Aviso à praça que entrarei em período de hibernação.
Credores, saiam do caminho. Terráqueos, respeitem meu silêncio.
Daqui a quatro meses, quando o Big Brother Brasil tiver terminado, me acordem, por favor.
Por ora, desacordado, estarei livre de ter os tímpanos maltratados pelos gritos de "uh! uh!", pronunciados por aquele aglomerado de sumidades que buscam o prêmio de um milhão de reais.
Uma dúvida embalará meu sono, durante o período de devoção absoluta ao Deus Ócio : um prêmio de um milhão de neurônios não seria mais útil para aqueles cérebros desabitados ?
Com um milhão de neurônios injetados em seus cérebros, os Big Brotheres poderiam, aí sim, fazer alguma coisa de útil à humanidade, aqui fora. Quem sabe, um dia amealhariam um milhão de reais.
Mas rendo-me à força avassaladora dos fatos. O mundo não é assim, oh boy.
Apago a luz, desligo a TV para sempre, desconecto-me.
É hora de recolhimento.
Caminho, cabisbaixo, em direção aos meus aposentos.
Enquanto movo meu aglomerado disforme de ossos,músculos e tédios em direção à cama, pronuncio grunhidos ininteligíveis. Nem eu consigo decifrá-los.
Jogar ao ar imprecações balbuciadas em tom de voz inaudível faz parte do show que há décadas enceno para um único e lastimável espectador : eu mesmo.
Nesta caminhada de vinte e cinco passos, minha única companhia é minha ingenuidade, que há séculos puxo por uma coleira imaginária.
Os dois - eu e minha triste ingenuidade - dormiremos, a partir de agora, um sono profundo, intocado pelos bigs, pelos brothers e pelo Brasil.
Não há felicidade maior.