18 de março de 2009

ETA, ETA, ETA ! É SANGUE DE... IBOPE


Leio no Globo que tentam ressuscitar o América Futebol Clube. Acho que não vai dar em nada. Com otimismo, é possível que a iniciativa chegue a alguma praia...
O América deve ter começado a morrer quando inventaram que era a segunda equipe de todo carioca. Ora, desde Nelson se sabe: a única segunda que dá ibope é a amante.

17 de março de 2009

ANTRO


Fosse só o túnel... O problema são os fantasmas.

15 de março de 2009

UM INFORME SOBRE O LIVRO "ELZA, A GAROTA". OU : O DIA EM QUE O LOCUTOR-QUE-VOS-FALA FEZ UM FAVOR À LITERATURA BRASILEIRA

Aos fatos: o editor Alberto Schprejer me procurou no ano passado porque queria fazer um convite. Que tal escrever um livro-reportagem sobre um caso que sempre foi tabu na história do Partido Comunista Brasileiro - o "justiçamento" de uma menina de dezesseis anos de idade chamada Elza, no já remotíssimo ano de 1936 ? Suspeita de traição, ela foi executada num rito sumário, por ordens da direção do Partido. Método: estrangulamento.

Não é um tema fácil, porque pode se prestar a todo tipo de manipulação ideológica. Elza é, literalmente, um esqueleto no armário da esquerda brasileira.

Diante do convite, o meu detector de matérias emitiu, na hora, um ruído característico que, discretamente, invade os meus tímpanos em situações semelhantes : um clique inconfundível, exatamente igual ao disparado por aqueles equipamentos que os técnicos usam para detectar sinais de radiação. Habemus matéria!

A pauta renderia, claro, uma bela reportagem, estritamente factual, sem qualquer contaminação ideológica.

(Sou repórter, não sou militante. Como personagem jornalístico, George Walker Bush me interessa tanto quanto - por exemplo - Vladimir Ílitch Uliánov, o popular Lênin. Eu daria tudo pela chance de entrevistar um ou outro, desde que Lênin fosse capaz de se levantar do velório que já dura oitenta e tantos anos no mausoléu da Praça Vermelha - e George Bush tivesse a idéia luminosa de me convidar para uma rodada de gravações exclusivas no rancho onde se enclausurou, no Texas. Os dois dariam excelente matéria-prima jornalística. Quem quiser fazer militância política que se inscreva num partido. Ponto. Parágrafo).

Ocupado com outros projetos, agradeci ao editor a lembrança do meu nome como possível autor do livro-reportagem. Entre uma e outra garfada num prato modernoso que, a bem da verdade, não deixou sinais de saudade no meu paladar, indiquei, informalmente, os nomes de dois jornalistas que poderiam dar conta da tarefa: Sérgio Rodrigues e Fernando Molica.

Não estou cometendo qualquer indiscrição ao citar esta cena (banal) dos bastidores da nossa paisagem editorial.

Sérgio Rodrigues levou adiante a empreitada.

É aí que a porca torce o rabo. Porque quero fazer uma confissão: ao recusar, por absoluta falta de tempo, o convite para fazer o livro-reportagem, terminei prestando, sem saber, um grande favor à literatura brasileira.

Neste momento, uma mão se ergue lá no fundo da sala: "Desembucha! O que foi que houve? Quer contar logo o que foi que aconteceu ?".

Quero: se eu tivesse feito o livro sobre Elza, teria produzido, apenas e tão somente, uma reportagem - ou uma série de entrevistas. É a única coisa que sei fazer. Um livro estritamente jornalístico sobre a garota Elza poderia, por sinal, ficar bom. Por que não ?

Mas Sérgio Rodrigues deu um passo adiante.

Diante da escassez de material jornalístico sobre o assunto, partiu para uma empreitada ousada: resolveu escrever um livro em que intercala o estritamente factual com páginas de ficção descarada.

