um óculos". Depois, repete a barbaridade duas, três, quatro vezes: "Um óculos....".
Deus do céu: fico pensando que profissão é esta, o Jornalismo, em que um ser humano passa quatro anos na faculdade e sai pelo planeta dizendo "um óculos".
Lástima: gente que não sabe diferenciar um plural de um singular acha-se perfeitamente preparada para transmitir a nós, ouvintes otários, as notícias do mundo.
Comigo não, violão.
Desligo o rádio.
Passo a relinchar alegremente. O ruído do relincho faz menos mal aos ouvidos do que alguém dizendo "um óculos".
Gente que não deve nada à língua, como cantores de pagode, zagueiros centrais,
celebridades que posam para a Caras, pode até dizer "um óculos" impunemente.
E certamente diz, satisfeita com a própria ignorância.
Mas jornalista que fala - e escreve - para o público não pode cometer tais barbaridades.
É simples assim: não pode. Porque a língua é o instrumento de trabalho de quem escreve. Não pode nem deve ser pisoteada publicamente por quem, em tese, teria a obrigação de zelar por ela.
O rádio continuará desligado.