Confirmadíssimo: quem, por um terrível azar geográfico, termina morando ao lado de um professor (ou professora) de piano, jamais, jamais, jamais conseguirá ficar cem por cento contra a pena de morte.
É claro que a pena de morte é uma demonstração de barbárie, rechaçada pela maioria das nações ditas civilizadas.
Mas....é assim que séculos e séculos de civilização vão para o ralo:
basta que duas mãos invisíveis passem horas e horas e horas extraindo do teclado do piano aquela música que diz "Rio de Janeiro, gosto de você....", com floreios, variações, repetições infinitas. Não há quem resista!
É um fenômeno físico, uma questão de ação e reação: começo a admitir a possibilidade de que a pena de morte poderia, sim, ser aplicada em benefício da humanidade, não contra os professores (as), mas contra os pianos usados nas aulas!
Sem os pianos utilizados como mísseis sonoros para atormentar os vizinhos, os professores poderiam se dedicar a tarefas menos incômodas, como, por exemplo, latir baixinho.
Depois de ver meus tímpanos fatigados serem atacados durante horas a fio pela tormenta sonora, começo a delirar, febril:
vejo, claramente, uma força tarefa multinacional invadindo o prédio pelo elevador social, pela garagem, pelas portarias. Não, as falanges não planejam atacar ninguém. Querem apenas fazer um grande favor à humanidade: destruir com rajadas certeiras a fonte de todo infortúnio, o grande emissor de sons insuportáveis, o arauto de todas as repetições, sim, ele, o desgraçado do piano que, neste exato momento, agora, seis e meia da tarde de uma segunda-feira, ataca com variações da Marselhesa.
Ressuscitai, revolucionários da Bastilha! Vinde,urgente, em socorro de nossos tímpanos dilacerados!