10 de julho de 2008

PERGUNTAS, CONSIDERAÇÕES E APELOS NUM DIA DE SOL MORNO

1. Em nome de todos os santos, pelo amor de Deus, alguém precisa avisar a repórteres de TV que o trocadilho é o lixo do texto. O maior engano da história do jornalismo - impresso ou televisivo - é imaginar que trocadilhos são capazes de dar "qualidade" a um texto capenga. Não dão. São, em noventa e nove por cento dos casos, infames. Deveriam ser sumariamente banidos, em nome do bem estar dos ouvidos alheios. Mas, não. Transformaram-se em peste televisiva. A saída: tirar o som quando trocadilhistas dão sinal de vida. Ou mudar de canal. Ou, o que é ainda melhor, desligar a TV, que, a bem da verdade, não passa de um eletrodoméstico metido a besta.

2. Pode existir, sob o sol do Brasil, assunto mais chato do que essas discussões infindáveis sobre se Capitu traiu ou não traiu Bentinho ? Não pode. "Se vivo estivesse", Machado de Assis certamente exalaria um suspiro de tédio diante dessas contendas inúteis. Aliás, por que diabos chamam Machado de Assis de "Bruxo" ? Isso é coisa de jornalista desocupado ( ou um deslize de Carlos Drummond, autor de um poema em que recorre ao título maldito ao falar de Machado de Assis)

A esse respeito, louve-se a atitude de Augusto Nunes: não faz tempo, ele notou, no Jornal do Brasil, que jamais, em tempo algum, os moradores dos estados banhados pelo São Francisco chamaram o rio de "Velho Chico". Mas é inevitável: o rio será sempre chamado de "Velho Chico" naquelas reportagens em geral publicadas nas chatíssimas edições dominicais dos nossos jornalões. Alguém já imaginou um morador "ribeirinho" dizendo: "Vou ali tomar um banho no Velho Chico. Volto já! ". Não. É inimaginável.

"Velho Chico" ? "Bruxo do Cosme Velho" ? Trocadilhinhos na TV ? Ah, não.
Rendo-me de uma vez por todas à crença de que não há remédio para a humanidade.

Primeiro, eu desconfiava. Olhava de soslaio para a espécie humana e ruminava: "São todos patéticos - inclusive eu, é claro".

Hoje, a desconfiança evoluiu para uma certeza pétrea, irremovível, irrevogável: tudo não passa de um circo sem sentido, somos todos ridiculamente patéticos, chamamos Machado de Assis de "Bruxo do Cosme Velho" e o Rio São Francisco de "Velho Chico" - e fica o dito pelo não dito. Nenhum raio cai sobre nossa cabeça, nenhuma bomba de hidrogêneo desaba sobre nossas carcaças para animar a festa.

É assim. Sempre foi. Mas, como contrapeso a esse infindável somatório de equívocos, fica o registro de que Luiza Brunet, com todo respeito, continua bonita. E gostosa.