Entre os telejornais de hoje e os jornais de amanhã, a imprensa estará coalhada de personagens que ilustram pesquisa do IBGE.
A cada pesquisa do felizmente hiperativo instituto, brasileiras e brasileiros são convocados pelos jornalistas para que dêem um lado carbono às reportagens.
Mais dia, menos dia, se o nosso querido Brasil crescer de modo - já não se diz mais chinês ou indiano - peruano ou colombiano, nascerá uma nova assessoria de imprensa: a Agência de Representação de Brasileiros do IBGE.
Para azar da imprensa, porém, os clientes da agência tornar-se-ão inadimplentes.
Aí, por força contratual, via cláusula de multa, só terão uma resposta a todas as questões dos repórteres.
'Morador de uma aglomeração subnormal que não tem acesso a saneamento básico, eletricidade, asfalto etc., e vivendo com cerca de um sexto de salário mínimo com o qual sustenta todas as estatísticas de pobreza infantil do Brasil, o desempregado banguela José da Silva não quis dar entrevista, limitando-se a dizer:
- Pode botá aí: eu sou um personagem do IBGE.'
De tal impasse em diante, o desafio da imprensa será encontrar e retratar o brasileiro ideal.
Aquele que, de modo inexplicável, será a encarnação de todas as pesquisas do IBGE.