15 de julho de 2007

Chega de realce

No nosso querido Brasil, cultura é quase sempre caso de polícia.

Donde que o próximo titular da pasta deveria ser Orlando Zaccone, o tira hare-krishna de Nova Iguaçu.

'O que parece ficção --a convivência pacífica entre facções rivais do crime no Rio-- começa a ocorrer em uma carceragem de delegacia da Baixada Fluminense graças ao cinema, à música, à literatura e à poesia.
'Nos últimos quatro meses, quinzenalmente, a cadeia da 52ª Delegacia de Polícia, em Nova Iguaçu, tem se transformado no "Cine Clube 52ª", em que documentários, filmes e curtas-metragens são exibidos, seguidos de palestras e shows ao vivo, para cerca de 300 detentos à espera de julgamento.
'Os presos integram, em sua maioria, duas facções inimigas de morte em todo o Estado: o CV (Comando Vermelho) e o TC (Terceiro Comando).
'Eles se espremem em dois galpões de 70 m2. Tráfico e assalto a mão armada são os crimes mais freqüentes que os levaram até ali. Não há registro de rebeliões ou confrontos na delegacia neste ano.
'Embora as exibições de filmes sejam separadas nos dois galpões, as diferenças entre rivais vêm diminuindo e, em alguns casos, há até aproximações por conta das atividades.
'Situada em Nova Iguaçu, onde há pouco mais de dois anos 29 pessoas foram assassinadas na maior chacina da história do Rio, a revolução no cárcere é fruto de parceria entre o delegado-titular, Orlando Zaccone, e artistas como o músico Marcelo Yuka, o rapper BNegão, Tico Santa Cruz (vocalista dos Detonautas), além da Companhia do Cinema Barato.
'O projeto, chamado de "Carceragem-Cidadã", não se restringe ao cinema e aos debates. Na delegacia também foi criada uma biblioteca com ao menos mil livros. Ali é editado um jornal feito pelos presos, "O Sol Quadrado Também Brilha!". '


Línqui.