Motivo: as Olimpíadas vêm aí. Com elas, duas desgraças que assolam nossos olhos e ouvidos de quatro em quatro anos: o festival de subliteratura que jorra dos vídeos e dos páginas em reportagens sobre "superação". Haja textinho pauperriminho descrevendo a saguinha de menininho pobrinho que andava cinquentinha quilômetros para treinar para a maratona. Como diria Jaqueline Kennedy ao recolher os miolos do marido estilhaçados pelas balas de Lee Oswald em Dallas: "Oh, no!".
O mais assustador : o espetáculo do nado sincronizado. Ah, Nossa Senhora do Espanho: o que é que faz seres bípedes, mamíferos, supostamente cerebrados, ficarem de cabeça para baixo dentro de uma piscina enquanto movem os pés sincronicamente diante dos olhos atônitos do planeta ?
Se crianças inocentes e desprevenidas pousarem os olhos na TV justamente neste momento, o que é que pensarão sobre a espécie humana ? Por que fazê-las carregar , pelo resto de seus dias, traumas de que jamais se livrarão ? Quantos mil reais os pais terão de gastar, depois, com psicólogos que serão convocados para a vã tarefa de trazê-las de volta à sanidade ? O prejuízo, para os cofres privados e também para os públicos, é "inestimável".
Os riscos a que se expõem os espectadores das competições de nado sincronizado são,portanto, gravíssimos.
Prefiro um bom filme do velho e infalível Fred Kruger.
É mais divertido.
E menos assustador.
Pior do que assistir a um espetáculo de nado sincronizado, só há uma cena : ver um jornalista pontificando sobre o que é que interessa e o que é que não interessa ao distinto público.
É triste mas é de matar de rir.
Eu mesmo dou dez voltas na tumba, a cada vez que testemunho uma cena dessas.
A vida pode ser engraçada. Quem disse que não ?