Fez um golaço, porque a mistura entre fato e ficção foi felicíssima. Declaro, portanto, diante deste tribunal, que prestei um grande favor à literatura brasileira : ao recusar o convite para tocar o projeto, deixei, casualmente, o caminho "livre" para que um autor inspirado entrasse em cena e produzisse, a partir da história da garota Elza, uma mistura empolgante de ficção com verdade histórica, algo que eu jamais faria, por incapacidade técnica.

Dizei-nos, Paulo Coelho: a vida pode ou não pode ser uma miríade de acasos ?

O que interessa é que o livro "ELZA, A GAROTA", recém-lançado pela Editora Nova Fronteira, é arrebatador. Sérgio Rodrigues criou dois belos e apaixonantes personagens: Molina - um jornalista de quarenta e seis anos que já se deixara envenenar por uma mistura de "tédio e cansaço" - bate na porta de um apartamento de dois quartos, no bairro do Flamengo, à procura de um tal de Xerxes, um nonagenário que publicara um anúncio esquisito nas páginas de classificados de um jornal. Queria alguém que pudesse ajudá-lo a escrever suas memórias.

Um trecho:

"A primeira coisa que lhe chamou a atenção foi que o velho falava como se escrevesse, vírgulas e tudo. Tamanho poder de articulação era coisa de um outro tempo, e foi só então que a idade quase impossível do homem - noventa e quatro, estava no jornal - desabou na sala diante dele como um rochedo, um totem, uma pirâmide".

A partir daí, as 236 páginas passam voando.

Em uma frase: "ELZA, A GAROTA" é um dos melhores livros brasileiros lançados nos últimos tempos.

Feita esta declaração, o autor-que-foi-sem-nunca-ter-sido desliga o terminal de computador, apaga a luz, fecha a porta e, como na letra daquela música antiga de Paulinho da Viola, desaparece na "poeira das ruas", não sem antes recomendar aos navegantes : correi para as livrarias.

9 de março de 2009

ANTES DO FIM

Antonio Canova, Eros et Psyché, 1792

O MUSEU DE ARTE MODERNA DO RIO DECIDIU PRORROGAR ATÉ 22 DE MARÇO A EXPOSIÇÃO DO ARTISTA PLÁSTICO VIK MUNIZ. DIANTE DISSO, O SOPA DE TAMANCO RESOLVE PUBLICAR PÁGINA DO DIÁRIO DE VIAGEM DO PINTOR RONALDO DO REGO MACEDO. A IMAGEM QUE ILUSTRA O POST É SUGESTÃO DO PINTOR.



O que é o poder da mídia, a força do mercado nesses tempos de descaminho!

Estive no MAM, onde fui ver a exposição de Vik Muniz. O museu estava cheio como poucas vezes acontece; o público, encantado, excitado por identificar os detalhes das obras. Mas a exposição é tremendamente monótona, enfadonha mesmo. Uma grande hipérbole fotográfica, uma piada que se repete, que se repete, se repete.

A construção das imagens, a produção das cenas são explicadas em detalhes: aqui, um desenho do Drácula de chocolate serve de modelo; ao lado, uma Marilyn de diamantes é o modelo da foto. Tudo é simulacro: o real esvaziou-se de realidade, passou a ser editado fotograficamente. Hipereditado, no Cybachrome da Kodak. O real foi completamente excluído. Ao mesmo tempo, todas as imagens fotográficas são facilmente reconhecidas: uma catedral de Monet, sua Japonesa, a Medusa de Caravaggio, uma paisagem de Nova Iorque, outra do Rio, trabalhadores num lixão para dar o tom social, retratos de Liz Taylor, Frankenstein, Santo Antônio, essas coisas.

É uma exposição espetacular. E fácil. Rasa. Lisa como uma folha de plástico, onde o artista passa ao lugar de diretor de arte competentíssimo e estratégico. O público, que inclui escolares, adora. Senhoras distintas que conhecem Louvres, MOMAs e Beaubourgs deliram com fina discrição. Tudo é facilmente reconhecido, perversamente vazio, sem alma, perfeitamente pós-moderno.

Vale a pena. Se você, prezado leitor, ainda não viu, não perca. Corra; a exposição está nos últimos dias. Depois, você nunca mais vai precisar ver de novo. Nunca mais.