Se os artistas são as antenas da raça, os nossos artistas raramente produzem por cabo, que dirá sem fio.
O artista brasileiro tem medo das chamadas elites. Ignora as elites mesmo quando conquista o título de sócio.
Talvez a culpa seja da ditadura: falar de elite é ser percebido pela classe média como pertencer à direita.
Talvez a culpa seja dos artistas, se acreditam que tal percepção cai mal.
Donde que nossa biblioteca e nossa filmoteca sofrem de anorexia de classe. Tem gente que tenta, mas o brasileiro sabe que no atacado não pode contar com dramaturgos, romancistas e cineastas.
É incrível a falta de ficções sobre Brasília, como um "Grande sertão: veredas" do ângulo da bancada ruralista. Ou sobre a construção das emissoras de TV, como um "A estrela sobe" platinado. "A tragédia burguesa" de Vera Loyola. "O auto da compadecida" pedófilo. Qualquer coisa.
A elite tem ficado no plano da telenovela, quase monopólio.
Dizer que o público tem aversão não resolve o problema. O público não paga nada e ao mesmo tempo paga sem querer, no caso da renúncia fiscal. No caso da literatura, está o investimento a fundo perdido em livros que pouca gente lê. De maneira que a pobreza é a maior liberdade temática e mesmo estética que o artista brasileiro tem para ignorar o tema pobreza.