29 de agosto de 2007

A PELEJA DOS JORNALISTAS CONTRA OS TEXTOS: AH, RAÇA ESQUISITA....

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Jornalista é bicho esquisito. Quem duvidar deve fazer um teste. Sem chamar atenção, aproxime-se de um grupo de jornalistas o mais sorrateiramente possível, para observar um fenômeno curiosíssimo. É fácil identificá-los, pelos ruídos que emitem: latidos, trinados, uivos, rugidos e outros sons menos votados. Apure os ouvidos. Com toda certeza, um jornalista ( provavelmente, um editor) estará dizendo a outro ( provavelmente, um repórter) : "Pode fazer, mas curta ! Trinta linhas, no máximo!". Ou: "Nada além de um minuto e meio!".

Ou seja: cinquenta por cento dos jornalistas que exercem de verdade a profissão nas redações passam noventa por cento do tempo útil proibindo os outros de escrever. Parece que escrever é uma praga. Nenhum assunto seria digno de merecer mais do que um punhado de parágrafos mambembes. Devem achar que todos os leitores sofrem de alfabetofobia ( se a palavra não existe, acaba de ser parida). "Não se estenda !". "O espaço não vai dar!". "Ficou grande!" "Vou ter de cortar!" etc.etc.etc. Os outros cinquenta por cento dos jornalistas passam noventa por cento do tempo implorando por espaço e por tempo.

Parte-se da suposição de que a) ninguém pode escrever; b) ninguém quer ler.

Ah, racinha desgraçada....

Brigar contra o tamanho dos textos - ou o tempo de uma reportagem - passou a ser a ocupação principal desses bípedes esquisitos.

É como se os médicos passassem o dia dizendo uns aos outros: "Vou fazer uma cirurgia, mas tem de ser rápida! Nada de passar dez minutos operando ! "

Ou os engenheiros jogassem fora energia e neurônios discutindo coisas como "vamos fazer a ponte, mas, pelo amor de Deus, nada além de dois metros ! ".

Conclusão: não existe maior inimigo da escrita do que os jornalistas.
Se o Brasil fosse uma democracia, qualquer cidadão com idade superior a cinco anos deveria ter o direito de dar voz de prisão ao primeiro jornalista que aparecesse pela frente.

Eu estaria a esta hora na terceira cela à esquerda da ala norte da Penitenciária Agrícola de Itamaracá.